O processo de impeachment de Dilma muitas vezes abriu espaço para o machismo

Agora que Dilma foi afastada, é hora de falar sobre os episódios em que ela foi agredida em meio às críticas.

Você deve ter visto nesta quinta muita gente criticando o novo ministério de Michel Temer, que deve ser o primeiro sem mulheres desde1974, durante a gestão do militar Ernesto Geisel.

      

Provavelmente o presidente interino do Brasil contará com mais de duas dezenas de homens no primeiro escalão do governo.

A falta de mulheres entre os ministros é só uma parte dos episódios machistas que permearam a crise do governo Dilma e o processo de impeachment. Muitas vezes a crítica política foi confundida com ataques misóginos, como a onda de palavrões vindos da torcida na abertura da Copa do Mundo.

Episódios de machismo são comuns desde o primeiro mandato de Dilma, mas os ataques escalaram proporcionalmente à medida que a popularidade de Dilma foi caindo.

Ou seja, a partir de 2014, quando as conversas sobre impeachment começaram surgir. Entre os termos que a torcida usou para se manifestar contra Dilma na Copa, estavam "vagabunda" e "vadia".

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Por muitas vezes a imagem corporal de Dilma também foi agredida. Como o conjunto de renda da posse de 2014 que virou um meme maldoso, comparado a um botijão de gás.

E quem não se lembra deste adesivo de extremo mau gosto que mostrava uma montagem da presidente de pernas abertas, para ser colado na entrada da bomba de gasolina do carro?

Reprodução

O pacote de adesivos chegou a ser vendido por R$ 34 no Mercado Livre. O governo pediu investigação sobre a ofensa e o site retirou o produto do ar. Até a ONU se manifestou na época e repudiou os ataques sexistas à Dilma.

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Já em agosto do ano passado, um dos editores da revista Época publicou um texto cujo título era "Dilma e o sexo", no qual atribuía os recentes problemas do país à "falta de erotismo" da presidente.

Após grande repercussão negativa, o texto saiu do ar. Você ainda pode ler trechos dele aqui.

E em abril deste ano, a revista IstoÉ publicou uma foto de Dilma com uma expressão raivosa junto a um texto que falava que a presidente estava descontrolada, tomando remédios e quebrando móveis.

Reprodução/Isto É

Em um dos textos internos, a revista compara Dilma a “Maria, a Louca”. As redes sociais não perdoaram o machismo da revista.

Dilma se pronunciou sobre a capa, dizendo que é "um texto muito baixo, que reproduz um tipo perverso de misoginia para dizer que quando uma mulher está sob pressão costuma perder o controle".

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O machismo também foi parar nas ruas nas manifestações pró-impeachment, onde era comum ver frases sexistas, xingamentos e ofensas como estas:

Jornalistas Livres

Já na votação do impeachment na Câmara, os deputados usaram cartazes com a expressão “Tchau Querida”e também foram acusados de machismo.

Os deputados responderam que a frase se tratava de uma alusão à forma como o ex-presidente Lula se despediu de Dilma no grampo telefônico divulgado pelo juiz Sérgio Moro durante a operação Lava Jato.

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Além disso, enquanto o processo de impeachment de Dilma avançava, a mídia tratava de celebrar o modelo bela, recatada e do lar.

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