Lucas Silveira fala sobre seu amor pelo pagode: 'Dá pra ser muito popular e muito foda'
O roqueiro tem mostrado amor pelo ritmo no TikTok e garante: não é roqueiro "racista" ou "arrombado".
"A gente que é roquista, às vezes, foca o nosso aprendizado musical em muito ritmo, timbre, no objetivo de fazer um bagulho pesado. Então é só tirar uma música do Vinícius de Moraes que rola um 'oh meu Deus, que arranjo impressionante'. O pagode não. As composições impressionam quem estuda Jazz!", clama Lucas Silveira, vocalista da Fresno.
O músico, que entrou pra história da música brasileira como uma das principais vozes do Emo - sonzeira que dominou a passos largos qualquer Top 10 da primeira década do século -, está usando as redes agora pra defender o bom e velho pagode.
Numa série de vídeos intitulada "Pagode Supremacy", ele analisa composições pagodeiras no detalhe. Explicando como o ritmo, apesar de desprezado, é complexo e poderoso.
O timing também ajudou. Foi bem nessa fase que o Brasil conheceu um dos maiores casamentos musicais de que se tem notícia: o do produtor Arnaldo Saccomani com o Pagode Romântico.
Divulgação / SBT
"Nós chamamos de a era Saccomânica. Mentira, eu inventei essa palavra agora", brinca.
Em 1995, depois de produzir Os Mutantes e Tim Maia, Saccomani começou a escrever músicas para Os Travessos. Mudou para sempre o gênero.
Com harmonias cada vez mais complexas, o pagode foi se tornando um dos ritmos mais densos da nossa música. O público amava, e consequentemente, as rádios tacavam replay. A era de ouro do ritmo. "Quando uma cena musical bomba, vai rolando uma busca por uma excelência, uma busca por uma diferenciação - até no Emo aconteceu isso", afirma Lucas. "E nessa hora as coisas vão ficando cada vez mais rebuscadas… Por isso, quando chegou no começo dos anos 2000, o bagulho já tava muito louco."
Em 2003, Saccomani produzia "Dito e Feito", dos Travessos, com hits pagodeiros como "Alô". No mesmo ano, Lucas despontava no segundo álbum da Fresno "Quarto dos Livros", que colocou a banda no radar do então embrionário emo brasileiro.
Mais uma vez, a sincronia veio a calhar.