Por que insistimos em usar fantasias racistas?
A historiadora Suzane Jardim reflete sobre fantasias racistas de Halloween e carnaval que viralizaram nas redes sociais.
Uma mãe chocou as redes sociais nesta segunda (29) ao postar fotos do seu filho fantasiado de escravo para a festa de Halloween de uma escola de Natal (RN).
Reprodução/Twitter / Via Twitter: @marcogomes
Na legenda ela usou a #escravo e brincou: "Quando seu filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio!".
Os seguidores de Sabrina Flor, que trancou seu perfil após a polêmica, parecem ter adorado a ideia.
Reprodução/Twitter / Via Twitter: @anacronices
Na mesma segunda-feira (29), o BuzzFeed Brasil reportou outra fantasia racista de Halloween que viralizou depois que uma academia de Crossfit publicou as fotos da festa no Instagram.
Reprodução/Instagram / Via Instagram: @ct_interact
O aluno de uma academia de Araçatuba (SP) compareceu à festa de Halloween do sábado (27) trajando uma fantasia de membro da Ku Klux Klan, organização racista que nasceu no final do século 19 nos Estados Unidos.
Mas as fantasias racistas não são exclusividade do Halloween. No começo do ano, um funcionário foi demitido depois de aparecer vestido de "negão do WhatsApp" na festa de fim de ano de uma empresa.
Reprodução/Folha
Mesmo que ter um "pau grande" seja visto como algo positivo para muitos homens, historicamente a sexualização do corpo negro se manifesta de forma racista.
E no carnaval deste ano, o desfile da Salgueiro levantou uma discussão sobre blackface ao apresentar a bateria da escola inteira com o rosto pintado de preto.
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O tema da Acadêmicos do Salgueiro foi a mulher negra, com o título poderoso de "Senhoras do Ventre do Mundo". Mas o desfile acabou marcado pelo uso de blackface, que é quando uma pessoa branca pinta o rosto para se "fantasiar" de pessoa negra.
Mesmo com tantos casos repercutidos na imprensa e nas redes sociais, permanece a pergunta: por que insistimos em fantasias racistas?
Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, a historiadora Suzane Jardim afirma que há vários elementos que explicam a permanência dos usos de fantasias racistas e que estereotipam os negros, entre eles a nossa relação histórica com a escravidão.
Para Suzane há também o elemento da alteridade, que é a forma com a qual entendemos e lidamos com o "outro", em relação ao "nós".
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"O corpo negro foi historicamente entendido como o outro e é a partir de tal entendimento que se torna aceitável brincar, estereotipar ou entender enquanto maleável o corpo e a indentidade negra", disse ao BuzzFeed Brasil.
Suzane Jardim conclui a respeito das fantasias racistas de carnaval e Halloween: "Grande parte da população não vê o racismo que pratica e não entende enquanto racismo a relativização do sofrimento negro e a transformação dos negros em objetos que podem ser vestidos e usados como bem se quer."