O que é e porque você precisa entender mais sobre passabilidade

"Ainda hoje é comum ouvir: nossa, mas ninguém nunca diria que você é trans".

O termo "passabilidade" significa "passar-se por".

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Ele é usado para se referir ao quanto um homem ou uma mulher trans "passam por" um homem ou mulher cisgênero. A ativista trans Daniela Andrade resume a passabilidade de uma forma bem simples: "é quando a pessoa trans é lida pela sociedade como se fosse cis", disse ela ao BuzzFeed Brasil.

Lembrando: cisgêneros (cis) são pessoas cujo gênero é o mesmo do designado em seu nascimento. Por exemplo, uma pessoa que nasce com uma vagina e se identifica como mulher, independentemente de ser uma mulher hétero ou lésbica.

A questão é que passar-se por cis não é necessariamente a intenção de uma pessoa trans.

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Daniela diz que essa leitura social não necessariamente reflete a intenção da pessoa analisada. Por isso é comum ouvir coisas do tipo "nossa, mas ninguém nunca diria que você é trans", "Você engana bem, viu?" ou "Você parece muito com uma mulher!" como se fossem elogios – mas não são.

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A própria ativista trans Daniela Andrade é enfática nisso: "Não é o meu objetivo não parecer trans".

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Daniela explica que ser confundida com uma mulher cis não é nenhum elogio e que faz questão de falar sobre sua transição para ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo. "Não é o meu objetivo não parecer trans. Eu tenho muito orgulho de ser quem sou", disse.

A pressão social pela passabilidade colabora para que pessoas trans criem uma expectativa muito grande sobre a sua expressão de gênero.

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Pessoas trans passam tanto tempo das suas vidas sendo discriminadas e agredidas que acabam criando uma expectativa muito grande, insuperável, sobre a sua expressão de gênero. "Mas sempre vai haver algo para as pessoas te diminuírem", alerta Daniela.

Segundo ela, buscar a passabilidade é uma busca também por segurança. Afinal de contas, uma pessoa que aparenta ser cisgênera sofre menos violência, tem mais chances de entrar no mercado de trabalho e recebe mais aceitação social.

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Nem toda pessoa trans tem os recursos ou o desejo de passar por cirurgias e procedimentos estéticos.

Um dos problemas é acreditar que a transexualidade está relacionada basicamente a quanto a pessoa se parece cisgênera. É preciso que a sociedade entenda que nem toda pessoa trans tem os recursos ou o desejo de passar por cirurgias e procedimentos estéticos.

Achar que a identidade de gênero obrigatoriamente depende da aparência é uma violência ao direito que cada um tem sobre seu corpo.

Outro problema está nos meios de comunicação, que contribuem para a padronização estética da transexualidade.

Reprodução / Via buzzfeed.com

O pouco espaço que as pessoas trans têm na mídia também se restringe ao que é considerado "passável" por cisgênero. Esta padronização estética é mais uma das opressões às quais pessoas trans são submetidas socialmente.

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Também atrapalha o fato da transexualidade ainda ser considerada uma doença pelo Conselho Federal de Medicina.

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A patologização da transexualidade cria ainda mais dificuldades aos pacientes trans.

"Se você não se encaixa no padrão do que os psiquiatras acreditam ser um transexual, suas chances de receber um laudo favorável são muito baixas. Para eles, uma mulher transexual é feminina e heterossexual".

Desde 2008, as cirurgias de transgenitalização podem ser feitas pelo Sistema Único de Saúde no Brasil.

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Graças ao trabalho de ONGs e ativistas como Daniela, tem sido possível lutar por bandeiras como a representatividade da população trans, sua visibilidade e a necessidade de políticas públicas mais avançadas.

Mas o caminho ainda é longo. Até 1997, as cirurgias de transgenitalização eram proibidas no Brasil. E, somente em 2008, o Ministério Público Federal conseguiu fazer com que o governo brasileiro oficializasse os procedimentos pelo Sistema Único de Saúde. Até 2014, foram realizados 6.724 procedimentos ambulatoriais e 243 procedimentos cirúrgicos em quatro serviços habilitados no SUS, segundo informações do Ministério da Saúde.

Para mais informações, acesse o site da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania.

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Daniela Andrade é analista de sistemas, professora e ativista.

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