O que você precisa saber sobre a toxemia de Beyoncé, nas palavras de uma ginecologista

A toxemia, um termo ultrapassado para uma doença conhecida como pré-eclâmpsia, pode ocorrer em qualquer gravidez. E os riscos para a mãe e o bebê são consideráveis.

No texto Beyoncé In Her Own Words (Beyoncé em Suas Próprias Palavras, em tradução livre), a cantora fala sobre a gravidez dos gêmeos Sir e Rumi, nascidos há pouco mais de um ano.

Segundo Beyoncé, essa sua gravidez foi afetada pela toxemia, termo hoje já considerado ultrapassado pela comunidade médica para descrever a doença

conhecida como pré-eclâmpsia.

A pré-eclâmpsia é um distúrbio caracterizado pelo aumento da pressão arterial durante a gravidez que afeta órgãos como rins, coração, pulmões e cérebro. Em casos mais graves, a pré-eclâmpsia pode causar convulsões, evoluir para uma eclâmpsia e pode ser fatal.

No entanto, Beyoncé não é um caso isolado. Cerca de 2-8% de todas as gestações no mundo são afetadas pela pré-eclâmpsia. Mulheres negras sofrem desproporcionalmente mais com a pré-eclâmpsia e outras doenças relacionadas à hipertensão na gravidez, o que pode ser uma das razões pela qual a mortalidade materna entre mulheres negras é 3,5 vezes maior do que em mulheres brancas.

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Como ginecologista e obstetra, eu atendo muitas mulheres com pré-eclâmpsia.

Tia Jackson-Bey, MD

Dra. Tia Jackson-Bey

O fato de Beyoncé ter decidido falar sobre sua experiência é importante porque ajuda a conscientizar as pessoas sobre essa perigosa doença.

Se uma grávida apresenta pressão arterial alta, o médico pode investigar a possibilidade de pré-eclâmpsia por meio de uma série de exames. Ele procurará por proteínas na urina, diminuição nas plaquetas do sangue (um componente importante para a coagulação sanguínea), irregularidades no funcionamento do fígado, problemas renais ou líquidos nos pulmões. Além de pressão arterial elevada, mulheres com pré-eclâmpsia podem sofrer de dores de cabeça, visão turva, falta de ar e dores no quadrante direito superior do abdômen em razão de inchaço no fígado.

O inchaço descrito por Beyoncé – ela chegou a pesar 98 quilos durante a gravidez – é outro sintoma comum da doença.

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A causa exata da pré-eclâmpsia continua desconhecida.

Atualmente não há cura para a pré-eclâmpsia, sendo necessário o nascimento do bebê para que a doença desapareça. Mesmo após o parto, a mulher ainda corre o risco de ter complicações graves e duradouras decorrentes da pré-eclâmpsia, como insuficiência cardíaca, pressão arterial elevada, doença renal, convulsão e derrame.

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A pré-eclâmpsia é uma das grandes causas de partos prematuros, já que pode ser necessário acelerar o parto para a segurança da mãe e do bebê.

A pré-eclâmpsia não diagnosticada ou não tratada pode resultar na morte da mãe ou do bebê. O diagnóstico e o tratamento rápidos são importantes para salvar a vida de ambos.

Até hoje a pré-eclâmpsia continua sendo uma das principais causas de doenças e mortes de mães e recém-nascidos nos Estados Unidos. Na verdade, ela é responsável por 15% de todos os partos prematuros nos EUA.

Beyoncé mencionou sua própria experiência. Seu parto foi prematuro (via cesárea) e Sir e Rumi tiveram de ficar em uma UTI neonatal. Isso tudo provavelmente em razão de uma piora em seu quadro.

“Eu estava inchada por causa da toxemia e passei mais de um mês acamada. Minha saúde e a saúde dos meus bebês estavam em risco, por isso tive de passar por uma cesárea de emergência”, escreveu a cantora. “Passamos várias semanas na UTI neonatal.”

Beyoncé, Rumi e Sir aparentam estar bem e felizes agora. Toda gravidez é diferente, e a recuperação após uma cesárea pode ser mais difícil do que a de um parto normal.

Além disso, o trauma de uma gestação e de um parto complicados pode agravar a melancolia pós-parto e até levar à depressão pós-parto.

Getty

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A pré-eclâmpsia geralmente ocorre após a 20ª semana de gestação. Caso você apresente sintomas como: dor de cabeça que não passa, alterações visuais (olhos turvos ou luzes piscando), náuseas e vômito, dor no lado direito do abdômen ou do ombro, inchaço nas pernas, mãos ou rosto, dificuldade para respirar ou ganho de peso acelerado – 1 a 2 quilos em uma semana –, ligue para o seu médico imediatamente.

Isso é particularmente importante caso você seja negra ou possua outros fatores de risco como obesidade, gravidez de gêmeos ou trigêmeos, histórico familiar ou pessoal de pré-eclâmpsia, ter mais de 35 anos, estar na primeira gravidez (ou fazer 10 anos da última) ou ter feito FIV para engravidar.

Ainda há muito a ser feito para tratarmos desse importante problema de saúde materna. A conscientização pública é essencial. O fato de Beyoncé compartilhar algumas de suas experiências pessoais com a pré-eclâmpsia apenas revela mais um lado humano da deusa Bey.

Tia Jackson-Bey é obstetra e ginecologista de Chicago, Illinois (EUA).

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A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

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