PM contou duas histórias diferentes para justificar bombas

Primeiras bombas começaram a ser lançadas por volta das 20h45 de domingo com ato encerrado e grande parte da multidão já a caminho de casa.

No domingo, o Largo da Batata (zona oeste de SP) virou uma praça de guerra depois que policiais passaram a atirar bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e jatos d'água, logo após do encerramento do protesto contra o presidente Michel Temer.

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A PM foi criticada porque os atos de repressão aconteceram quando a manifestação, que não registrou incidentes no percurso entre a av. Paulista e o Largo da Batata, já tinha acabado.

Miguel Schincariol / AFP / Getty Images

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A maioria das pessoas já havia deixado o local a caminho de casa. Nesta imagem, manifestante para diante de blindado do Choque e recebe jato d'água.

Miguel Schincariol / AFP / Getty Images

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O governador Geraldo Alckmin (PSDB) saiu em defesa da PM: "O fato é que tem depredação e querem passar a história de que a polícia é a culpada".

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As bombas começaram a ser lançadas por volta das 20h45. Menos de uma hora depois, o tenente-coronel Henrique Motta, que comandou a operação, deu as primeiras justificativas para o caso a jornalistas.

Graciliano Rocha / BuzzFeed Brasil

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Esta foi a versão do comandante da operação no domingo para a decisão de lançar as primeiras bombas:

  1. "O metrô fechou as portas por volta das 19h para não dar excesso de gente nas plataformas".
  2. "Quando acabou, algumas pessoas estavam tentando forçar a entrada na estação. Pegaram umas barras de ferro e começaram a bater nas portas".
  3. "O metrô acionou a PM. Quando a PM chegou, essas pessoas que estavam forçando as portas começaram a jogar pedras e paus nos policiais".

Mas a justificativa do comandante da operação se chocava com a dos seguranças que estavam de serviço na estação Faria Lima na hora da confusão. Eles negaram terem acionado a PM.

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Por causa da repercussão do episódio, a PM convocou uma entrevista coletiva nesta segunda para explicar o início da ação contra o que restava da multidão no Largo da Batata.

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A entrevista foi com o coronel Dimitrios Fyskatoris, do Comando de Policiamento Metropolitano de São Paulo.

Divulgação / Assembleia Legislativa

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Alguns detalhes mudaram de ontem para hoje.

Como estavam as portas da estação nos momentos que antecederam o lançamento das primeiras bombas?

Graciliano Rocha / BuzzFeed Brasil

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O que disse a PM hoje: "O que os senhores viram em determinada entrada do Metrô foi a Polícia Militar junto com o Metrô tentando organizar, para que as pessoas pudessem controlar esse acesso de maneira tranquila [...] De outro lado, em algum momento o Metrô fecha as estações para garantir esse acesso controlado à estação".


O que dizia ontem:

As portas já estavam fechadas desde as 19h [a primeira bomba explodiu 20h44] e as pessoas estavam forçando a entrada na estação Faria Lima, inclusive com barra de ferro nas portas.



Por que a PM jogou a primeira bomba?

Graciliano Rocha / BuzzFeed Brasil

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O que disse a PM hoje: "Quando estava atuando lá, a Polícia Militar só respondeu depois que foi agredida. A Polícia Militar tem um protocolo. Não existe resposta sem agressão".

O que dizia ontem: as primeiras bombas foram lançadas para conter uma tentativa de depredação acionado pelo metrô, não de um suposto ataque aos policiais que estavam ajudando a controlar o fluxo.

O BuzzFeed Brasil questionou durante a entrevista coletiva, as diferenças nos relatos da própria PM, como as barras de ferro e as portas fechadas, mas o coronel Fyskatoris não respondeu à pergunta.

A Polícia Militar também foi questionada por abusos na noite de domingo. Este vídeo mostra uma viatura diminuindo a velocidade e um policial disparando gás de pimenta em frequentadores de um bar.

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A resposta de Fyskatoris foi genérica, sugerindo que as pessoas atacadas no bar tinham agredido ou atrapalhado o trabalho da polícia: "A partir da necessidade da atuação da polícia em resposta à agressão, a polícia tem um protocolo que procura dispersar as pessoas. A polícia não está lá para perseguir, não está lá para revide, está lá para dispersar as pessoas. [...] Essas pessoas, parte delas — isoladas ou não —, causaram dificuldades para que a polícia pudesse controlar a situação".

Neste outro, a PM aparece agredindo o repórter da BBC Brasil Felipe Souza, que cobria a ação. O jornalista, que estava identificado, vai ao chão:

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Resposta de Fyskatoris foi novamente genérica: "A Polícia Militar não age espontaneamente para agredir ninguém. A Polícia Militar só responde à injusta agressão. Se houver qualquer caso declarado ou a ser declarado, as pessoas que se sentem de alguma forma atingidas que procurem a Polícia Militar, através dos órgãos responsáveis — existe uma corregedoria que vai receber, registrar e, como sempre faz, vai apurar e dar resposta".

A ViaQuatro, concessionária que administra a linha 4 do metrô, também alterou sua versão dos fatos entre domingo e segunda.

Miguel Schincariol / AFP / Getty Images

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Primeiro, no domingo à noite, a concessionária negou a informação da PM da tentativa de depredação da estação Faria Lima, mas atos de vandalismo isolados.

“Não houve depredação na Estação Faria Lima, apenas atos de vandalismo que resultaram em uma lixeira, uma luminária e um bloqueio (catraca) quebrados”, informou a assessoria da ViaQuatro ao jornal O Globo. Leia aqui.

A concessionária não informou se os tais atos de vandalismo aconteceram antes ou depois da ação da PM nem se os policiais foram chamados para agir no local.

Mas, nesta segunda, a companhia se alinhou com a nova narrativa da PM, informando que solicitou reforço do policiamento para "garantir a segurança dos passageiros". A ViaQuatro não voltou a falar sobre a lixeira, a luminária e a catraca quebradas.

O BuzzFeed Brasil pediu à concessionária para ver as imagens das câmeras do circuito interno da estação Faria Lima e perguntou a que horas as portas do local foram fechadas. Não obteve resposta para nenhum dos dois pedidos.

Juiz manda soltar 18 pessoas detidos pela PM para "averiguação" por considerar prisão abusiva.

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O juiz Rodrigo Tellini Camargo libertou todos os 18 presos na audiência de custódia da tarde desta segunda-feira em no Fórum da Barra Funda.

Eles foram presos antes do protesto, no Centro Cultural São Paulo, e, segundo os policiais os jovens portavam desde vinagre e seus celulares a uma barra de ferro e um extintor de incêndio de carro.


O indiciamento foi por associação criminosa e corrupção de menores, já que outros 8 adolescentes foram detidos e levados para uma audiência no fórum do Brás.



O juiz considerou que a associação criminosa “exige mais do que a mera reunião de indivíduos, exige a estabilidade do grupo tido como criminoso para praticar crimes de forma permanente”.

Tatiana Farah / BuzzFeed Brasil

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O juiz apontou ainda que o material apreendido não é elemento suficiente para que a polícia presuma que os jovens praticariam crimes e destaca que todos são primários e com bons antecedentes.



Para Tellini, os jovens poderiam ter participado da manifestação pacificamente ou mesmo ter desistido de participar.



“Não há como saber [o que eles fariam] porque a polícia não permitiu a presença dos manifestantes antes de o ato de manifestação se realizar”, escreveu o juiz.

Tatiana Farah / BuzzFeed Brasil

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E, neste momento, o juiz faz uma dura crítica à atuação da polícia: “O Brasil como Estado Democrático de Direito não pode legitimar a atuação policial para praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’ sob pretexto de que estudantes reunidos poderiam, eventualmente, praticar atos de violência e vandalismo em manifestação ideológica. Esse tempo, felizmente, já passou.”


O juiz reforçou ainda que a prova usada para a prisão em flagrante é de que os detidos estavam “pacificamente reunidos” e que nenhum objeto de porte proibido foi apreendido, o que torna “inviável sequer cogitar do crime de corrupção de menores”.

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