Inconsistências nas contas de Ricardo Salles vão desde gastos de campanha até declaração de patrimônio

Além a variação de patrimônio ao longo do tempo, chama atenção uma das empresas que mais recebeu da campanha eleitoral.

Publicado por Deinha Mendes e Dr. Pândego

A Folha de S.Paulo noticiou um pedido, por parte de procuradoria eleitoral, de reprovação das contas do deputado Ricardo Salles, ex-Ministro do Meio Ambiente na gestão Jair Bolsonaro.

Mas o que Salles terá feito de tão errado assim para estar sujeito a tanto?

Foto: Joédson Alves/EPA

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Pouco mais de um ano antes da morte de Dom Phillips e de Bruno Araújo na região amazônica, outro jornalista britânico e correspondente do The Guardian reportava internacionalmente buscas e apreensões inclusive na casa de Salles.

A ação, que culminou com a exoneração de Salles do Ministério do Meio Ambiente de Bolsonaro, estava relacionada com um escândalo de exportação ilegal de madeira da Amazônia. Mas a exoneração somente aconteceu em 23 de junho de 2021, supostamente a pedido de Salles.

Reprodução Diário Oficial da União

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O escândalo foi enorme. Segundo vários veículos da imprensa, a investigação teve início com documentos fornecidos pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil a partir de operação de apreensão de containers com produtos florestais brasileiros sem documentação em porto do Estado da Geórgia, EUA.

A decisão do Ministro Moraes está acessível aqui.

Reprodução Migalhas

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Mas Salles não saiu imediatamente do governo Bolsonaro. Não saiu mesmo. 😱 Indicado pela INFRAERO, Salles manteve o cargo de Presidente do Conselho de Administração da Inframérica, Concessionária do Aeroporto de Brasília S/A até 25 de novembro de 2021.

A Inframérica de Brasília é empresa que tem apoio do BNDES, conforme sua própria página na Internet diz.

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Seu Conselho de Administração é composto, entre os outros integrantes, por um indicado pela Infraero, que era Salles.

Mas de onde veio Salles, afinal? Entre 2006 e 2018, antes de se tornar Ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, ele foi candidato a cargos eletivos 4 vezes, concorrendo como Deputado Federal, Estadual e até vereador, e perdendo todas as eleições.

Reprodução TSE

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Já mudou de partido várias vezes. Somente em campanhas eleitorais, foram 5 partidos diferentes.

Reprodução TSE

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Em sua primeira campanha eleitoral pelo PFL para uma vaga de Deputado Federal em 2006, Salles declarou ao TSE que tinha 219 mil reais de patrimônio, quase a metade representada por 50% de um apartamento.

Reprodução TSE

Longe de ser um imóvel de alto luxo, como a mansão em que Salles mora atualmente, o apartamento que representava o maior valor de seu patrimônio está localizado em um bairro da Zona Sul de São Paulo e, atualmente, tem um valor de mercado aproximado de 800 mil reais.

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Quatro anos depois, em 2010, seu patrimônio já tinha crescido mais de 10 vezes. Apenas um dos apartamentos em São Paulo foi declarado pelo valor de 1.100.000 reais.

Reprodução TSE

De 2010 para 2012 houve uma mudança de estado civil, de casado para divorciado, além da mudança de partido, do DEM para o PSDB.

Reprodução TSE

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Houve também mudança no patrimônio, que diminuiu cerca de 700 mil reais em 2 anos. Por outro lado, reciclou os carros mais antigos e a moto.

Reprodução TSE

Naquela eleição de 2012 ele renunciou à candidatura.

Reprodução TSE

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Entre 2013 e 2017, Salles esteve vinculado ao Governo do Estado de São Paulo. Assumiu, inclusive, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado e não disputou qualquer cargo em 2016.

Reprodução CETESB

Naquele período ele concorreu à diretoria do Clube Paulistano, um clube da alta sociedade paulistana. Não foi eleito e, para ter concorrido, naturalmente precisava ser sócio.

Reprodução Clube Paulistano

Documento aqui

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Em 2015 e 2016 um título do Clube Paulistano custava uma pequena fortuna, não só pelo valor do título em si, de 18 mil reais para um título patrimonial, mas pelo valor da entrada, de 500 mil reais, fora as taxas de manutenção. Não está claro quando ele comprou o título e se o vendeu antes das candidaturas de 2018 e 2022.

Reprodução Clube Paulistano

Documento aqui

Em 2018 esta foi a declaração de bens de Salles, com valor de quase 9 milhões de reais - quase 7.5 milhões a mais do que o declarado em 2012. Entre os ítens declarados, um barco de 500.000 reais e dois apartamentos de 3 milhões reais cada.

Reprodução TSE

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Foi somente após sua passagem de 2 anos e meio pelo Governo Bolsonaro que Salles concorreu mais uma vez a cargo eletivo, vencendo em 2022 para tomar posse em 2023 como Deputado Federal. Seu patrimônio, declarado ao TSE, desceu, no registro, para quase 4 milhões.

Reprodução TSE

Mas a casa de Salles, declarada ao TSE por 3.150.000 reais, tem valor de mercado 5 vezes maior, de acordo com matéria publicada pela Revista Fórum.

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Salles foi eleito em 2022, apesar de ser réu em DUAS ações de improbidade administrativa por violação a princípios administrativos, e UMA ação civil pública por danos aos cofres públicos, tudo em São Paulo.  A ação civil pública, ainda não decidida segundo o site do Tribunal de Justiça de São Paulo, seria porque ele mandou derrubar e sumir com um busto em homenagem a Carlos Lamarca em 2017. Já uma outra ação seria dele contra Ciro Gomes por causa de uma entrevista no Flow.

Já houve uma decisão, ainda sujeita a recurso, na primeira ação de improbidade. A decisão inclusive comenta o depoimento de Salles, em juízo, que menciona uma reunião com a FIESP, que também foi processada junto com o Salles.

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E, em dezembro de 2018, Salles e a FIESP foram condenados... 

O Tribunal de Justiça de São Paulo terminou descondenando ambos, mas ainda há um recurso para o Superior Tribunal de Justiça. Foi antes da mudança da lei de improbidade, o que aconteceu em outubro de 2021. 

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O primeiro turno nem tinha acontecido em 2022 quando o gasto com a gráfica acima foi registrado. No total, Salles gastou quase 2.4 milhões de reais na campanha. E na gráfica, que já tinha sido identificada, foram mais 82 mil reais (valor arredondado para baixo).

Reprodução TSE

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E ele gastou muito mais em impulsionamento de conteúdo. E 28,47% foram repassados a outros candidatos, sobrando para a campanha dele 1.861.575,17 reais.

Reprodução TSE

Mas tem mais. Um dos fornecedores de campanha de Salles foi uma Eireli Empresa Individual de Responsabilidade Limitada) cujo endereço na Receita seria Curitiba, PR.

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E vejam quem elogiou o CEO da empresa no LinkedIn. Com nome, sobrenome e foto.

Reprodução Linkedin

Vamos tentar entender algo aqui. Salles gastou 250 mil reais com um fornecedor de impulsionamento de conteúdo elogiado por Allan dos Santos em rede social aberta. Alguém mais usou o mesmo fornecedor?

Reprodução TSE

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Um case de sucesso, a empresa foi criada em março de 2020, ali quando a pandemia chegou ao Brasil e, de um lado, autoridades de saúde imploravam para as pessoas ficarem em casa e usarem máscara, do outro, bem, a gente sabe...

E até olhamos no Google se havia foto do local onde estaria a empresa que recebeu, de 9 candidatos bolsonaristas, 692 mil reais na campanha de 2022. Foto de 2019.

Reprodução Google Maps

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É inclusive o mesmo endereço de uma empresa que não tem nada a ver com o serviço que foi prestado, de impulsionamento de conteúdo. Ali também funcionaria, com outros sócios, uma empresa de construção de barragens e represas para geração de energia elétrica... Parte do e-mail foi mantida por um motivo simples.

É o mesmo e-mail da empresa de impulsionamento de conteúdo do Jefferson. Seria o endereço de e-mail e físico de contador(a) ou alguém mais que presta um serviço para ambas as empresas e seus respectivos sócios?

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Antes do Salles e Cia., a empresa já tinha trabalhado em campanha eleitoral, mais especificamente nas campanhas para prefeitos e vereadores de 2020.

Mas, na verdade, o sócio da empresa já tinha atuado até nas campanhas de 2016 e de 2018 principalmente para candidatos do Partido Novo, que foi o penúltimo partido do Salles,  e até para o Deputado Orleans e Bragança, mas sob outro CNPJ, de Microeemprendedor.

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Para finalizar, quem custeou a campanha do Salles? Foi, em grande parte, o contribuinte, via fundos públicos aportados ao Partido Liberal, além de grandes empresários, inclusive um ex-membro do governo Bolsonaro e um representante da indústria do álcool.

Salim Mattar, aliás, que é um dos sócios de grande empresa de locação de automóveis, beneficiada pela Portaria do Ministério de Paulo Guedes que zerou tributos federais em junho de 2021. Falamos do assunto inclusive aqui

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