Macri defende referendo na Venezuela e acusa ex-governo argentino de maquiar estatísticas

Em entrevista exclusiva ao BuzzFeed, presidente da Argentina também falou de sua relação com Cristina Kirchner, da ditadura militar e da pobreza no país.

O presidente da Argentina, Maurício Macri, voltou a criticar a Venezuela nesta quarta (10), em entrevista exclusiva ao BuzzFeed News transmitida ao vivo pelo Facebook. “Tenho um compromisso absoluto com o respeito dos direitos humanos, e o que está acontecendo na Venezuela é um desastre. Claramente, o governo Nicolás Maduro tem que dar lugar a um referendo, para que haja novas eleições”, defendeu.

A Venezuela enfrenta uma grave crise política e econômica. Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional previu que a inflação no país neste ano será maior que 700% (em 2015, foi 180%) e a queda do PIB será de 8%. Faltam produtos básicos nas prateleiras dos supermercados, assim como remédios. A criminalidade também aumentou.

Agustin Marcarian / Reuters

O presidente da Argentina, Maurício Macri, durante entrevista em Buenos Aires em 8 de agosto

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Nesse meio tempo, a Venezuela postula pela presidência rotativa do Mercosul, mas enfrenta a resistência dos sócios-fundadores do bloco, como Brasil e Argentina.

Segundo o jornal “Folha de S.Paulo”, os sócios avaliam rebaixar a Venezuela, de modo que ela não possa ocupar o cargo, sob a justificativa de que o país não cumpriu todos os requisitos necessários para se alçar como membro-pleno. Esse assunto também foi abordado por Macri nesta quarta: “A Venezuela não cumpriu os requisitos que foram exigidos pelo Mercosul há quatro anos. Ela não tem direito à Presidência, ela ainda não é um membro pleno.”

Ditadura argentina

Na entrevista, Macri se negou a dimensionar o número de vítimas da ditadura na Argentina (1976-1983). Existe no país uma polêmica sobre a cifra de mortos, desaparecidos e sequestrados no período.

Algumas organizações de direitos humanos estimam 30 mil, dados do governo (de 2006) apontam para cerca de 8.000 e aliados do presidente, como Darío Lopérfido, ministro da Cultura de Buenos Aires, já disseram que as estimativas de algumas entidades são superdimensionadas. Macri, por sua vez, resolveu se eximir da polêmica. “Não tenho ideia [de quantos foram]. É um debate que não vou entrar, que não faz sentido”, disse. “Foi o pior que já aconteceu na nossa história.”

Eitan Abramovich / AFP / Getty Images

Mães e Avós da Praça de Maio fazem manifestação em Buenos Aires e mostram faixa com retratos de argentinos desaparecidos durante a ditadura (1976-1983)

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Embora tenha defendido esclarecimentos sobre o período, Macri afirmou que “a maior prioridade [do governo] é trabalhar com os direitos humanos do século 21: o acesso à educação, à saúde, ao trabalho, ao bom transporte público, as ferramentas que as pessoas precisam para ser felizes”.

Pobreza e tarifaço

Ele rejeitou dados que mostram que a pobreza aumentou na Argentina desde que chegou ao poder (em janeiro deste ano) e defendeu que as estatísticas anteriores – do governo de Cristina Kirchner (20017-2015) e de seu marido, Néstor (2003-2007) – foram maquiadas. “Só deixamos a situação clara. O governo anterior se baseava na mentira, alterando as estatísticas oficiais. Fazia mais de cinco anos que o país estava estagnado, que não criava um emprego. Dito isso, se eu não reduzir a pobreza no meu governo, terei fracassado.”

Por essa mesma razão, ele também defendeu o drástico aumento que seu governo instituiu nas contas de água, luz e gás (em alguns lugares, a tarifa subiu 500%): “Não tínhamos outra alternativa. Estávamos com um sistema quebrado. O valor da energia precisava ser real. A energia é a chave do crescimento”

Seria então Cristina Kirchner a maior aliada de Mauricio Macri, perguntou a repórter do BuzzFeed, ao ter as denúncias de corrupção e de má-conduta contra ela sempre desviando a atenção dos escândalos do novo governo? Macri desconversa. “Cristina é a ex-presidente e sempre foi uma figura controversa. Seu estilo de política é diferente do meu".

Veja a entrevista completa (em espanhol), abaixo:

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