Os tênis de quebrada das antigas

Nas baladas black, bailes funk, pagodes, reggae ou axé: muita atenção estava nos pés.

Beleza, sabemos que lá fora os Air Jordan e Air Force One são muito populares até hoje. Aqui, a gente conhece os 12 mola, Mizuno Wave, Puma Disc etc, super populares - e icônicos - dentro do universo cultural do Funk.

Apesar dos citados não serem modelos recentes, a moda de quebrada já passou por vários outros tênis. Enquanto os Air Jordan e Air Force Ones eram populares na cultura Hip Hop já nos anos 80, aqui a realidade era outra. Eles sequer eram vendidos por aqui. Apesar de toda a inspiração que a cultura Hip Hop em sua raíz, lá dos EUA, nos trouxe, o Brasil aplicava dentro de suas próprias condições. Não só condições de acesso ou financeiras, mas condições culturais. Somos irmãos, mas diferentes. Como acontece em toda família.

Nos Bailes Black de São Paulo, nos anos 1970, era proibido entrar de tênis. Os calçados esportivos eram vistos como “muito casuais” e não davam ao evento a importância que ele tinha. Pra entrar tinha que se arrumar. E, na cultura da época, isso significava estar estilosa ou estiloso calçando sapatos. Não era questão de ter mente fechada ou algo assim. Na época, os tênis eram peças utilitárias para práticas esportivas, e não peças de moda.

Em meados dos anos 1980, essa mentalidade mudou, afinal, o mundo estava mudando. A aderência da comunidade negra norte-americana aos Air Jordan e outros modelos deu aos tênis status de peças de moda, que faziam parte da composição visual.

Reprodução | Forward Chineisinho.

As festas de Rap e de Funk Carioca começaram a surgir no mesmo período. Os tênis Kichute e Conga eram muito usados pela população brasileira de forma geral, mas eram mais simples. Já os Bamba, eram mais desejados pela sua semelhança visual com os All-Star, da Converse. Também tinha o “Chineisinho”, apelido de um dos modelos da marca Forward (chamada de “faruáite” ou de “far white”). Das linhas mais caras, modelos da New Balance, Le Cocq e Adidas (principalmente a linha Marathon) eram os mais cobiçados.

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Nos anos 90, modelos como o Nike “Olho de Gato” e Mizuno “Camaleão” eram objeto de desejo nas quebradas (sempre com esses apelidos, que pegavam mais do que seus nomes reais).

Reprodução | Nike SHOX, Le Cheval e Mizuno Camaleão

Nessa época, marcas internacionais consagradas ficaram mais acessíveis e aumentaram sua popularidade. Mas os tênis nacionais, como os inesquecíveis cano alto da Le Cheval também estavam no jogo.

Talvez esse fascínio que as quebradas têm pelos tênis com amortecedores/molas expostas tenha se originado no lançamento do clássico Rainha System, uma febre nos anos 90.

Reprodução | Rainha System

Além de poder ver seus amortecedores em ação no solado, você conseguia tirá-los e trocar por outros, de cores diferentes.

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No início dos anos 2000, com a moda do Surf e do Skate, novos tênis surgiram.

Reprodução | QiX Hexagon

Alguns dos mais usados foram os da Redley, o modelo Hexagon da QiX (com seu shape gordo), o Philly da Reef e o Plasma 911. Sem falar na moda de trocar os cadarços de alguns modelos por cadarços com “as cores do Reggae” (que na verdade são as cores da bandeira da Etiópia) e cores da bandeira da Jamaica, influenciada pela popularização comercial do Reggae nacional.

Fosse nas baladas black, nos bailes funk, pagodes, shows de reggae ou eventos de axé music, a quebrada sempre deu muita atenção ao que colocava nos pés.

Texto de Jun Alcantara

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