Por que Bolsonaro fala o que quer e nada acontece com ele?

Ele confia no taco de ex-militar para dizer o que quer e se aproveita de ocasiões que vão fazer a polêmica ser esquecida logo, dizem especialistas.

Junto com a indignação com as ofensas que Jair Bolsonaro fez à deputada Maria do Rosário, vem a pergunta: "por que este cara continua falando tanto absurdo e ninguém faz nada?"

Além das diversas ofensas direcionadas aos gays, negros e mulheres, Bolsonaro tem histórico de agressões físicas, como o soco que deu no senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) no ano passado. Em 2011, ele chamou Comissão da Verdade de "farsa".

Para o analista político Antônio Augusto Queiroz, Bolsonaro se aproveita de momentos conturbados para falar o que quer e não ser punido.

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"Ele faz isso quando todos estão discutindo coisas graves, por exemplo o Mensalão, e fez agora porque a Câmara está perto do recesso, então tudo será deixado para o ano que vem", diz. "O ideal é que não deixem este tema morrer para que ele seja punido".

Os partidos PT, PC do B, Psol e PSB entraram ontem com um pedido de cassação do mandato de Jair Bolsonaro no Conselho de Ética da Câmara, segundo esta matéria da Folha de S.Paulo. Porém, o Congresso entra em recesso no dia 23 e não haverá prazo para a análise, o que vai realmente jogar o processo para o ano que vem.

"A Câmara precisa se posicionar, já que ele é reincidente, inclusive com Maria do Rosário", lembra o cientista político e professor da UnB, David Fleischer.

Em 2008, durante uma entrevista à Rede TV na Câmara dos Deputados, Bolsonaro discutiu com a deputada Maria do Rosário e a xingou de "vagabunda".

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David acredita que "Bolsonaro confia muito no fato de ser ex-militar e da imagem que isso cria no seu entorno, e isso lhe dá uma sensação de impunidade".

"Ele deveria ser cassado por falta de decoro parlamentar, ele não é cassado porque os pares deles são coniventes com esta situação", diz o diretor de Direitos Humanos da OAB-SP, Martim de Almeida Sampaio.

"Ele representa o que há de pior, o escárnio da ditadura militar brasileira. Ele não pode representar o parlamento brasileiro", diz Martim.

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Com relação ao apoio a Bolsonaro, David Fleischer acredita que isso pode diminuir. "Agora os políticos que apoiarem as causas dele terão de mostrar a cara, já que o voto nas sessões não é mais secreto. Eles serão cobrados por apoiá-lo", diz.

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