As vezes o marketing e o hype são maiores que a qualidade dos games - e temos uma lista para provar

Em alguns casos, é como se a empolgação pelos novos jogos fosse maior do que o que eles podem realmente entregar ao público final.

Quem acompanha o mundo do entretenimento, em especial o universo dos jogos, sabe muito bem como a expectativa pelo lançamento de um grande título, ou o seu mero anúncio, movimenta a indústria. 

São dias marcados por especulações, rumores, vazamentos, teorias... Nasce um sentimento ímpar que preenche o coração dos fãs dos mais diversificados segmentos e acaba movimentando, e muito, a indústria. Ora, basta ver como um simples trailer de um novo título de jogo deixa os fãs ensandecidos, isso sem nem mesmo mostrar um mero vislumbre de seu gameplay. Cenas pré-renderizadas ou mesmo um simples logo são capazes de não só criar expectativas exorbitantes, como fazer também ações de empresas e número de vendas de consoles subirem vertiginosamente. Isso, meus caros, chamamos popularmente de hype.

Esse conceito que deriva do termo inglês hyperbole (exagero) transmite a ideia de algo que se tornou altamente popularizado. Como se fosse algum produto que se tornou viral. A indústria se utiliza dessa popularização do que ela produziu para conseguir alcançar altos níveis de vendas. Não é uma prática incomum ou mesmo ruim em sua essência, afinal de contas todos nós gostamos de um bom hype, não é mesmo?

O que chama a atenção é como esse movimento tem a capacidade não só de aumentar vendas, mas também de tornar algo que não é tão bom assim em um produto extremamente cobiçado (e o contrário também!). Não são poucos os casos de hypes fabricados pela indústria do entretenimento onde se cria um imenso investimento em marketing, mas, no fim, o que temos é a entrega de um produto mediano.

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É quase impossível falar sobre esse tema sem mencionar o último dos grandes hypes de jogos que acabou se tornando um lançamento controverso entre os fãs: "Cyberpunk 2077". 

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O jogo foi anunciado no longínquo ano de 2012 como sendo um título de mundo aberto ambientado no cenário futurista de Night City. Automaticamente o Hype foi instalado no coração dos fãs, afinal de contas tratava-se de um grande título, fruto do fantástico estúdio polonês CD Projekt Red (responsável pela aclamada franquia "The Witcher"). Não havia como não se empolgar! Os anos foram passando, o Hype foi sendo alimentado com cada simples notícia do jogo, e as expectativas crescendo mais e mais. Esse movimento constante seguiu até o dia 10 de dezembro de 2020 quando, finalmente, o jogo foi lançado e... Não era tudo aquilo que os fãs esperavam.

Com cenários inferiores aos mostrados em trailers, bugs constantes e um do desempenho precário em algumas plataformas, "Cyberpunk 2077" conseguiu criar uma grande crise dentro de um estúdio promissor. 

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O grande problema aqui foi que até mesmo a imprensa especializada foi utilizada no processo, pois as cópias de avaliação que foram enviadas para os reviews acabaram sendo apenas para PC e não para os consoles da geração passada (a qual o jogo havia sido inicialmente anunciado). Assim, quando aconteceu o lançamento oficial, tínhamos críticas positivas ao jogo, mas, na prática, nem todos os consumidores tiveram uma experiência realmente boa do produto. Posteriormente, alguns patchs de correção foram lançados, mas nada capaz de mudar a imagem do jogo - o estrago já havia sido feito. Foi uma enxurrada de pedidos de devolução dos valores gastos, e vídeos e mais vídeos mostrando os bugs do jogo. Tudo isso fora os escândalos de abusos trabalhistas dentro do processo de desenvolvimento (deixemos esse assunto para um texto futuro).

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Esse é apenas um exemplo de Hype fracassado, mas temos muitos outros! "Halo Infinite" é o grande título da Microsoft, o nome usado para vender os consoles da empresa a cada nova geração. Além de ter sido adiado inicialmente para um melhor desenvolvimento, até o presente momento ainda não caiu no gosto dos jogadores como os títulos anteriores. 

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A Nintendo passou pelo mesmo problema como "Mario Strikers: Battle League" e sua falta de conteúdo inicial, além, claro, do tão falado "Pokémon Scarlet" e "Violet", e sua total falta de polimento. Já com a Sony temos o belíssimo "Horizon: Forbiden West", que teria tudo para ser um título imenso, com vendas exorbitantes (tudo o que as empresas mais desejam), mas, apesar de ser amado por muitos, carrega o título de ser uma franquia que simplesmente não decola, pelo menos não como a sua desenvolvedora tenta vender com o seu marketing gigantesco. 

Esses são apenas alguns exemplos de como o Hype alimentado pela indústria pode se tornar uma faca de dois gumes. Poderíamos citar inúmeros outros, mas o nosso foco aqui é outro. A pergunta que me fez trazer essa reflexão é simples: Até onde o hype é saudável? Até onde esse tipo de Marketing faz realmente bem para o produto e para quem o consome?

Não acredito que o Marketing de hype seja algo essencialmente ruim, pois, como já falamos anteriormente, ele movimenta a indústria e faz com que o interesse pelo produto seja real. O problema, a meu ver, consiste na forma como ele é utilizado. Afinal de contas, quando se possui um produto de qualidade, que vai atender as expectativas do público, o hype não é algo ruim. Agora apresentar um produto mediano, que apenas replica formas já estabelecidas no mercado como sendo algo inovador e revolucionário é uma prática que, obviamente, vai gerar uma frustração real por parte do consumidor. Isso faz com que um título que poderia ser um sucesso se torne apenas um produto que vai ficar mais em destaque antes do seu lançamento do que após a sua chegada nas mãos do consumidor. 

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Agora quando a empresa possui um produto realmente bom, o hype acaba se tornando quase que desnecessário para a sua boa recepção por parte do público. Destaco aqui um título lançado a poucas semanas que fez isso de maneira maestral: "Hi-Fi Rush". O jogo se trata de uma mistura de "Hack n Slash" com elementos rítmicos frenéticos! 

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Desenvolvido pela Tango Game Works, estúdio do aclamado Shinji Mikami (responsável pelos primeiros títulos de "Resident Evil"), "Hi-FI Rush" trouxe não só um sopro de frescor para a indústria como mostrou que é possível garantir um sucesso sem hype algum! Digo isso pois o jogo foi anunciado em 25 de janeiro de 2023 e lançado no mesmo dia! Ou seja, não houve tempo para se criar expectativas. O jogo acabou sendo vendido por si só e... Sucesso! Tanto de crítica quanto de público. Outro título grande que aderiu a essa prática foi "Metroid Prime Remastered", sendo lançado no mesmo dia de seu anúncio. Eis um excelente exemplo de que um bom produto faz com que o hype não seja tão necessário assim.

Seria então a solução o fim dos anúncios muito antecipados ou investir menos em Marketing? Acredito que não. O ponto é que diante dessa realidade é quase impossível não perceber que, ao mesmo tempo em que o hype pode fazer com que expectativas desmedidas sejam criadas, ele também faz com que outros títulos não tão populares sejam esquecidos. Isso acontece em larga escala com títulos bem produzidos, e que acabam sendo esquecidos. E muitos títulos que não foram “hypados” acabam sendo deixados de lado, e futuramente vão se tornar sucessos cult nas listas de “melhores jogos esquecidos de tal plataforma”. 

Minha grande crítica ao hype é ao mal que ele pode fazer, não à indústria, mas ao consumidor quando não é bem direcionado. Vivemos em um universo de algoritmos e cookies que sabem muito bem o que gostamos, mas quando não se sabe usar esses interesses do público-alvo para produzir algo de qualidade, o que temos é apenas uma enxurrada de títulos genéricos e sem vida. É como se a empolgação pelos novos jogos fosse maior do que o que ele pode realmente entregar ao público final. Isso é uma realidade que estamos convivendo há um certo tempo. Não quero dizer que o hype deve acabar ou coisa do tipo, afinal de contas, esse sentimento de expectativa é bom, une a comunidade em torno de um ponto. Mas é preciso aprender que nem tudo vai ser como queremos.

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