Moro diz que ex-senador pode ter esvaziado contas antes de ser preso

Total encontrado pelo Banco Central em contas de Gim Argello (PTB-DF) foi de menos de 1% de valor da propina que ele é suspeito de ter embolsado

Rodolfo Buhrer / Reuters

Gim Argello é acompanhado por policial federal na ocasião de sua prisão em abril: suspeita de ter esvaziado contas antes da Lava Jato bater à sua porta.

Acusado formalmente por cobrar pedágio na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para livrar empreiteiras envolvidas nos desvios da Petrobras, o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) é suspeito de ter esvaziado contas bancárias antes de ser preso pela Operação Lava Jato.

A suspeita surgiu quando o bloqueio de bens determinado pelo juiz Sergio Moro fracassou. Argello foi preso em 11 de abril durante a deflagração da fase Vitória de Pirro da Lava Jato.

Dos R$ 5,3 milhões que o magistrado da Lava Jato mandou congelar das contas de Argello, o Banco Central encontrou em uma das contas do senador somente R$ 46,5 mil - menos de 1% do total estimado da propina que ele é acusado de ter cobrado da OAS e Andrade Gutierrez. Outra conta em que ele é titular tinha saldo zero.

A investigação afirma que Argello prometeu (e cumpriu) barrar as convocações de executivos de empreiteiras da CPI da Petrobras, da qual ele foi vice-presidente, se em troca as empresas realizassem doações oficiais para partidos que apoiavam sua reeleição em 2014. Argello não se reelegeu naquele ano.

Uma parte da propina cobrada da OAS também foi parar na conta de uma paróquia católica do Distrito Federal, base eleitoral do ex-senador.

Em um documento que consta nos autos, Moro defendeu que Argello não fosse posto em liberdade pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 4a Região, sediado em Porto Alegre, porque, se libertado, o ex-senador teria “melhores condições” de ocultar patrimônio.

“O bloqueio de ativos decretado por este Juízo a pedido do MPF para recuperá-lo teve resultados pífios, sugerindo o esvaziamento das contas do paciente [Gim Argello] e de suas empresas antes da efetivação da medida [bloqueio]”, escreveu o juiz da Lava Jato.

“Assim, também remanesce o risco para recuperação do produto do crime, tendo o paciente, em liberdade, melhores condições de ocultar seu patrimônio da ação da Justiça e de prosseguir em atos de lavagem de dinheiro”, continuou.

Em uma das contas de um assessor de Argello, também alvo do bloqueio, o Banco Central encontrou somente R$ 107,75.

SENADOR NEGA CORRUPÇÃO

Nesta terça (10), o juiz Sergio Moro acolheu denúncia (acusação formal) feita pelo Ministério Público Federal e transformou Argello e outras 8 pessoas em réus em um processo criminal por corrupção e lavagem de dinheiro.

O magistrado rejeitou incluir o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, entre os réus por considerar que não havia provas de que sua empresa corrompeu o ex-senador.

A defesa do ex-senador Gim Argello negou que ele tenha participado de um esquema para achacar empresários durante a CPI da Petrobras. O BuzzFeed ainda não conseguiu contactar os defensores do ex-congressista para ouvi-los sobre a suspeita de esvaziamento das contas bancárias e o início do processo penal.

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