Pais questionam Sesi por adotar livro de histórias africanas e geram debate sobre racismo

Escola disse que não vai retirar o livro da bibliografia dos estudantes e propôs uma reunião de esclarecimento com os pais dos alunos.

Na última semana, o Sesi de Volta Redonda enviou um comunicado para os pais dos alunos informando que o livro "Oma-oba: Histórias de Princesas" seria trocado após reclamação de alguns pais por motivos religiosos.

Reprodução / Facebook

O livro é utilizado nas 17 unidades do Sesi no estado do Rio de Janeiro. O livro gerou reclamações apenas na escola de Volta Redonda.

Juliana, que também tem filhos na escola, divulgou o comunicado em seu Facebook lamentando a atitude do Sesi e alertando sobre a necessidade da equipe pedagógica conversar com os pais dos alunos que reclamaram do livro.

Reprodução / Facebook / Via Facebook: juliana.pereiradecarvalho.5

Publicidade

Ela também falou da Lei 11.645/08, que obriga todas as escolas a incluírem o ensino da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Justamente porque o livro "Oma-oba: Histórias de Princesas" reconta mitos africanos da comunidade Ketu. Sendo assim, trocar o livro é descumprir a lei.

Divulgação

A autora do livro, Kiusam de Oliveira, também lamentou a atitude da escola e reforçou que a obra não tem nenhuma conotação religiosa.

      

"Agora estamos na era da caça às publicações que tratam da cultura afro-brasileira. Meu livro Omo-Oba: Histórias de Princesas (Mazza Edições, 2009), por sinal, altamente premiado, foi caçado ao ser adotado pelo SESI VOLTA REDONDA (RJ) quando pais fundamentalistas procuraram jornais e setores da educação para denunciá-lo por tratar de princesas africanas."

Publicidade

Ela também esclareceu que o livro apresenta seis histórias de rainhas, na figura de princesas, com o objetivo de fortalecer a personalidade de meninas, independentemente de raça/cor, etnia e condições socioeconômicas.

Reprodução / YouTube / Via youtube.com

Muitas pessoas criticaram a postura da escola.

Reprodução / Facebook

Publicidade

E apontaram que a atitude revela um racismo "velado".

Reprodução / Facebook

Algumas pessoas aproveitaram para contar que conhecem o livro e engrossar o coro de que ele deveria ser lido por todas as crianças.

Reprodução / Facebook

Publicidade

E questionaram: que tipo de crianças eles criarão?

Reprodução / Facebook

À reportagem do BuzzFeed Brasil, Giovanni Lima dos Santos, gerente de Educação Básica do Sesi, explicou que houve um erro de comunicação dentro da instituição e que o Sesi não sugeriu a troca do livro.

Publicidade

O Sesi de Volta Redonda também enviou ao BuzzFeed Brasil uma nota assumindo o erro. Eles informaram que não vão adotar outro livro em sala de aula e que farão uma reunião de esclarecimento com os pais dos alunos. Leia o texto na íntegra:

"A Escola Sesi de Volta Redonda cometeu um erro ao anunciar livro opcional à obra “Omo-oba – Histórias de Princesas”, da autora Kiusam de Oliveira, para alunos cujos pais questionaram a sua utilização em aulas de História.

A instituição vem a público reconhecer o equívoco no tratamento do assunto e informar que não mais será adotado um livro adicional.

Além de cumprir a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e suas complementações, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena, o Sesi Rio está empenhado e comprometido com a questão da diversidade cultural, tanto que adotou em todas as suas unidades, a referida obra como livro paradidático na disciplina de História. Diante do questionamento de alguns pais se precipitou, de forma equivocada, ao permitir a troca da obra para aqueles interessados, procedimento que foi revisto.

O Sesi está tentando contato com a mãe que se sentiu ofendida com a promessa de um livro opcional para se desculpar e esclarecer o ocorrido. Além disso, ainda hoje (19/03) fará uma reunião com pais e responsáveis para também abordar o tema.

Para que equívocos como o ocorrido não se repitam, o Sesi irá realizar uma reciclagem com toda a sua equipe pedagógica.

A Escola Sesi de Volta Redonda também promoverá, em breve, um encontro para debater com a comunidade escolar a diversidade e o multiculturalismo."

Veja também:

Como falar com crianças sobre consciência racial

9 maneiras de pessoas brancas apoiarem a luta contra o racismo

Veja também