Samsung ainda não sabe o que causou as explosões do Galaxy Note 7

Pode levar meses até que a gigante coreana dos eletrônicos tenha uma resposta.

Kim Kyung-hoon / Reuters

Homem veste fantasia do Samsung Galaxy Note 7 em Kawasaki, Japão, depois de um desfile de Dia das Bruxas, em 30 de outubro de 2016.

Já são seis semanas desde que a Samsung começou a recolher alguns aparelhos do seu tão aclamado Galaxy Note 7 e três semanas desde que as vendas do produto foram completamente interrompidas. A empresa ainda não sabe exatamente o que está fazendo os aparelhos pegarem fogo. Para a gigante coreana dos eletrônicos, é um desastre total. A empresa pode perder 17 bilhões de dólares de sua receita.

Um relatório oficial do acidente que a Samsung apresentou para a Agência Coreana de Tecnologia, obtido pelo BuzzFeed News, confirma que a empresa ainda não sabe o que causou os problemas na bateria do Note 7 em 35 casos ao redor do mundo.

De acordo com o documento, mesmo com um diagnóstico inicial de "erros marginais" durante o processo de fabricação da bateria, ainda não está claro se essa é a causa por trás de todos os incidentes. A Samsung confirmou que o relatório é autêntico, mas se recusou a comentar sobre a investigação em andamento.

Em outras palavras, uma das 20 empresas mais ricas do mundo, um conglomerado que vale meio trilhão de dólares, não consegue identificar o que está fazendo um dos seus principais produtos fazer pegar fogo. Mesmo que a Samsung esteja muito bem em aspectos financeiros e de imagem, parece que levará meses até que a empresa tenha uma explicação – e possa garantir aos seus clientes que os próximos aparelhos não terão o mesmo problema.

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"Se eu fosse a Samsung, recolheria todos os aparelhos imediatamente. Porque eles é que têm as melhores pistas."

Nada disso é surpresa para Glen Stevick, engenheiro mecânico, analista de falhas e fundador da Berkeley Engeneering and Research, que estudou dezenas de casos de incêndio com íons de lítio. Stevick disse que chegar a uma conclusão em um processo de recolhimento de produtos como esse leva tempo – de seis meses a um ano "para poder saber tudo".

Isso acontece, de acordo com Stevick, porque se trata de um episódio em escala mundial e porque nada acontece em apenas um laboratório. Antes que os engenheiros da Samsung possam começar a analisar os celulares e suas explosões, a empresa precisa recolhê-los. "Se eu fosse a Samsung, recolheria todos os aparelhos imediatamente", diz Stevick. Porque eles é que têm as melhores pistas."

Isso significa não só os 35 aparelhos que pegaram fogo, mas centenas de outros Note 7 em diversos estágios de uso. "Somente então", diz Stevick, "será possível fragmentar as baterias e colocá-las em um microscópio de elétrons. Gradualmente, os problemas irão aparecer".

O que a equipe de análise de falhas da Samsung deve procurar, de acordo com Stevick, são dendritos: fibras microscópicas de lítio que podem crescer – como uma videira – do ânodo (polo negativo da bateria), para o cátodo (polo positivo). Quando os dois polos se conectam, há um curto-circuito e chances de incêndio.

Os dois maiores culpados por trás desse crescimento descontrolado de dendritos estão correlacionados às características que os consumidores desejam: melhor duração da bateria e carregamento mais rápido. Mas não basta só culpar um ou outro. Talvez os dois sejam o problema. Talvez o separador de eletrólitos -- que mantém a distância entre o ânodo e o cátodo – seja fino demais e fácil de ser ultrapassado pelos dendritos de lítio. Ou, talvez, o modelo da capa da bateria deixe-a comprimida demais, novamente permitindo que os dois polos entrem em contato.

Talvez, ainda, como a Samsung alegou previamente, foram erros de produção. Coisas que podem ter acontecido, de acordo com Stevick, porque alguém deixou a porta aberta em uma sala limpa, permitindo que entrasse poeira, levando a um curto circuito. Talvez tenha sido um erro único, que afetou apenas uma quantidade restrita de baterias. Ou talvez não.

Para descartar todas as potenciais causas e suas substituições, é preciso tempo. E levantar essas questões e prová-las é um grande desafio, de acordo com Stevick. Um desafio que pode implicar na análise cuidadosa de centenas de aparelhos.

Colaborou Jihye Lee.

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