Os verdadeiros – e históricos – influenciadores da Parada LGBT
Eles correram para que todos pudessem andar.
Já são 27 anos de Parada do Orgulho LGBTQIAP+, 25 anos que várias figuras fundamentais para a história da comunidade colocaram a cara na rua para pedir por mais direitos.
A primeira edição do evento ocorreu em 1997, mas dois anos antes já havia tentativas de mobilização.
Em 1995, no Rio, a 17ª conferência do ILGA (Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex) terminou com uma pequena marcha na praia de Copacabana. Em 1996, a Praça Roosevelt, em São Paulo, sediou um encontro com menos de mil pessoas para pedir por mais direitos e respeito.
No ano seguinte, todos se organizaram e tomaram a Avenida Paulista.
Sabe quantas pessoas estiveram na primeira edição da Parada?
Reprodução
Ao todo, foram cerca de duas mil pessoas da comunidade que então era chamada de GLS - risos.
A divulgação era feita por meio de panfletos e tinha gente inclusive preparada para ir de máscara para não ser reconhecida ou ter a cara marcada pela polícia, que não queria deixar que a marcha andasse.
Olha só como o evento cresceu. São Paulo é hoje palco da maior Parada do Orgulho LGBT+ do mundo.
Para isso, muita gente pôs a cara no sol e perdeu o medo de se afirmar! Hora de conhecer e reconhecer algumas delas:
Andreia de Mayo.
Reprodução
Dona da casa noturna Prohibidu's, que ficava embaixo do Minhocão, Andreia foi um nome politicamente ativo. Além de cuidar de garotas que trabalhavam nas ruas na região do Arouche, fez questão de marcar sua militância e se opor a políticos conservadores.
Certa feita, no "Programa Livre", do SBT, perguntou ao deputado Afanázio Jazadi se ele recusava votos da comunidade LGBT. Ao ouvir a negativa, mandou em alto e bom som: "Então vá se catar!".
Morreu em 2000, mas é celebrada até hoje.
Beto de Jesus.
Reprodução
Beto foi o primeiro presidente da Associação da Parada LGBT. "A parada de 1997 foi uma coisa muito comunitária, tinha uma Kombi pequenininha, a gente ocupou uma faixa só da Paulista. A gente desceu a Consolação, parou na Roosevelt. Tinha um microfonezinho só, tinha duas mil pessoas, foi uma coisa bonita, muito linda, porque era uma manifestação para se mostrar gay, lésbica, bissexual, trans à luz do dia. Eu tenho orgulho de ser LGBT. Era muito engraçado, porque no começo muita gente perguntava se podia usar máscara, porque ainda tinham muito receio e muito medo da visibilidade", contou o ativista em entrevista à Vice.
Claudia Wonder.
Reprodução
Claudia Wonder era TUDO. Literalmente. Escritora, ativista, atriz, cantora. A mais punk das travestis na música, no auge da epidemia da Aids ela se enfiava nua em uma banheira de groselha e jogava o sangue fictício na plateia como protesto.
Morreu em 2010, aos 55 anos, cedo demais, por causa de um fungo. Para saber mais sobre ela assista ao excelente documentário "Meu Amigo Cláudia", de Dácio Pinheiro.
Jorge Lafond.
Reprodução
Lafond dispensa apresentações. Ele transformou a personagem Vera Verão, de "A Praça É Nossa", em um ícone da comunidade. Andou muitas Paradas no chão, marchando com todo mundo. Merecia ter sido muito mais celebrado em vida.
O look dela na primeira parada foi um bafo. Olha a Kaká de pé e colorida em 1997.
Miss Biá.
É impossível não se emocionar com a história de Miss Biá, que começou como imitadora de Hebe e depois não parou mais. Era a primeira-dama da arte drag no Brasil, com mais de 60 anos de carreira. Fugiu da polícia, se montou na ditadura e virou ícone. Seguiu ativa até o fim da vida, aos 82 anos, quando foi vítima da covid-19.
Que falta você faz, Biá.
Silvetty Montilla.
Silvetty é uma batalhadora da noite paulistana e um ícone brasileiro. Já comandou coberturas de Carnaval na TV, dominou os palcos das principais boates do país e, por vezes, faz até quatro shows numa única noite.
É engajada, irreverente e foi ativa (ui!) na divulgação da primeira Parada do Orgulho LGBT - da qual saiu na garupa de um boy MARA. Foi também a primeira apresentadora do evento. Merece todo tipo de reverência.
Por alguma razão tecnológica não conseguimos embedar o Instagram dela, mas você pode segui-la clicando aqui.
Olha aqui a Silvetty, de vermelho, na época da primeira Parada.
Tá passada?
Essa lista poderia ser muito, mas muuuuito maior. Poderia incluir um número infinito de gente desbravadora, corajosa, ousada.
Tanta gente correu para os LGBTs hoje pudessem andar. Eles, sim, são os verdadeiros influenciadores, que permitiram, em um tempo sem internet, que a gente pudesse ser quem somos hoje.