Mulheres poderiam se posicionar como Felipe Neto ao terem nudes vazadas?

Quando elas também poderão retomar para si o controle da narrativa após serem vítimas de um crime – e com humor além de firmeza, se assim desejarem?

Anteontem Felipe Neto subiu ao topo dos assuntos mais comentados do Twitter após ter trechos de vídeo íntimo de três anos atrás vazados na internet.

Reprodução / YouTube / Via youtube.com

Assessorado por sua equipe, um dia depois do acontecimento ele postou um vídeo falando sobre o caso.

No vídeo, ele conta como soube do vazamento, como definiu seu posicionamento e, rindo de si mesmo e com os haters, faz até um "melhores memes" sobre o assunto.

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Mas, ao final do vídeo, Felipe destacou com firmeza que compartilhar qualquer vídeo intimo sem autorização é crime e que medidas legais serão tomadas contra TODOS que compartilharam as imagens.

E justificou que o fará não apenas pelos prejuízos sofridos à sua imagem, mas porque acredita essa seja a melhor forma de coibir que outras pessoas sejam vítimas deste tipo de crime.

E reforçou: "Não é só uma contravenção, um pequeno problema que você causa. É crime e é um crime sério. Então, sim, nós vamos tomar as medidas cabíveis. Mas, sim, nós também vamos dar risada".

Não que falar sobre isso tenha blindado Felipe das críticas. Algumas pessoas chegaram a duvidar da própria autenticidade do vazamento.

Reprodução / YouTube

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Outras, de que sua reação no vídeo não tivesse sendo genuína.

Reprodução / YouTube

Mas, da forma como ele se posicionou, sobrou pouca munição para quem quisesse constrangê-lo. Qual é a graça de ofender alguém sobre a exposição de sua intimidade se a própria pessoa já falou sobre isso?

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Das 300 pessoas que registram no Safernet o compartilhamento de imagens íntimas sem autorização, 202 eram mulheres.

Os dados são de 2016.

Se o número de mulheres a sofrer com este crime é mais que o dobro do número de homens, por que é tão raro encontrar uma mulher que consiga retomar o controle da narrativa?

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Em 2012, Carolina Dieckman teve imagens íntimas divulgadas na internet após ter o email hackeado e sofrer uma tentativa de extorsão.

Reprodução / Rede Globo / Via g1.globo.com

Ela falou sobre o assunto uma semana depois do vazamento, em entrevista ao Jornal Nacional. Disse, na época, emocionada, que sua maior preocupação era de que essas imagens chegassem às mãos de seu filho de 13 anos sem ter a oportunidade de explicar. Um dos desdobramento do caso foi a criação da lei Carolina Dieckmann, que tipificou como crime a divulgação de imagens íntimas sem autorização. Ironicamente, ela não pôde usar a lei em seu processo, pois os fatos ocorreram antes da lei entrar em vigor.

Não que isso tenha blindado Carolina de comentários maldosos e do julgamento das pessoas.

Reprodução / G1

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E comentários sobre questões do âmbito íntimo.

Reprodução / G1

Um ano depois, Thamiris, uma estudante de 21 anos na época, fez um desabafo no Facebook expondo um ex-namorado que estava espalhando suas fotos íntimas em sites pornográficos.

Reprodução / Wordpress / Via feminismosemdemagogia.wordpress.com

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O arquivo com as fotos era acompanhado do endereço do perfil dela no Facebook. Ela chegou a receber mais de 100 mensagens de desconhecidos e falou sobre o que encontrou.

Reprodução / Wordpress / Via feminismosemdemagogia.wordpress.com

Em entrevista à Glamour, em janeiro de 2014, ela conta que chegou a pensar em se matar e que teve que parar sua vida e pensava em trancar a faculdade com medo de sair de casa.

O maior poder do nude vazado é a vergonha que a pessoa tem, seja homem ou mulher, de ter sua intimidade exposta e julgada. Mas o medo do assédio por parte de quem vê esse nude é praticamente exclusivo da mulher.

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