Quem é a primeira atleta trans a competir em uma Olimpíada?

Conheça a jornada da atleta Laurel Hubbard e os seus desafios.

BuzzShe

A experiência de pessoas LGBTQIA+ com o esporte sempre esbarra no preconceito e na exclusão.

Seja pelo bullying sofrido nas escolas, durante as experiências da adolescência ou ainda pela exposição a ofensas e gritos de torcidas homofóbicas nos estádios, a maioria das modalidades esportivas ainda fecham as suas portas para a diversidade.

Quando o assunto é a participação de atletas transexuais, o processo de inclusão na maioria das equipes, dirigentes ou torcedores, é ainda mais problemático e gera opiniões bastante distintas.

Reprodução | Laurel Hubbard

Muitos são contra, outros são a favor, mas poucos realmente têm a mínima noção dos estudos científicos que qualificam a integração da população trans em competições esportivas. Por isso hoje me dediquei a apresentar parte da trajetória da primeira mulher trans que irá disputar uma olimpíada durante os Jogos Olímpicos de Tóquio. 

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Nascida e criada na Nova Zelândia, Laurel Hubbard é uma Levantadora de Peso que começou a competir desde antes da sua transição de gênero.

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Em 1998 ela estabeleceu um recorde nacional levantando mais de 300 kg na classe júnior, mas abandonou os esportes anos depois devido a pressão que sentia por parte da sua equipe e da sociedade.

Hubbard disse em entrevistas concedidas ao "Radio New Zealand", em 2017, que começou a praticar um esporte arquetipicamente masculino, como o levantamento de peso, em uma tentativa de se sentir mais aceita e respeitada diante os preconceitos que sofria na sua adolescência, mas infelizmente não foi esse o caso. Ter se inserido nos esportes a tornou ainda mais vulnerável, porém foi um grande incentivo para iniciar o seu processo de transição e aceitação. 

Foi então após este processo de afastamento dos esportes, que ela iniciou sua transição de gênero em 2012, quando as regras sobre atletas transgêneros em competições ainda não tinham mudado e não havia abertura para participação de em equipes femininas.

O Comitê Olímpico Internacional baixou uma recomendação apenas em novembro de 2015, que definia que atletas que se identificam como mulheres podiam competir na categoria feminina, desde que seu nível total de testosterona no soro seja mantido abaixo de 10 nanomoles por litro por pelo menos 12 meses antes de competições. No entanto, é importante ressaltar que essa definição não é uma regra pois esse comitê conhecido como COI, não pode definir ordens para as federações internacionais de esporte, apenas recomendações, onde as federações têm então total autonomia para deliberar a inclusão ou não participação de pessoas trans em suas equipes. 

Assim, em 2017 a Laurel  Hubbard alcançou destaque  nacional e estabeleceu um recorde da Oceania de 113kg competindo com outras mulheres nos Jogos da Ilha do Norte.

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Ela conquistou a medalha de ouro no campeonato australiano e se classificou para o Campeonato Mundial de Levantamento, gerando grande repercussão negativa na imprensa internacional por acreditarem que ela possui vantagens físicas diante outras competidoras. 

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Diante de inúmeras pressões externas e sobretudo por parte da mídia, a esportista trans Hubbard sofreu uma grave lesão no cotovelo nos Jogos Gold Coast de 2018 e precisou se aposentar temporariamente.

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Entre idas e vindas, a Comissão de Direitos Humanos da Nova Zelândia (HRCNZ) decidiu que a seleção e participação da atleta em competições eram legítimas e assim após se recuperar do acidente que sofreu, ela retornou e ganhou a medalha de ouro dos Jogos do Pacífico 2019 em Apia com um levantamento total de 268kg na categoria feminina.

Foi então, em 21 de junho de 2021, que o Comitê Olímpico da Nova Zelândia confirmou que Hubbard havia sido selecionada para a equipe olímpica para competir na categoria feminina de 87 quilos nas Olimpíadas de Tóquio. 

Conhecer parte da história da Laurel nos proporciona uma oportunidade única de compreender os inúmeros desafios que a levou até os jogos olímpicos, além de dar oportunidade para outras pessoas LGBTQIA+ de se verem representadas nos esportes. E ainda que muitos sejam contra a nossa inclusão é importante ressaltar que a nossa participação nos jogos olímpicos é extremamente justa e parte de um processo de reparação histórica, pois pessoas transexuais não estão fazendo a transição de gênero para obter vantagens sociais, mas só querem ter garantido o direito de praticar esportes após mais de 2.500 anos de negação da nossa potência. E como a atleta Hubbard mesmo disse: "Não estou aqui para mudar o mundo. Só quero ser eu mesma e fazer o que faço."

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