Maconha deixou de ser doping na Olimpíada, só que não exatamente
A treta canabidiol versus THC segue forte.
Temos visto muitas diferenças nos Jogos Olímpicos de Tóquio, como mais mulheres e mais representatividade LGBTQIA+ nas delegações. Outra coisa também mudou: o canabidiol, extraído da cannabis, foi retirado da lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping (Wada).
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Isso significa que atletas que utilizam canabidiol (também chamado de CBD) para fins terapêuticos não sofrerão punições.
Muitos recorrem a ele para tratar lesões, dores e questões mentais, como ansiedade e depressão. É possível encontrar o CBD em diversos formatos: de óleos que podem ser ingeridos até spray, cápsulas e cremes de massagem.
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A não proibição pode ser vista como uma vitória para quem luta pela legalização da cannabis. Mas as coisas não são tão simples assim.
Acontece que a maconha possui diversas substâncias, como o CBD e o THC, sendo este responsável pelos famigerados efeitos alucinógenos. Ou seja: o CBD não deixa ninguém chapado. O THC, sim – e ele é proibido pela Agência Antidoping.
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De acordo com o médico neurologista Renato Anghinah, CMO global da HempMeds, primeira empresa brasileira a importar com autorização da Anvisa o produto para o Brasil, o THC é proibido por ser um psicoestimulante.
“O uso do THC é proibido não exatamente por que tem um risco à saúde, mas por que pode eventualmente aumentar a performance do atleta do ponto de vista de ele estar mais ligado, mais atento”, explicou ao site Smoke Buddies.
A atleta americana Sha'Carri Richardson, forte candidata ao ouro nos Jogos Olímpicos, foi pega no exame antidoping, que apontou o uso de THC. Eliminada da competição, ela postou em seu Twitter a seguinte frase: "Eu sou humana".
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Thainá comenta o acontecido: "Sha’Carri falou à imprensa que fumou maconha para sua saúde mental, após descobrir o falecimento da sua mãe. A suspensão de uma atleta negra, promessa do atletismo, por testar positivo acima do permitido para THC em 2021 é inaceitável".
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Para ela, o avanço do debate sobre a cannabis ainda tem chão. "Quando achamos que tínhamos dado passos à frente, percebemos que o caminho ainda está longe do ideal."
Para Thainá é importante que a Agência Antidoping tenha tirado o canabidiol da lista de substâncias proibidas, mas ela reforça que o CBD é apenas um componente de uma planta que contém uma variedade gigantesca de substâncias com outros potenciais terapêuticos.
"Não é positivo que o CBD seja visto separadamente, enquanto o THC segue demonizado e cheio de estigmas. A planta é a mesma e deve ser tratada em sua totalidade", propõe.
O debate é importante e pode ser que na próxima Olimpíada já tenhamos um cenário diferente.
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