Relator do processo de Bolsonaro muda de ideia e abandona posto

Wellington Roberto (PR-PB) não quis relatar, no Conselho de Ética da Câmara, caso em que deputado do Rio homenageou coronel torturador.

Escolhido nesta quarta (6) para ser relator do processo contra Jair Bolsonaro (PSC-RJ) no Conselho de Ética da Câmara, o deputado Wellington Roberto (PR-PB) não quis ocupar o posto. O relator tem o poder de decidir se o caso vai ou não a diante.

O caso envolve o discurso de Bolsonaro durante a votação do impeachment, quando dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou um dos principais centros de tortura durante a ditadura militar.

Lucio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados

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Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, Wellington Roberto (debruçado sobre a mesa, na foto acima) havia falado na semana passada que é contra a cassação de Bolsonaro. Ele disse que aceitaria a função de relator mas, nesta manhã, afirmou à redação que mudou de ideia. O deputado alega estar atarefado com outras relatorias na Câmara dos Deputados.

O Conselho de Ética havia sorteado três nomes. Além de Wellington Roberto, dois nomes do PT – José Geraldo (PA) e Valmir Prascidelli (SP) – também poderiam ser indicados.

Mas como o PT e Bolsonaro vivem se confrontando, outro integrante da comissão, deputado Laerte Bessa (PR-DF), defendeu que os petistas sejam colocados sob suspeição – ou seja, que não possam ser relatores porque não seriam imparciais. Ainda não existe uma data para a definição de um novo relator.

"Eu não sou a favor do radicalismo. Aquilo que Bolsonaro falou é uma afronta, mas ele não participou dessa tortura. Não acho que isso possa ser motivo de cassação. Quem é que pode mudar a personalidade das pessoas?", disse Wellington Roberto ao BuzzFeed Brasil.

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"Perderam em 64, perderam agora em 2016", disse Bolsonaro ao votar pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. E finalizou: "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff". Para o PV, que entrou com o pedido de cassação do mandato de Bolsonaro, o deputado fez apologia à tortura e ao regime militar.

Ustra, o homenageado por Bolsonaro, morreu em outubro do ano passado. Em São Paulo, era processado pelo sequestro e ocultação de cadáver de dois presos políticos. Ele também foi declarado torturador pela Justiça paulista.

Wilson Dias/ Agência Brasil

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No relatório da Comissão Nacional da Verdade, o coronel é responsabilizado por comandar a tortura e a violência de Estado no DOI-Codi durante o regime militar (1964-1985).

Bolsonaro já também foi acusado, no STF (Supremo Tribunal Federal), por incitação à violência. Dirirgindo-se à deputada Maria do Rosário (PT-RS), ele disse: "Jamais estupraria você porque você não merece".

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O caso ocorreu em 2003, nas dependências da Câmara, e Bolsonaro empurrou e chamou a deputada de "vagabunda". Em 2014, em entrevista ao jornal Zero Hora, Bolsonaro afirmou: "Ela não merece (ser estuprada) porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia. Não faz meu gênero. Jamais a estupraria". Para o Supremo Tribunal Federal, o deputado não pode fazer uso da imunidade parlamentar nessa situação.

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