O que pessoas trans e travestis gostariam que você, pessoa cis, soubesse?

Lutar pela visibilidade e inclusão de pessoas trans é uma atitude para o ano inteiro.

Ei, você que, assim como eu, é uma pessoa cisgênero (se identifica com o gênero que foi atribuído no nascimento), se considera uma pessoa aliada? Você se vê como uma pessoa sem preconceitos? Você acha que é uma pessoa respeitosa e inclusiva? Então vem ler o que essas pessoas trans e travestis gostariam que você soubesse neste Dia da Visibilidade Trans (29 de janeiro).

Tenor

Niodara

Arquivo Pessoal

Niodara tem 33 anos, é travesti, preta e periférica. Ela é consultora e palestrante de Diversidade, Equidade e Inclusão, fundadora da consultoria de conscientização e sensibilização Novas Narrativas. Em 2022, ganhou o Prêmio CX Summit - Prêmio track.co Experiência do Cliente 2022 (Categoria Diversidade e Inclusão).

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O que você gostaria que pessoas cis soubessem?

"Na verdade, nem tem algo que gostaria que pessoas cis soubessem, pois percebi que saber sobre as nossas vivência sem de fato viver essas coisas, relativiza nossas realidade e contribui pouco para que sejam pessoas aliadas. Eu gostaria, na verdade, que pessoas cis se permitissem nos incluir em suas vivências sociais, que participassem ativamente do nosso dia a dia e sentissem experiencialmente como nossos corpos ainda causam estranhezas, olhares, risadas e cochichos por todos os espaços em que circulamos. Eu gostaria que pessoas cis sentissem o quanto nossos corpos ainda não foram humanizados e que o simples ato de sair de casa é sempre muito bem pensado; nem sempre temos disposição para sair e nos sentirmos alvo de observações, ataques e violência. Eu gostaria que pessoas cis questionassem porque não somos vistas com frequência à luz do dia e porque a maioria de nós ainda sofre com a marginalização, condicionando a informalidade. Eu gostaria que pessoas cis entendessem que não somos diferentes, somos só mais uma possibilidade de existência diante da natural pluralidade do ser humano".

Pepita

Instagram/Reprodução

Pepita é travesti e artista: é atriz, cantora e apresentadora. Em 2022, ela se tornou mãe ao adotar o filho Lucca Antonio, ao lado do marido Kayque Nogueira.

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O que você gostaria que pessoas cis soubessem?

"Eu vivo em um país onde as pessoas têm facilidade de me matar no olhar, na fala e nas atitudes. Mas o meu sobrenome é 'resistência' eu eu vim para esse mundo para ficar. Aos 40 anos, me tornei mãe e, aos 41, eu posso dizer que foi a melhor experiência da minha vida. Sou mãe sim, travesti sim, tenho filho sim. E eu sou 'ela'. Eu nunca vou poder ser chamada de 'ele'!".

Rafa Mores

Arquivo Pessoal

Rafa é uma pessoa não-binária. O seu propósito é impactar positivamente o maior número de pessoas da sociedade por meio da tecnologia e da inovação. Rafa é Linkedin Top Voice e uma das 10 vozes LGBTI+ de maior impacto na plataforma no ano de 2022.

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O que você gostaria que pessoas cis soubessem?

"Gostaria que pessoas cis soubessem, entendessem e respeitassem a existência de pessoas trans não bináries. Por muitas vezes, as pessoas do mundo do trabalho e da sociedade em geral desconhecem a nossa existência e acabam nos inviabilizando, errando nosso pronome e não respeitando quem somos. Isso traz impactos psicoemocionais muito negativos, fragiliza nossa saúde mental e compulsoriamente nos coloca em lugares de não pertencimento. É preciso entender que, para além do que é ser homem e do que é ser mulher na sociedade, existe uma infinidade de possibilidades de manifestação de identidade de gênero. Não respeitar isso é nos desumanizar. Eu sou a inovação, quero poder romper com estes conceitos binários que servem como armas de controle social. Eu quero ser livre. E ser respeitade, sendo quem eu sou. Eu não sou ele. Eu não sou ela. Eu sou ELU, prazer."

Luá Alves

Arquivo Pessoal

Luá é travesti, bissexual, nordestina, filha do povo potiguara e de axé. Tem 29 anos, vive com diabetes mellitus tipo 1 e fibromialgia. Ela é uma ex-fisioterapeuta que se apaixonou por impacto e empreendedorismo social e se descobriu fomentadora de gestão inclusiva e transformação social. Assim, co-fundou a Êlu, uma healthtech focada em inovação em saúde e bem-estar.

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O que você gostaria que pessoas cis soubessem?

“Eu queria que pessoas cis soubessem, de uma vez por todas, que nós, pessoas trans, somos integralmente competentes. Se você não sabe, ser uma pessoa trans, muitas vezes, significa carregar o dilema do mínimo. Não podemos ser apenas boas no que fazemos, devemos dar o máximo e ser ótimas para superar estereótipos e preconceitos da sociedade. É hora de mudar o foco em nossos corpos e entender que demonstramos competência. Não seremos definidas(os) pelo dilema do MÍNIMO, pois, estar viva(o) em sociedade já é o nosso máximo."

Noah Scheffel

Arquivo pessoal

Noah é agente de transformação social. Primeiro homem trans a ser Influenciador no LinkedIn. Negro e autista. Mãe de uma filha, e pai de outra. Fundador e CEO do EducaTRANSforma, primeiro ecossistema nacional de capacitação gratuita e de consultoria em empregabilidade para pessoas transgênero em tecnologia e inovação. Eleito Billboard Over 30, ForbesBLK, Top 100 RH 2023, #50toFollow RH & People 2023, Top 6 Influencers em D&I 2022, Top 50 Influenciadores de RH 2022, Top 100 People 2022, #50toFollow Empreendedorismo 2022, Top 120 Craques Diversidade e Inclusão 2023, e 50 nomes que brilharam no mercado digital em 2021.

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O que você gostaria que pessoas cis soubessem?

"Eu gostaria que as pessoas cis soubessem que o Mês da Visibilidade Trans não é apenas em janeiro. Ele é em todos os meses do ano, todos os dias são dias da visibilidade trans. Nós temos que falar sobre a pauta todos os dias do ano porque nós, pessoas trans, existimos o ano inteiro e não somente em janeiro. Outra coisa que as pessoas cis precisam saber é que estamos fora do mercado de trabalho por puro preconceito. Infelizmente, hoje apenas 4% das pessoas trans estão no mercado de trabalho formal. Isso deixa 96% das pessoas de fora de terem acesso a salários dignos, a moradia, a trabalho. É super importante que as pessoas cis aliadas estejam conosco nessa causa de inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho, nos espaços educacionais e em todos os lugares que a gente tem direito. Outro ponto é que pessoas cis, muitas vezes, não sabem como se referir a pessoas trans, não sabe como chamar, como falar, como se referenciar. A dica que eu dou é que a gente pare de olhar para alguém e ter nossas percepções do que aquela pessoa é, e, em vez disso, a gente chegue se apresentando, diga o nosso nome e os pronomes com os quais a gente se identifica, e pergunte: 'e o seu nome qual é? E com quais pronomes você se identifica?'".

BENJAMÍN

Carmen Campos

BENJAMÍN tem 24 anos, é sorocabano e um homem trans. Com formação acadêmica em artes cênicas, ele é ator e cantor, esteve na última temporada de "Malhação" e é protagonista da série da HBO Max "B.A. o Futuro está Morto" . Ama a natureza, os animais e o seu melhor amigo é seu cachorro Artaud. Ele se define como o resultado dos encontros que teceu com pessoas (incluindo ele mesmo), discos, livros e lugares; como afeto a terra que pisa, as pessoas que passam por ele, o seu corpo completamente trans, e como se deixo afetar por tudo isso, pela vida, pela morte e pelo mistério.

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O que você gostaria que pessoas cis soubessem?

"É muito importante que pessoas cis que se consideram 'trans aliadas' abracem nossas demandas como uma responsabilidade e dever social. Na vida cotidiana isso significa buscar compreender a vivência de pessoas trans e se posicionar perante situações que podem ser desconfortáveis para nós, principalmente em situações de transfobia, que é muito violenta e já cessou a vida de muitas pessoas trans no Brasil. Caso alguém erre o pronome de alguma pessoa trans próxima a você e ela própria não faça a correção, por exemplo, é desejável que você se posicione e corrija, porque nem sempre a pessoa em questão se sente confortável ou segura para comunicar o erro. Situações de exclusão e preconceito são frequentes na vida de pessoas trans e é fundamental que pessoas cis entendam que a maior responsabilidade em mudar o funcionamento da sociedade para que seja mais inclusiva é delas próprias. Pessoas cis devem buscar se informar e aprender sobre transgeneridade de forma autônoma e sem colocar as pessoas trans no lugar de educadoras, afinal existem muitas fontes para obter conhecimento. E se você ficar na dúvida sobre o que pode ou não falar para uma pessoa trans, questione-se: eu falaria isso para uma pessoa cis? Se a resposta for não, sua fala possivelmente contém um preconceito e não deve ser verbalizada."

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