Obama adota distanciamento em relação a Michel Temer

Presidente americano não ligou para interino; silêncio de Washington deve permanecer até Senado decidir destino de Dilma Rousseff.

Publicado por Graciliano Rocha e Hayes Brown

Jonathan Ernst / Reuters

Barack Obama não telefonou para o presidente interino Michel Temer: americano adotou distanciamento enquanto durar processo de impeachment de Dilma Rousseff.

O presidente Barack Obama e o secretário de Estado americano, John Kerry, não realizaram nenhum gesto pessoal em direção ao presidente interino Michel Temer ou ao novo chanceler José Serra.

O tom de Washington em relação ao Brasil é o de distanciamento ao menos enquanto não for definitivamente julgado o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Afastada desde o dia 18 de maio, ela será julgada pelo Senado em até 180 dias sob acusação de ter cometido crime de responsabilidade ao ordenar despesas orçamentárias sem autorização do Congresso.

Diferentemente de 2010 e 2014, quando Obama telefonou para Dilma Rousseff para cumprimentá-la logo depois de suas vitórias eleitorais, o presidente americano não repetiu o gesto com o presidente interino.

Indagada pelo BuzzFeed News em Washington, a Casa Branca se esquivou de comentar o caso. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Peter Boogaard, disse que “não existe neste momento” qualquer previsão de Obama falar com o presidente interino do Brasil.

Na semana passada, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse somente que Obama “acredita na capacidade das instituições democráticas brasileiras de resistir às turbulências políticas”.

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Ueslei Marcelino / Reuters

Michel Temer, o presidente interino, recebeu telefonema de Mauricio Macri, da Argentina, mas não de Barack Obama: diplomatas dizem que Brasília não esperava contato de Washington porque impeachment não é "evento festivo".

A imagem do Brasil no exterior tem sido uma preocupação do novo governo. Desde que foi afastada, Dilma Rousseff tem dito que foi vítima de um golpe de Estado.

Um exemplo do desgate internacional da imagem do Brasil ocorreu no tapete vermelho do Festival de Cannes.

O cineasta Kleber Mendonça Filho e atores do filme "Aquarius", que concorre na mostra, protestaram com cartazes contra o "golpe" que levou Dilma ao poder. A imagem ganhou destaque em grandes publicações internacionais.

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Não há planos de Jonh Kerry ligar para José Serra enquanto impeachment de Dilma não for julgado.

As frases protocolares e o silêncio também também predominam no Departamento de Estado, que diz apenas que o trabalho rotineiro da diplomacia entre os dois países não foi alterado.

Consultados, assessores de John Kerry disseram não ter nenhuma informação se o secretário de Estado pretende ou não ligar para o novo ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra.

Empossado na quarta (18) no cargo, Serra fez um discurso considerado como uma guinada na política externa do Brasil, afastando-se de países governados pela esquerda na América Latina que se aproximaram de Brasília durante os anos Lula e Dilma.

Ele disse que a nova política externa brasileira priorizará a busca de a acordos bilateriais de comércio.

Sobre os Estados Unidos, Serra foi protocolar:

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O único gesto pessoal de um líder em direção a Temer partiu do presidente argentino Mauricio Macri, que telefonou para expressar seu “respeito” logo após o presidente interino assumir o lugar de Dilma Rousseff.

O Ministério das Relações Exteriores não respondeu às perguntas enviadas pelo BuzzFeed Brasil nesta quinta (19). Diplomatas ouvidos sob a condição de não serem identificados disseram que Brasília não mantinha a expectativa de qualquer gesto pessoal de Obama em relação a Temer.

“Não é nenhuma ocasião festiva, mas uma interinidade decorrente de um processo político tenso”, ponderou um deles.

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Ueslei Marcelino / Reuters

O novo chanceler José Serra: guinada na política externa afasta Brasil de governos de esquerda na América Latina e passa a priorizar acordos bilaterais de comércio.

Tratamento a novo embaixador será termômetro da relação entre os dois países, diz especialista

Coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas e autor do livro “Kissinger e o Brasil”, Mathias Spektor afirma que o silêncio de Washington é esperado até que o Senado decida o destino de Dilma Rousseff.

“Se Obama ligasse para o Temer agora ele criaria um precedente indesejável. O que aconteceria então se o Senado decidisse devolver o cargo para Dilma?”, disse.

O termômetro para medir a temperatura das relações Washington-Brasília após o impeachment, segundo Spektor, será o tratamento dispensado pelos americanos ao novo embaixador brasileiro.

O Itamaraty deverá anunciar nos próximos dias um novo diplomata para substituir Luiz Alberto Figueiredo, designado por Dilma em janeiro de 2015.

“O tempo que o governo americano levar para conceder o ‘agréement’ [credenciamento] do novo embaixador é o indicativo. Se isso acontecer rapidamente, é sinal de que não houve problemas na relação bilateral. Se houver demora, é indicativo de problemas”, disse.

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