Por que sua boy band branca favorita é cópia dos grupos negros de R&B?

Ou sobre como jovens negros impactaram a indústria e a cultura pop sem ganhar a fama e os créditos.

“Boy band” é o nome genérico dado àqueles grupos vocais que todo mundo conhece, formados apenas por adolescentes ou homens no início da idade adulta.

Foto Jeff Kravitz | New Edition no final dos anos 1980.

Dos anos 1960 pra cá, as boy band já tiveram vários formatos, embora esse termo só tenha sido criado nos anos 1990.

Em 1978, foi criado o grupo que deu base ao formato das boy bands das 2 décadas seguintes: New Edition. Cinco garotos negros de Boston que cantavam R&B, dançavam e andavam sempre atualizados nas tendências da moda da comunidade negra. Atingiram o sucesso em 1983, com o álbum Candy Girl.

Em 1986, surge New Kids On The Block. O “New” no começo do nome não é coincidência.

Foto de Lary Busacca | New Kids On The Block, criado para ser a contraparte branca do New Edition.

O grupo foi montado para ser a contraparte branca do grupo New Edition, seguindo exatamente o mesmo formato, gênero musical e outros aspectos da fórmula. O sucesso foi mundial.

Já em 1991, é lançado “Cooleyhighharmony”, disco que alça o grupo Boyz II Men ao estrelato. Quatro jovens negros com desempenho vocal fora do comum, harmonizações da velha escola da música negra e uma imagem bem equilibrada.

Não abraçavam nem a postura totalmente rueira e nem a postura elegante dos antigos grupos de Soul. Se equilibravam no meio-termo: jovens bonzinhos, mas descolados. Estudiosos, mas que sabiam dançar. Surge aí uma renovação não só no R&B, mas em toda a forma de se construir uma boy band.

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Seguindo esses moldes estéticos, harmonias vocais e posturas, empresários e gravadoras começam a fabricar uma série de cópias brancas do Boyz II Men.

Foto FilmMagic | Boyz II Men, o grupo que criou a fórmula das boy bands nos anos 90.

Backstreet Boys, NSync, Westlife, 5ive… Todos esses grupos foram criados para levar a fórmula do Boyz II Men e outros grupos de R&B a um patamar onde esses artistas negros nunca chegaram: o da música Pop.

Artistas negros são sempre colocado no gueto da “música urbana”. Poucos conseguem atravessar a fronteira para a música Pop, a primeira divisão da indústria.

Foto Ilpo Musto | Uma das mais famosas cópias dos grupos de R&B dos anos 90, NSync.

Mas grupos brancos não tem fronteira para atravessar. Eles se formam e aterrissam diretamente no terreno do Pop, com investimentos e apoio midiático muito maiores. As grandes revistas adolescentes não faziam pôsteres dos artistas negros.

Com o sucesso mundial de suas cópias brancas, Boyz II Men e outros grupos negros, verdadeiros criadores do estilo, entraram em declínio de vendas e popularidade. A história se repete até hoje. Em 2021, ainda vemos protestos e boicotes de grandes artistas negros a prêmios, como o Grammy Awards, que insistem em não colocá-los no patamar da música Pop.

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Conheça (e ouça!) alguns dos grupos originais:

Reprodução | O grupo 112.

  • New Edition
  • Boyz II Men
  • Dru Hill
  • Guy
  • 112
  • Another Bad Creation

Texto de Jun Alcantara

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