Ser organizada é um presente que dou para mim mesma e para as outras pessoas

Não sou organizada "naturalmente", mas faço o possível para ser a pessoa que gostaria de ver no mundo.

Angelica Baini / BuzzFeed

Eu acabei ganhando a reputação de uma pessoa muito organizada. Mas, provavelmente sou na verdade um pouco menos organizada do que meus amigos e colegas de trabalho pensam que eu sou. Acredito firmemente que a organização é um dos pontos pelos quais você é avaliado na vida, e ser 85% organizado é o suficiente para fazer todos pensarem que você está no nível 110%. Mas posso dizer com segurança que sim, sou bem organizada. Quando o metrô de Nova York não me sacaneia, chego nos meus compromissos na hora. Não sou alguém que cancela planos porque tem algo diferente para fazer do qual tinha esquecido completamente. Tenho um marca-texto e faço uso dele. Claro, eu não sei todas as minhas senhas porque, meu Deus, as regras das senhas são absurdas, mas sei como ter acesso a todas ela para evitar todo aquele lance de "Qual o nome do seu primeiro animal de estimação?" e assim por diante.

Agora, você pode estar pensando, "ótimo, outro Instagram perfeito e organizado com facilidade chegou para me envergonhar: eu, um desastre humano sem esperança!" Mas como meus professores do ensino fundamental podem confirmar, ser organizada na verdade não é uma qualidade com a qual eu nasci. Definitivamente não é fácil, embora o empenho tenha começado a parecer mais natural com o tempo. Mas é algo com o qual eu consigo me comprometer desde que comecei a enxergar a organização como um presente para mim mesma e para as pessoas com quem me importo.

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Como meus professores do ensino fundamental podem confirmar, ser organizada na verdade não é uma qualidade com a qual eu nasci.

Ser organizada pra mim é uma forma de cuidado pessoal. Cuidar de si não é só ir ao salão de beleza ou fazer massagem uma vez por mês, é algo que pode ser feito das formas mais variadas: colocar seus afazeres numa lista ou agendar o pagamento dos seus boletos para não perder a data podem ser formas de autocuidado. Porque, pense comigo: ter uma vida desorganizada, perder documentos importantes, se atrasar o tempo todo, se preocupar com dinheiro, não é exatamente divertido. É estressante. Claro, todos conhecemos aquela pessoa que caminha em passos leeeeeentos para e chega ao encontro com um atraso de 30 minutos e ainda assim não parece estar nem um pouco incomodada por (ou sequer ciente de) seu atraso. Mas se você é como eu, ser desorganizado faz com que você se sinta perturbada, ansiosa e/ou envergonhada. Então, descobri que ser organizada é uma maneira relativamente fácil de remover o estresse desnecessário da minha vida.

Muitas pessoas acham que são ocupadas demais e simplesmente não têm tempo para se organizar, mas... eu não tenho tempo para NÃO ser organizada! Prefiro levar 20 minutos para colocar minha vida em ordem agora do que gastar 45 minutos procurando pela minha receita de óculos, passar 10 minutos no telefone com meu oftalmologista e três dias esperando até conseguir encontrar meia hora disponível para ir buscar uma nova cópia. E se eu mantiver todas as minhas receitas no mesmo lugar, não precisarei fazer isso!

Além de prevenir que minha pressão arterial suba toda vez que eu perceber que precisarei do meu CPF para alguma coisa, vejo a organização como algo que posso fazer por outras pessoas. Quanto mais passa o tempo, mais entendo que minhas decisões pessoais e meu humor em geral têm um grande efeito sobre as pessoas ao meu redor. E quando eu perco compromissos importantes, seja pagar uma conta, me preparar para uma reunião ou chegar na hora na consulta, sinto a diferença.

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Angelica Baini / BuzzFeed

Todo mundo conhece, ou algumas vezes já foi, uma pessoa caótica. Você sabe exatamente de quem estou falando. Aquela pessoa para a qual a frase "vou fazer com certeza" é apenas uma força de expressão. Eles não ligam se disseram que iam retornar sua ligação. Eles levam três semanas para confirmar uma data para o passeio que eles sugeriram. Eles "acham que pode ser uma infecção" pelo menos meia dúzia de vezes ao ano. Eles disseram que fariam uma coisa que afetaria a ambos — reservar um voo, pagar uma conta, falar com o chefe sobre tirar aquele dia de folga — e depois, quando você pergunta: "ah, e aí, você fez aquilo?" eles mandam um texto enorme explicando porque não fizeram a coisa. Eles sempre têm muitas desculpas para agir assim, e essas desculpas, quando analisadas isoladamente, são sempre razoáveis (mais ou menos). Mas após um tempo, você percebe que é um padrão, e que isso deixa qualquer pessoa exausta.

À medida que envelheci, percebi que ser cronicamente, perpetuamente desorganizado envia uma mensagem para as pessoas que estão sempre recebendo as desculpas: "eu não dou valor ao seu tempo". "Tudo bem se eu te incomodar." "Eu não considerei realmente como isso poderia te afetar." "Suas necessidades não são uma prioridade para mim." Ser "avoado" desse jeito não é fofo, é desrespeitoso É claro que as pessoas não têm a intenção de serem desrespeitosas. (Na verdade, a maioria das pessoas desorganizadas que conheço está tentando agradar gente demais.) Mas a verdade é que ser íntimo de alguém que está sempre perdido requer uma quantidade enorme de trabalho emocional. Você precisa lembrá-los de, por favor, fazer aquela tarefa, você acaba tendo que fazer ajustes em sua própria programação para acomodar as mudanças de última hora, se preocupar por estar os incomodando, ter que dizer "está tudo bem" e "não se preocupe" toda vez que eles deixam a peteca cair, porque Deus o livre parecer uma garota fria e sem sentimentos.

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Ser íntimo de alguém que está sempre perdido requer uma quantidade enorme de trabalho emocional.

Quem quer ser íntimo e ou transar com alguém que faz você se sentir dessa forma? Eu não! Portanto, tento ser a pessoa organizada que gostaria de ver no mundo. Não quero que as pessoas que eu amo e com as quais me preocupo pensem em mim como uma tela do iPhone quebrada que de alguma forma ganhou senciência. Ser organizada é a minha maneira de dizer a eles: "eu valorizo você e seu tempo, reconheço que estamos juntos nisso e quero ser minha melhor versão pra você".

É claro, ajuda o fato de eu gostar de organização, ou pelo menos não odiar. Mas mesmo que eu odiasse — mesmo quando eu realmente odeio — faria mesmo assim. Nem sempre gosto de comer legumes, ficar na fila ou obedecer ao limite de velocidade. Mas faço essas coisas de qualquer forma porque entendo que de vez em quando precisarei fazer coisas que não gosto pelo bem maior, porque vivemos em uma sociedade.

Embora eu tenha a tendência a fazer o possível pra chegar na hora, seja (um pouco) arrumada, mantenha uma lista de afazeres e considere tudo isso coisas objetivamente boas, sempre há alguém pronto para me lembrar de não ser "tão" organizada. Mulheres organizadas normalmente são retratadas na cultura pop como, na melhor das hipóteses, perdedoras, e na pior das hipóteses, nervosas, controladoras. E para cada mulher com uma despensa perfeita a nível de Pinterest, há um novo meme de mãe desastrada bebendo vinho. Ser organizada não é exatamente descolado. Demonstra que você é CERTINHA, a coisa menos legal que existe.

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Rachel Miller / Sarah Smith / Dot Journaling — A Practical Guide / Via amazon.com

Mas, meu Deus, prefiro ser calma do que descolada. E se realmente parar para pensar nisso, é raro ver uma pessoa desorganizada e pensar: "uau, ela é tão legal". Ser perturbado é basicamente o oposto de ser descolado.

Para ser mais clara, não estou dizendo que para ser um bom amigo, você deva transferir todos os seus ingredientes de cozimento para recipientes de plástico transparente com rótulos perfeitamente impressos, ou que você é um idiota se não usar a classificação decimal de Dewey para organizar sua estante. Olha só: eu me embaralho com datas, esqueço de responder a e-mails e, ocasionalmente, coloco as coisas no lugar errado. Durante vários meses, a gaveta da minha mesa continha uma xícara de bolachas derrubada que eu não estava afim de arrumar. Todo mundo tem uma definição diferente de "organizado" e ocupa um lugar diferente naquele espectro, geralmente por razões muito específicas e pessoais (algumas das quais são menos sobre escolha e mais sobre circunstância). E pode ser que a organização não seja uma forma de cuidado pessoal para você. Seu presente para si próprio pode ser dar um tempo por alguns dias e ignorar sua lista de afazeres e planos cuidadosamente estabelecidos. Só estou dizendo que fazer um esforço constante e de boa vontade para ser organizado em algumas áreas que parecem significativas e que valem a pena para você pode ter um grande impacto em como você se sente e em como faz os outros se sentirem.

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Ser organizada é a minha maneira de dizer a eles: "eu valorizo você e seu tempo, reconheço que estamos juntos nisso e quero ser minha melhor versão pra você".

Caso não saiba direito por onde começar, pode fazer o que eu fiz: comece com as coisas que mais te estressam, constrangem ou deixam com sensação de culpa, ou com as coisas pelas quais você sempre se encontra pedindo desculpas. Essas são as coisas que provavelmente terão o maior retorno do investimento, e ter sucesso nisso pode dar a confiança e motivação para você enfrentar alguns outros desafios. Ou talvez não, porque esses um ou dois pontos eram tudo que você precisava se atentar! Seja lá o que for, a vida é sua!

Não existe um sistema perfeito ou um aplicativo mágico que de repente o torne uma pessoa organizada "facilmente". Mas o esforço envolvido, na verdade, eu acredito, é meio que o ponto principal. Não é fácil. Isso é o que faz parecer especial, bom e faz valer a pena. Ser organizado é um presente, e é um que você realmente merece. 🗓

Rachel Miller é editora sênior de estilo de vida no BuzzFeed e é a autora de "Dot Journaling―A Practical Guide: How to Start and Keep the Planner, To-Do List, and Diary That’ll Actually Help You Get Your Life Together" ("Diário de pontos ― um guia prático: como iniciar e manter o planejador, a lista de afazeres e o diário que realmente irá ajudá-lo a ser organizado", em tradução livre).

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A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Susana Cristalli.

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