O "Canarinho" não é o mascote que a gente pediu, mas é o que a gente merece

Este é o Brasil.

E o momento em que eu me dei conta que morava nesse país lindo de meu Deus foi ao estar brincando tranquilamente na sala dos meus pais e, por "brincando tranquilamente", entenda "aproveitando que a minha mãe não estava olhando para que eu pudesse derreter todos os meus brinquedos com o ferro de passar roupa". Depois de tomar a maior bronca da história, todos começaram a gritar de novo e eu já estava pensando "Ah, pronto. Que que as madame vão falar que eu fiz agora?".

Era 1994. A Seleção brasileira era tetra, os brasileiros eram tetra. Eu nem sabia o que era ser tetra, mas eu era também.

Agora estamos em 2018. Eu não sei se é de conhecimento público, mas nem todo brasileiro gosta de futebol. Serião, não estou zuando. Mas apesar de não ser tããão fanático pelo esporte, eu sou louco por esse sentimento que rola de 4 em 4 anos no nosso país, ou era, não sei mais. Difícil dizer porque quem iria imaginar que 20 anos depois do tetra, o Brasil ia tomar um SACODE em casa. Isso foi tão impactante que até hoje todo mundo lembra onde estava no dia do 7x1. Esse episódio me deu um certo desânimo pela competição, confesso. Mas são justamente nesses momentos angustiantes que surgem os maiores símbolos de esperança, como o nosso Batman brasileiro, o Canarinho.

Além de ser O MELHOR MASCOTE QUE JÁ TIVEMOS, o Canarinho é uma ideia, um sentimento com que o Brasil se identifica verdadeiramente depois de 2014. É a única personalidade nacional capaz de se pronunciar com sinceridade — mesmo que só pelo olhar — sobre esse elefante branco que temos na sala. No caso, sete elefantes, elefantes alemães e que sabem driblar. Foi por isso que quando eu sugeri para Guaraná Antarctica (<3) a ideia de passar um dia inteiro com esse mito, eu não estava só querendo contar para a internet como era a rotina dele, eu estava também buscando uma maneira de me reencontrar com aquele sentimento que tive em 94 e ao mesmo tempo tentar superar o ranço de 2014.

Guaraná topou. Foram mais de 30 horas de viagem, vôos cancelados, trens perdidos e diversas latinhas de Guaraná tomadas, mas aqui está. Este é um dia na vida do canarinho mais famoso do mundo.

O canarinho não parou um minuto sequer, sua pausa foi somente durante o chá das cinco porque ele estava em solo inglês. Ali eu vi a oportunidade perfeita para tentar descobrir o que o nosso herói de cara amarrada pensava, como ele se sentia representando uma nação e, claro, se ele podia me ensinar a fazer umas embaixadinhas (eu sempre quis muito aprender, me deixa).

Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se levantou com a confiança de um hexacampeão e foi dar alegria para o povo — que no caso eram os fãs brasileiros que estavam gritando loucamente do lado de fora do hotel da Seleção. Vendo o Canarinho tirar tantas fotos e sorrisos dos rostos das pessoas, eu entendi porque fiquei encantado com o tetra em 94.

Então é o seguinte, geralmente eu faço um final meio "auto-ajuda" nesses textos do BuzzFeed, mas hoje não. Com o aval de Guaraná Antarctica, queria transformar essa conclusão aqui numa DR com a Seleção brasileira. Assim paramos de varrer os nossos problemas para debaixo do tapete e melhoramos o nosso relacionamento.

Ok? Então lá vai.

Querida Seleção brasileira,

Foi em 94 que senti pela primeira vez na minha vida — mesmo sem muita noção disso na época — que independente das diferenças etárias, geográficas, sociais, ou físicas que tivéssemos; homens, mulheres, brancos, pretos, bolachas e biscoitos, Mezenga e Berdinazzi, todo o Brasil estava na mesma página, todos estávamos unidos com um objetivo em comum.

Esquecíamos brevemente dos nossos -muitos- problemas e passávamos a acreditar, mesmo que por 90 minutos, que estávamos no caminho certo para uma vitória. Um triunfo que poderia muito bem ser uma representação das vitórias que nós, enquanto brasileiros, teríamos em outras partidas das nossas vidas. E é por isso que estamos pistolas! Porque se a gente deixar a raiva ir embora, talvez sejamos obrigados a encarar o fato de que mesmo que nos esforcemos, que lutemos e que batalhemos, talvez, no final das contas, não sejamos bons o suficiente para vencer na vida. Isso é um absurdo, esse pensamento é completamente anti-brasileiro. Nós somos gigantes pela própria natureza, a gente não quer balançar a rede, a gente quer arrancar a trave.

Ou seja, meus amigos da Seleção, o hexa é o menor dos seus problemas.

Olha, sabemos que perder uma competição é frustrante, mas é ainda mais frustrante perceber que vocês têm a possibilidade de retratar tudo aquilo que admiramos em nós mesmos e que nos unem enquanto povo (nossa criatividade, empatia, força, resiliência, ousadia e alegria) e que mesmo assim não somos correspondidos. O Brasil não é o país do futebol, é país da determinação, da atitude. O futebol "apenas" reflete isso.

E é por essa razão que a Seleção não tem que correr só atrás do título, tem que correr atrás é da gente, da torcida. As taças, os patrocínios, os cachês, os prêmios, os cheques gigantes, as cambalhotas no planalto, os Guaranás de graça, tudo isso serão consequências da recuperação da nossa confiança em vocês.

Nos tirem do banco de reserva, vamos jogar com 200 milhões de brasileiros em campo.

Queridos adversários gringos,
K K K K K K K K K K K K K !!!!

🏆🇧🇷🇧🇷VØÇ˧ FØŘÅM ÅŤÅČÅĐا PËĽØ§ BŘŧIĽËIŘا ĽØĶا🇧🇷🇧🇷🏆
😱😡😤🤔TÃO ACHANDO QUE VÃO TIRAR NOSSO HEXA???!!🤔😤😡😱
👌👌😂😂👀NÓIS VAMO JANTAR VOCÊS EM CAMPO KKKK 👀😂😂👌👌

E TRADUZ AI SOZINHO PORQUE QUEM TEM FILHO GRANDE É O CÁSSIO, KKKKKK

😎✌️😎 ATURA OU SURTA 😎✌️😎

Design e texto: Gabriel Sukita
Fotos: Daniel Ávila
Quem te deixou passando vontade durante todo o texto: Guaraná Antarctica
Quem vai ficar sem guaraná até julho: os gringos, kkkkkk