A CPI da Covid tem reforçado como ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelos homens quando o assunto é respeito e paridade de gênero. Situações de machismo ocorrem tanto com as pouquíssimas senadoras da casa como também com as depoentes.
Essa é, inclusive, umas das situações mais recorrentes. Dá até pra dizer que o manterrupting, expressão em inglês para quando um homem interrompe uma mulher, é um clássico na comissão (e nas nossas vidas também).


E não são poucos os exemplos que têm rolado na CPI: no dia 20 de maio, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi interrompida pelo depoente Pazuello pelo menos 11 vezes, conforme contabilizou uma reportagem da Folha.
"Ah, mas todo mundo interrompe todo mundo", você pode pensar. E você está pensando errado. Um estudo de 2014, realizado na Universidade de George Washington (EUA), apontou que mulheres são duas vezes mais interrompidas que homens em conversas neutras. E o manterrupting segue na pandemia: uma pesquisa da consultoria Catalyst, de 2020, mostrou que 45% das líderes mulheres afirmam ter dificuldade em falar em videocoferências.


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"Calma, não fique nervosa."
Já em outra ocasião, no dia 12, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) mandou um "Calma, não fique nervosa" para a senadora Leila Barros (PSB-DF). Por que toda vez que precisamos nos impor, somos vistas como agressivas ou nervosas?
Não que surpreenda, mas até mesmo o presidente da CPI, Omar Aziz, já pediu que a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) não fosse "agressiva".
Representatividade importa muito. E a falta dela provoca ainda mais disparidade na hora da construção de diálogos como os que são feitos na CPI. As mulheres representam menos de 15% das cadeiras do Senado, que tem 81 senadores e somente 11 senadoras.
E, claro: enquanto esse cenário for desigual, continuaremos sendo vistas como agressivas e continuaremos sendo interrompidas.