Mulheres geek falam sobre super-heróis, ciência e machismo

A cultura geek está em todo lugar: quadrinhos e games movimentam rios de dinheiro, a ciência se tornou pop e a tecnologia está em cada aspecto das nossas vidas. Algumas profissionais contam como é lidar com o machismo nessas áreas.

Alice Mongkongllite / BuzzFeed

"Eu lembro que, há muitos anos, um leitor me ligou apenas para dizer que tinha fantasias sexuais comigo e se masturbava pensando em mim. Passei o telefone para um colega homem, que gritou com ele até o cara recuar tremendo. Nunca mais voltou a telefonar. Só imagino o quanto teria sido pior pra mim se o Twitter e o Facebook existissem naquela época." — Rhianna Pratchett, roteirista de games conhecida pelo reboot da franquia "Tomb Raider"

"Eu fui chamada de 'cheirosa'. E [quando debato com os negacionistas das mudanças climáticas] eles me chamam de 'ingênua', coisas que nunca acontece quando os cientistas homens do mesmo nível que eu falam coisas semelhantes. Também já me disseram que eu só sigo falando com os negacionistas porque me sinto 'lisonjeada' por seus elogios — novamente, isso nunca é dito aos cientistas climáticos homens". Tamsin Edwards, cientista especialista em mudanças do clima

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Tracy King

"Meu exemplo favorito é o do cara que, depois de uma breve reunião em um evento nos EUA em que meu marido também estava presente, me enviou um e-mail para dizer: 'você sabe que nós dois estávamos pensando nisso: você, eu e um hotel'.

No mesmo evento, outro cara chegou até mim e acariciou minha perna, completamente do nada, enquanto meu marido estava de costas." — Tracy King, roteirista de games e animações, e produtora do filme de animação "Storm", de Tim Minchin

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"Homens inteligentes, mas que se sentem inadequados socialmente, criaram para si mesmos uma narrativa mental que diz mais ou menos 'Por que eu não pego mulher? Eu mereço pegar mulher. Portanto, as mulheres devem estar me evitando de propósito. Portanto, mulheres são más'."

Depoimento de uma psicóloga que quis permanecer anônima


"Esse mito começou a cair por terra ali por 2002-2003. As conferências de tecnologia começaram a se encher de homens informais, mas elegantes. Começaram a aparecer mulheres em conferências de tecnologia, mas apenas como elemento estranho naquele que era claramente visto como um domínio do homem. Então, em vez de convidar oradoras para falarem sobre suas pesquisas, havia uma série de discussões sobre 'mulheres na tecnologia', 'guetizando' as mulheres.

O painel mais revoltante de 'mulheres na tecnologia' que eu vi tinha a presença de uma modelo, que estava lá, ao que pude apurar, porque ela usava um telefone celular." — Conhecida jornalista de tecnologia que quis permanecer anônima

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Jamie Broadnax

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"Sou tratada de forma paternalista ou depreciativa por ser mulher pelo menos uma vez por dia.

Sempre que discuto temas como quadrinhos ou jogos, sempre vem um homem que aparentemente sentiu a necessidade de entrar na discussão e me corrigir.

Não que eu sempre esteja certa, porque não estou. Mas eu sei do que estou falando e não preciso ser corrigida simplesmente porque o cara se sente mais especialista do que eu." — Jamie Broadnax, autora do blog "Black Girl Nerds"

"Eu trabalhei em uma empresa onde todos, exceto eu, foram convidados a participar de um retiro de trabalho no fim de semana. Eu era a única mulher. A razão dada era que minha presença ia mudar a vibe do fim de semana, e as esposas dos homens convidados não iam curtir que eu fosse. Claro, porque eu iria só para seduzir os idiotas dos maridos delas.

Pedi demissão um pouco depois, quando ficou claro que eu tinha que atender os telefones, mas os homens não precisavam. As mulheres fazem isso melhor, pelo jeito. Não se esforcem, rapazes. Deve ser difícil realizar várias tarefas, pensar e ainda coçar o saco." — Tracy King

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"Uma das formas mais 'engraçadas' em que o sexismo se manifesta é o de menosprezar qualquer jogo que faça sucesso entre as mulheres, como se não fosse um 'jogo de verdade'. Geralmente usam esse argumento contra o Candy Crush, que por sinal é muito mais complexo do que, digamos, o xadrez. Se esse não é um jogo de verdade, então Tetris ou Space Invaders também não são.

Hoje não ligo de admitir que sou péssima em jogos de atirar, e acho 'FIFA' chato pra burro. Mas isso não é porque eu tenho ovários, é porque eu sou um ser humano com diversas habilidades e interesses, e algumas coisas me interessam mais do que outras." — Tracy King

"Eu não acho que [essa visão machista dos homens geek] seja a visão da maioria. Sempre me senti muito bem-vinda, e comecei como a única mulher em uma equipe só de homens, mas nunca me senti marginalizada ou maltratada por causa do meu gênero. Acho que se trata apenas de estabelecer um senso de camaradagem e paixão compartilhada." — Rhianna Pratchett

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"Em muitas ocasiões, colegas homens tentaram me levar menos a sério, apesar de todas as minhas credenciais acadêmicas ou profissionais. Para me defender disso, acabei desenvolvendo um tom de voz e um jeito de falar mais agressivos do que eu realmente sou. Uma pena." — Tracy King

Kimmo Mäntylä / Rex / REX USA

Rhianna Pratchett.

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"Acho muito tóxica essa coisa de simplesmente aceitar que a cultura geek seja um lugar de sexismo e de racismo. Nem todos os espaços nerds são assim, mas muitos são. Quando mulheres e pessoas negras começaram a levantar a voz contra algumas produções vindas do universo geek, encontraram essa resistência imediata e extrema." — Ana, do podcast Nerdgasm Noire

"Esses problemas existem em qualquer grupo dominado pelos homens. Os geeks não inventaram a misoginia ou a opressão ou as ameaças de estupro e morte. Eu cheguei a receber algumas dessas no bom e velho papel, enfiadas na minha caixa de correio por um 'stalker'. Nenhuma novidade." — Tracy King

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"Os geeks já foram considerados um grupo marginalizado. Eles eram 'o outro', fora da cultura pop mainstream.

Mas quando o termo 'nerd' foi criado nos anos 50, se referia especificamente aos homens brancos. Agora que a cultura geek se tornou diversificada, é vista como uma ameaça para muitos esses mesmos homens brancos que a adotaram quando começou." — Jamie Broadnax

Alice Bell

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"O tom condescendente e as microagressões se tornaram algo esperado por mim. Parece que os homens geeks brancos não são questionados da mesma forma que eu e outras mulheres geeks negras. Sempre supõem que somos novatas, que acabamos de entrar no mundo nos quadrinhos, games ou ficção científica, o que não é verdade." – Ana, do podcast Nerdgasm Noire

Thinkstock

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"Os homens não nos levam a sério porque somos mulheres, enquanto os brancos não acham que os negros fazem parte da cultura geek, devido às ideias supremacistas brancos do que é ser negro." – Jamie Broadnax

"Eu acho que a diversidade na indústria é importante, e não apenas de gênero, mas de etnia, idade, conhecimento etc. Eu acho que quanto mais vozes interessantes você tiver na sua equipe, melhor será o seu produto." – Rhianna Pratchett

Cern

Tamsin Edwards.

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"Eu já recebi tuítes me chamando de 'vadia burra' e 'princesa'. Recebi e-mails me chamando de 'garotinha bonita e burra' e dizendo que a física foi demais para minha linda cabecinha." – Tamsin Edwards

"As pessoas têm que aceitar que mulheres e pessoas que não são brancas não estão tirando nada da cultura geek. Estamos adicionando. Estamos adicionando nossas imagens, nossos ideais culturais, nosso léxico e nossas perspectivas na integração. A diversidade deve ser abraçada, não evitada. Nossas excentricidades são aquilo que nos torna quem somos. Além disso, sem diversidade tudo é mais chato." – Jamie Broadnax

Thinkstock

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Este post foi traduzido do inglês.

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