Maconha deixou de ser doping na Olimpíada, só que não exatamente

A treta canabidiol versus THC segue forte.

Temos visto muitas diferenças nos Jogos Olímpicos de Tóquio, como mais mulheres e mais representatividade LGBTQIA+ nas delegações. Outra coisa também mudou: o canabidiol, extraído da cannabis, foi retirado da lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada).

MediaNews Group/East Bay Times via Getty Images/Cliff Hawkins/Getty Images

Isso significa que atletas que utilizam canabidiol (também chamado de CBD) para fins terapêuticos não sofrerão punições.

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Muitos recorrem a ele para tratar lesões, dores e questões mentais, como ansiedade e depressão. É possível encontrar o CBD em diversos formatos: de óleos que podem ser ingeridos até spray, cápsulas e cremes de massagem.

Leon Neal/Getty Images

Atletas olímpicos brasileiros, como o tenista Bruno Soares e o maratonista Daniel Chaves, já disseram que são adeptos do CBD.

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A não proibição pode ser vista como uma vitória para quem luta pela legalização da cannabis. Mas as coisas não são tão simples assim.

"Essa ‘saída do armário’ em relação ao uso terapêutico do canabidiol por atletas de alto rendimento faz as pessoas refletirem e se interessarem sobre o assunto", explica Thainá Bak, publicitária e fundadora da Nowdays, uma plataforma digital de conteúdos sobre cannabis.

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Mas ela levanta também uma outra reflexão: "A separação do CBD e do THC entre irmão do bem e do mal não condiz com a realidade".

Acontece que a maconha possui diversas substâncias, como o CBD e o THC, sendo este responsável pelos famigerados efeitos alucinógenos. Ou seja: o CBD não deixa ninguém chapado. O THC, sim – e ele é proibido pela Agência Antidoping.

Martin Deja/Getty Images

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De acordo com o médico neurologista Renato Anghinah, CMO global da HempMeds, primeira empresa brasileira a importar com autorização da Anvisa o produto para o Brasil, o THC é proibido por ser um psicoestimulante.

“O uso do THC é proibido não exatamente por que tem um risco à saúde, mas por que pode eventualmente aumentar a performance do atleta do ponto de vista de ele estar mais ligado, mais atento”, explicou ao site Smoke Buddies.

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A atleta americana Sha'Carri Richardson, forte candidata ao ouro nos Jogos Olímpicos, foi pega no exame antidoping, que apontou o uso de THC. Eliminada da competição, ela postou em seu Twitter a seguinte frase: "Eu sou humana".

Patrick Smith/Getty Images

Thainá comenta o acontecido: "Sha’Carri falou à imprensa que fumou maconha para sua saúde mental, após descobrir o falecimento da sua mãe. A suspensão de uma atleta negra, promessa do atletismo, por testar positivo acima do permitido para THC em 2021 é inaceitável".

Cliff Hawkins/Getty Images

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Para ela, o avanço do debate sobre a cannabis ainda tem chão. "Quando achamos que tínhamos dado passos à frente, percebemos que o caminho ainda está longe do ideal."

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Para Thainá é importante que a Agência Antidoping tenha tirado o canabidiol da lista de substâncias proibidas, mas ela reforça que o CBD é apenas um componente de uma planta que contém uma variedade gigantesca de substâncias com outros potenciais terapêuticos.

"Não é positivo que o CBD seja visto separadamente, enquanto o THC segue demonizado e cheio de estigmas. A planta é a mesma e deve ser tratada em sua totalidade", propõe.

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O debate é importante e pode ser que na próxima Olimpíada já tenhamos um cenário diferente.

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