Mansão de operador da Máfia da Merenda tem dívida de R$ 500 mil em IPTU

Ex-presidente da assembleia paulista, Leonel Julio acumulou dívida referente a 17 anos do imposto de uma mansão que sediou encontros para definir pagamentos de propina.

Este é Marcel Julio, operador da Máfia da Merenda que fechou acordo de delação premiada para entregar seus ex-comparsas. Enquanto ele desviava dinheiro da comida escolar com a ajuda do pai, o ex-deputado estadual Leonel Julio, sua família deixou de pagar mais de R$ 500 mil em IPTU.

EPTV/Reprodução

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Os impostos atrasados somam R$ 493.971,22, de acordo com os registros da dívida ativa da Prefeitura de São Paulo. Se for incluído o IPTU deste ano, que ainda está em aberto, o valor devido por Leonel Julio totaliza R$ 514.772,63.

A dívida é referente a uma casa de alto padrão no Morumbi, região nobre de São Paulo, com 388 m² de área construída. O valor venal do imóvel, que serve como base para o cálculo do IPTU — e é menor que o preço de mercado —, é de R$ 1,7 milhão.

O imposto não é pago desde 1999.

Google Street View/Reprodução

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A prefeitura paulistana adota o valor de R$ 2.210 por metro quadrado para calcular o valor venal. De acordo com o índice Fipe/Zap Imóveis, o valor médio do metro quadrado em imóveis semelhantes, na mesma região, é de R$ 5.569.

Um imóvel pode ir a leilão caso o proprietário não quite IPTUs atrasados. A Prefeitura de São Paulo está cobrando os valores na Justiça.

Leonel Julio comprou a casa em 1988, de acordo com o registro público. O imóvel sediou algumas das reuniões de integrantes da Máfia da Merenda, segundo relatou um dos investigados, na condição de anonimato, ao BuzzFeed Brasil.

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Os nomes dos vendedores e os detalhes pessoais foram omitidos para proteger a identidade dos envolvidos.

Nesta quarta (22), após seis meses de idas e vindas, terá início a CPI da Máfia da Merenda. Oito dos nove integrantes são aliados do presidente da assembleia paulista, Fernando Capez (PSDB), acusado por Marcel Julio de ter se beneficiado do esquema de desvios da merenda escolar no Estado.

O tucano nega qualquer envolvimento.

Ravena Rosa/Agência Brasil

Estudantes protestam em frente à Assembleia de São Paulo, pedindo o início da CPI.

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De acordo com o depoimento de Marcel Julio, o dinheiro teria sido desviado para a campanha de Capez em 2014.

"Aproveitaram-se do uso indevido de meu nome para inserir cunho político eleitoral na Operação Alba Branca", afirmou o político em nota.

Não é de hoje que Leonel Julio aparece em escândalos. Em 1976, quando era presidente da assembleia paulista, ele foi cassado após gastar dinheiro da verba de gabinete para comprar itens pessoais — inclusive calcinhas para uma amante. O episódio ficou conhecido como Escândalo das Calcinhas.

O Estado de S. Paulo/Reprodução

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Leonel Julio teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar, por 10 anos, e nunca mais concorreu a nenhum cargo eletivo — o que não o impediu de manter sua influência junto à classe política do Estado.

Aos 80 anos de idade, Leonel foi preso em março deste ano. Seu filho, um dos membros-chave do esquema, continuou foragido. A prisão de Leonel foi crucial para que Marcel decidisse se entregar a fechar o acordo de delação — logo depois, o pai dele foi solto.

Na delação, Marcel explicou que seu papel era aproximar os integrantes da cooperativa que aplicava a fraude a membros de prefeituras paulistas interessados em participar do esquema. Para tanto, ainda de acordo com Marcel, ele se aproveitava da influência política de seu pai.

O BuzzFeed Brasil não conseguiu contato com os defesores de Marcel e Leonel Julio. A reportagem entrou em contato na terça-feira (21) com o advogado Pedro Menin, constituído pelos dois no início das apurações da Operação Alba Branca, mas ele afirmou que não os representa mais.

O advogado não soube informar se pai e filho já contrataram um novo defensor. Nos registros da Justiça, Menin ainda aparece como o representante deles.

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