Governo Bolsonaro está proibido pela Justiça de falar mal de Paulo Freire e a gente dá 6 razões para admirar o educador

Afinal, educar as camadas mais pobres da sociedade é um perigo.

Não é de hoje que Jair Bolsonaro (sem partido) não suporta Paulo Freire, o educador pernambucano que, se estivesse vivo, celebraria 100 anos no próximo domingo (19). A história, agora, ganhou novos contornos e foi parar no tribunal.

Escola de Gestão Socioeducativa Paulo Freire - RJ

A Justiça Federal do Rio de Janeiro proibiu o governo Bolsonaro de atacar e difamar o professor. De acordo com o UOL, uma decisão liminar foi proferida pela juíza Geraldine Vita na última quinta (16), atendendo ao pedido do Movimento Nacional de Direitos Humanos.

A ação proíbe o governo federal de "praticar qualquer ato institucional atentatório a dignidade do professor Paulo Freire".

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Antes mesmo de ser eleito, Bolsonaro já criticava e ameaçava o legado do educador. Em 2018, ele prometeu que entraria "com um lança-chamas no MEC" pra "tirar o Paulo Freire lá de dentro".

Rodrigo Paiva/Getty Images

Já eleito, em 2019, Bolsonaro chamou Paulo Freire de "energúmeno", além de retirar uma homenagem que existia em uma plataforma do Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior).

Mas o que Paulo Freire fez para incomodar tanto o governo e seus apoiadores? Abaixo, listamos 6 coisas que, provavelmente, tiram qualquer bolsonarista do sério.

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1. Ele apostou na educação como uma ferramenta de mudança social.

Reprodução/João Pires/Estadão Conteúdo

Durante toda a vida, Paulo Freire falou da importância da educação para as camadas mais pobres da sociedade. Sua trajetória foi baseada em criar metodologias de ensino que pudessem revolucionar a alfabetização dessas pessoas.

Mas por que isso incomodou e ainda incomoda tanto? Na época, ele já enfatizava que educar pobre não é uma prioridade de gente rica. "Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica", disse.

2. E revolucionou a pedagogia.

Reprodução

Em 1963, sua metodologia foi colocada em prática de forma coletiva: um grupo de professores sob sua liderança ensinou 300 adultos a ler e escrever em menos de 40 horas. Isso aconteceu na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte. O curso foi financiado pelo governo dos Estados Unidos e ensinou também direitos trabalhistas para a população.

No YouTube, há um documentário da época chamado 'As 40 Horas de Angicos' que conta melhor como esse momento entrou para a história.

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3. Durante a ditadura brasileira, seu método de ensino era uma ameaça.

Para ele, o educador e o educando devem basear sua relação no diálogo, na troca de experiências. Freire acreditava que não existe "saber mais" ou "saber menos", mas, sim, que existem saberes diferentes. Suas metodologias implicavam não só na leitura do que está escrito no papel, mas na leitura do mundo, num despertar político da consciência.

Isso, nos tempos da ditadura, era impensável. Não havia diálogo ou troca.

4. Ele é o autor de 'Pedagogia do Oprimido', livro censurado na época da ditadura brasileira que até hoje pauta professores do mundo inteiro.

Reprodução

O livro, escrito entre 1964 e 1968 enquanto o educador estava exilado no Chile, analisa de perto a questão do oprimido e do opressor, abordando a importância do diálogo, do amor e da esperança.

Além de ser um marco na pedagogia mundial, é o único livro brasileiro na lista dos 100 títulos mais pedidos pelas universidades de língua inglesa consideradas pelo projeto Open Syllabus.

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5. Seu trabalho foi reconhecido e admirado no Brasil e no exterior.

Prova disso são os mais de cem títulos de doutor honoris causa que recebeu de universidades brasileiras e estrangeiras e as diversas honrarias, como o Prêmio de Educação para a Paz, da UNESCO, em 1986.

6. Como se não bastasse sua contribuição gigantesca para a educação brasileira, Paulo Freire inventou o verbo "esperançar".

Reprodução/O Globo

"É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”

Claramente, um perigo para a sociedade.

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