L'Oréal dispensa sua primeira modelo trans após polêmica com post no Facebook sobre o privilégio branco

"Grandes marcas estão dispostas a lucrar com mulheres negras sem lutar por elas", disse Munroe Bergdorf ao BuzzFeed News.

No início da semana, a modelo Munroe Bergdorf fez história quando foi anunciada como a primeira mulher abertamente transgênera a liderar uma campanha da L'Oréal no Reino Unido.

Hannah Young / Hannah Young/REX/Shutterstock

O anúncio recebeu boa cobertura da imprensa, e a L'Oréal foi elogiada por sua nova campanha focada na diversidade.

"Munroe Bergdorf faz história como a primeira mulher abertamente trans a ter uma campanha própria na L’Oréal britânica"

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No entanto, nesta semana, o site Daily Mail escreveu uma matéria sobre uma postagem no Facebook que Bergdorf escreveu após o violento protesto da extrema direita em Charlottesville, na Virgínia (EUA), em que ela aparentemente exigia que as pessoas brancas "admitissem que sua raça é a força mais violenta e opressiva da natureza na Terra".

A postagem foi deletada, mas o Daily Mail disse ter o texto dela:

"Porque a maioria de vocês nem mesmo percebe ou se recusa a saber que sua existência, seu privilégio e seu sucesso como raça são construídos nas costas, no sangue e na morte de pessoas não brancas. Sua existência inteira é saturada de racismo. De microagressões a terrorismo, vocês criaram o esquema para essa m****.

"Venham me ver quando perceberem que o racismo não é aprendido, mas sim herdado e consciente ou inconscientemente transmitido por meio do privilégio.

"Quando as pessoas brancas começarem a admitir que sua raça é a força mais violenta e opressiva da natureza na Terra... então poderemos conversar.

"Até lá, continuem a se fingir de chocados sobre como o mundo continua a se f**** nas mãos dos seus ancestrais e com suas cabeças enterradas na areia com as mãos nos ouvidos.

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A L'Oréal também deletou o vídeo promocional da campanha de Bergdorf da sua página oficial no Youtube.

YouTube

Logo depois, Bergdorf publicou sua própria declaração em sua página do Facebook. Na postagem, ela chamou a atenção do Daily Mail por ter alegado que sua declaração foi feita nesta semana e por ter descontextualizado as palavras dela. Ela também mencionou a L'Oréal por ter falhado em reconhecer problemas velados de racismo na indústria da beleza.

      

“Primeiro, vamos contextualizar minhas palavras, o que o Daily Mail não fez. Este ‘discurso retórico’ foi uma resposta direta à violência de SUPREMACISTAS BRANCOS em Charlotesville. Não foi escrito nesta semana.

Segundo, dizer que o sucesso do Império Britânico ocorreu às custas das pessoas não brancas não deveria ofender NINGUÉM. É um fato. Aconteceu. A escravidão e o colonialismo, nas mãos de supremacistas brancos, tiveram um grande papel em fazer do Reino Unido e muito do Ocidente na potência que é hoje.

Quer você tenha consciência disso ou não, na sociedade de hoje, quanto mais clara for sua pele (pessoas não brancas inclusas), mais privilégios sociais você tem. Quer isso seja acesso à moradia, saúde, emprego ou crédito. A raça de uma pessoa e a cor de sua pele tem um ENORME papel em como ela é tratada pela sociedade como um todo, baseada em sua proximidade com a branquitude.

Quando eu disse que “todas as pessoas brancas são racistas”, eu estava me referindo ao fato que a sociedade ocidental como um todo é um SISTEMA enraizado no supremacismo branco – pensado para beneficiar, priorizar e proteger pessoas brancas em detrimento de qualquer outra raça. Mesmo sem saber, pessoas brancas são SOCIALIZADAS para serem racistas desde o nascimento. Não é algo genético. Ninguém nasce racista. 



(…)



Se a L’Oréal realmente quer empoderar mulheres sub-representadas, então eles precisam reconhecer A RAZÃO pela qual essas mulheres são sub-representadas na indústria em primeiro lugar. A razão é a discriminação. Precisamos falar sobre por que mulheres não brancas foram e ainda são discriminadas pela indústria, não ver elas apenas como fonte de lucro."

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Logo depois da decisão da L'Oréal de cortar relações com Bergdorf, ela postou novamente no Facebook, dizendo que a marca não liga para "nada" além de dinheiro, como também insistiu para que as pessoas boicotassem a marca.

      

Em entrevista ao BuzzFeed News, Bergdorf disse que, se a L'Oréal realmente ligasse para a diversidade, a marca a teria apoiado.

"Grandes marcas estão dispostas a lucrar com mulheres negras sem lutar por elas", disse ela. "Não estou dizendo que todas as pessoas brancas são racistas. O que estou dizendo é um fato social. Pessoas brancas são socialmente condicionadas a serem racistas da mesma forma que homens são condicionados a serem misóginos. Isso é a sociedade – o que o Daily Mail fez não foi apenas me fazer parecer uma pregadora do ódio, como também direcionou ódio contra mim. Eu esperava mais da L'Oréal. Mas eles parecem ligar apenas para a marca. Isso explica muito sobre a legitimidade da campanha."

Bergdorf disse que, ainda que tenha recebido apoio on-line, nenhuma das outras modelos envolvidas na campanha entrou em contato com ela.

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A L'Oréal fez a seguinte declaração ao BuzzFeed News quando contactada sobre a decisão de cortar relações com Bergdorf:

"A L'Oréal apoia a diversidade e a tolerância para com todas as pessoas, independente de raça, histórico, gênero e religião. A campanha L'Oréal Paris True Match é uma representação desses valores e temos orgulho da diversidade das nossas Embaixadoras que representam essa campanha.

Acreditamos que os comentários recentes de Munroe Bergdorf estejam em conflito com esses valores e, como tal, tomamos a decisão de cortar as relações com ela. A L'Oréal continua comprometida a celebrar a diversidade e a derrubar as barreiras da beleza."

Este post foi traduzido do inglês.

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