Por que o episódio especial de Euphoria foi tão importante

Não foi o episódio que queríamos, mas foi o que precisávamos.

BuzzShe

ATENÇÃO: Além de spoilers, esse post comenta sobre assuntos sensíveis discutidos no episódio "Trouble Don't Last Always" da série.

Capa do episódio, foto borrada da Rue deitada
Capa do episódio, foto borrada da Rue deitada

HBO

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Depois de mais de um ano sem episódios novos de "Euphoria" da HBO, foi lançado nessa semana o episódio especial – que foi enfatizado muitas vezes que não seria parte da segunda temporada, apenas um de dois episódios especiais entre as temporadas. A série, criada por Sam Levinson, acompanha Rue, uma adolescente que acabou de sair de uma clínica de reabilitação por abuso de drogas, e conta sobre algumas pessoas por perto dela, como Jules, seu interesse romântico, alguns colegas da escola, sua família. Em resumo, no último capítulo da primeira temporada, ficou o suspense de Jules indo embora, Rue ficando para trás na plataforma do trem e o que poderia ter sido uma overdose, a morte ou apenas uma viagem de Rue.

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O que todo mundo esperava desse episódio eram as maquiagens premiadas, novas informações sobre o relacionamento de Rue e Jules e também sobre os outros personagens da série. tipo uma atualização pós-creditos do que aconteceu. Ao invés disso, o episódio foi sobre as consequências do que aconteceu na primeira temporada com Rue, e tudo fluiu como uma sessão bem profunda de terapia, falando sobre relacionamento, religião, sentido da vida e vício.

Jules e Rue deitadas na cama
Jules e Rue deitadas na cama

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Em primeiro lugar, é importante saber quem é a protagonista desse episódio: Rue Bennet. Ela é uma adolescente de uma cidadezinha suburbana nos Estados Unidos, negra, LGBTI+ (que não se intitula durante a série), que tem uma série de problemas de saúde mental desde criança, entre ansiedade, depressão e mania. Foi medicada desde cedo e no início da sua adolescência perdeu o pai, e desde lá tem estado "fora dos trilhos". Dentro de casa obviamente causou grandes problemas, mas fora de casa, com os outros adolescentes com quem ela convive, não parece ser um problema real, é apenas mais uma adolescente que curte drogas. E aí que está a importância do episódio: a conversa que ela tem com Ali, um homem de 54 anos que já viveu uma vida parecida com a de Rue, e que pode dar o apoio emocional que ela precisa.

Ali e Rue no restaurante, Ali falando: "Escute, pirralhinha, você tem 17 anos. Você não sabe porra nenhuma."
Ali e Rue no restaurante, Ali falando: "Escute, pirralhinha, você tem 17 anos. Você não sabe porra nenhuma."

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No começo da conversa, Rue já chega com um discurso pronto para Ali, o tipo de discurso que se faz quando não quer ouvir um sermão: a vida está boa, estou em equilíbrio, o que passou já passou, o que está por vir é o melhor. E para a felicidade de todos – menos de Rue –, Ali já corta o papo furado dela e a colocou no lugar dela. Isso é uma grande questão para os jovens, principalmente hoje em dia. Nós da Geração Z odiamos ouvir os adultos nos falando que ainda não sabemos nada, que ainda não vivemos nem metade das nossas vidas, que devemos ser pacientes. E o pior é ter que admitir que isso tudo isso é verdade. Esse primeiro sermão de Ali traz de volta a perspectiva que Rue ainda nem saiu do Ensino Médio da escola. Claro, ela tem problemas reais e bem sérios, mas ela ainda tem o resto da vida pela frente. Essa é uma visão que adolescentes têm dificuldade de acessar: a vida está só começando. Jules é só o primeiro amor de Rue, ela ainda não deixou nenhum legado em seu nome, nem descobriu suas paixões de verdade, ainda não participou de nenhuma revolução. Mas, quando somos adolescentes, tudo é tão à flor da pele que esquecemos que, na verdade, não é tudo isso. Rue vai se apaixonar de novo, e vai sentir outras coisas reais além do que sente quando usa drogas ou quando está com Jules.

Ali falando: "As drogas mudam quem você é como pessoa."
Ali falando: "As drogas mudam quem você é como pessoa."

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E aí entra a senhora mais fofa que essa série já mostrou, Miss Marsha. Depois de Rue expressar tanta raiva contra Deus, de ouvirmos um sermão mostrando que até as revoluções hoje perderam sentido, e de vermos como Ali perdeu o acesso à sua família, Ali chama Miss Marsha para algumas palavras de esperança. É uma senhora que conta que está há 17 anos limpa – basicamente o tempo que Rue está viva. Ela conta que não foi um processo fácil, que teve que abrir mão de relacionamentos e que percebeu que nem tudo o que é bom vai nos fazer bem. Mas, acima de tudo, a mensagem que ela quer passar é que as dificuldades não duram para sempre. As coisas passam, a vida acontece, passamos por trancos e barrancos, mas nada fica, tudo é passageiro.

Miss Marsha falando: "As dificuldades não duram para sempre."
Miss Marsha falando: "As dificuldades não duram para sempre."

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E por isso esse foi o nome do episódio. Rue teve uma recaída, perdeu seu amor, brigou com a família, perdeu amigos, mentiu para todos e para si mesma, está confusa e não vê sentido em viver. Mas isso é um momento. E essa mensagem bate forte para todos os jovens ansiosos, especialmente em 2020. Estamos todos passando por vários momentos e esquecemos que um dia eles vão passar. O que resta para todos esses jovens ansiosos e depressivos que se vêem sem motivo para ficar mais muito tempo por aqui? Que apesar de tudo o que Rue passou na primeira temporada, tudo o que perdeu e do que desistiu, temos esse respiro de esperança para lembrar que a vida é assim, e que ela vai ficar bem. E que tem alguém que também passou por tudo isso que tem fé que ela vai conseguir. Assim como todos temos alguém que tem fé que vamos conseguir também.

Ali falando para Rue: "Você tem que acreditar na poesia."
Ali falando para Rue: "Você tem que acreditar na poesia."

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