Marta e Haddad se detestam e nem é por causa da eleição de agora

O rancor nasceu quando trabalharam juntos. O entorno de Haddad conta que ela mandou medir o gabinete dele para substituí-lo no ministério da Educação. Agora adversários, a mágoa transborda.

Tatiana Farah / BuzzFeed Brasil

Num evento em São Paulo nesta sexta (19), alguém foi repercutir com o prefeito e candidato a reeleição, Fernando Haddad (PT), uma crítica da ex-colega de partido Marta Suplicy, hoje adversária pelo PMDB, a uma de suas propostas.

"A Marta gosta tanto de Paris, né? Pode um pouco explorar o modelo de lá", disse o prefeito sobre os subprefeitos serem escolhidos por voto direto. Dias antes, Marta chamara a proposta de "engodo populista".

A menção ao gosto de Marta Suplicy pelos encantos da capital francesa não foi aleatória. Era uma alusão a um dos episódios mais amargos da carreira política de Marta.

Em 2004, logo depois de perder a reeleição para o tucano José Serra, a então prefeita petista resolveu tirar 10 dias de férias em Paris. Quando Marta estava na França, São Paulo foi castigada por chuvas e o túnel na avenida Rebouças alagou. Seis carros ficaram presos na inundação.

A oposição tucana fez a festa com o episódio da cidade mergulhada em água e caos, enquanto a perdedora relaxava no exterior.

Aquilo ficou tão marcado na memória de Marta que, quase dez anos mais tarde, novamente em Paris (para cumprir uma agenda oficial como ministra da Cultura, não de férias), o assunto voltou à tona.

Em maio de 2014, numa roda de jornalistas brasileiros, durante a abertura da exposição do painel "Guerra e Paz", de Candido Portinari (1903-1962), no Grand Palais, Marta contou que até iria se abster de fazer compras na cidade em seu horário de folga para evitar fofocas.

Segundo a então ministra, o tratamento conferido pela imprensa à sua vida pessoal sempre foi distinto do dispensado aos seus colegas homens.

Haddad, portanto, conhecia bem o calo em que resolveu pisar na sexta-feira.

O rancor nasceu quando ela era a chefe e ele, subordinado.

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Tatiana Farah / BuzzFeed Brasil

Marta foi eleita prefeita de São Paulo em 2000. Para a secretaria de Finanças, ela escolheu o ex-ministro João Sayad. Ele levou um jovem intelectual da USP para ser seu número 2.

Era Fernando Haddad, então com 38 anos, que chegou para trabalhar com fama de garoto-prodígio (formado em direito, mestre em economia e doutor em direito pela USP).

Ela atribui a Haddad a ideia de instaurar a taxa do lixo. A cobrança fez colar na então prefeita o apelido de "Martaxa" e, ainda hoje, é considerada por ela uma das causas na sua derrota para Serra, em 2004.

Marta já reconheceu a taxa como um erro de sua gestão.

Haddad diz que a taxa foi "uma encomenda do gabinete da prefeita" –isto é, segundo ele, teria havido uma decisão política do gabinete de aumentar impostos em razão da penúria das contas públicas herdada do malufista Celso Pitta [prefeito na gestão 1997-2000, morto em 2009].

O arquiteto chegou com a trena na mão, diz a entourage de Haddad.

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Tatiana Farah / BuzzFeed Brasil

Se a taxa de lixo despejou as primeiras gotas de mágoa, o potinho foi se enchendo durante a Presidência de Lula.

A entourage do atual prefeito gosta de contar que Marta Suplicy tentou derrubar Haddad para tomar o lugar dele no Ministério da Educação no final de 2006, quando Lula se reelegeu.

Na versão dos aliados de Haddad, Marta chegou a mandar um arquiteto para medir o gabinete do então ministro para realizar mudanças quando fosse empossada na pasta.

Um dos assessores conta que o arquiteto chegou com uma trena na mão e Haddad ficou no gabinete, despachando, enquanto o homem media o local. O ministro teria contado a história a Lula.

Pessoas ligadas a Marta dizem que ela chegou a ser cogitada para a Educação, mas que a história do arquiteto e da trena é fantasiosa, maldade de adversário.

Lula manteve Haddad no posto e Marta viria assumir, em 2007, o Ministério do Turismo –pasta considerada de segunda divisão, conforme a matemática de Brasília.

Em 2012, Lula impôs Haddad e jogou Marta para escanteio. Agora, ela trocou de partido e está na frente do petista.

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Em 2012, Marta foi novamente preterida por Lula, que ungiu Haddad –um tecnocrata sem experiência nas urnas– o seu candidato em São Paulo.

Repetiu em São Paulo o que fizera dois anos antes impondo Dilma Rousseff como sua sucessora.

Marta trocou o PT pelo PMDB. Ela está em segundo lugar nas intenções de voto, segundo o Datafolha, com 16% –o dobro do índice de Haddad.

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