Jovem se tornou viral depois de dar a melhor resposta para pichação homofóbica no muro de sua casa

"Sou uma bichona de marca maior e não me envergonho nem um pouco disso."

O estudante de publicidade Ramom Habitsenther, de 21 anos, teve o muro da sua casa pichado com a palavra "Bichona" na última semana. O ato que poderia ser apenas mais uma ofensa homofóbica na vida do jovem se tornou um viral por conta de sua resposta:

      

"Sou uma bichona de marca maior e não me envergonho nem um pouco disso, nunca vou fingir ser algo que não sou para ser aceito e jamais vou parar de compartilhar e expor minhas idéias", afirmava o jovem em seu perfil no Facebook.

Até a publicação deste post cerca de 33 mil pessoas curtiram a foto e 3 mil compartilharam.

Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, Ramom contou que ficou um pouco assustado, mas como não tem como descobrir quem realizou a pichação prefere não "pensar muito para não ser injusto com ninguém".

Arquivo pessoal

Morador da periferia de Volta Redonda, uma cidade no interior do Rio de Janeiro, Ramom conta que há muito tempo sofre ofensas. "Tem um grupo de pessoas que sempre xingava, mas como eu não dou muita bola eles pararam, acho que foram eles que picharam porque, na cabeça deles era uma forma de me expor", conta o estudante.

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Para Ramom, o que mais incomodou foi o ataque a sua família. "Meus pais me aceitam, meu ex-namorado vivia na minha casa. A questão é que tenho uma sobrinha de 10 anos que converso muito sobre diversidade e ela teve que lidar com esse ataque", diz.

"Em um primeiro momento meu pai chegou a me culpar por ser afeminado e me expor nas redes sociais, mas aí a minha mãe brigou com ele, falou que quem está errado são as pessoas que picharam e não eu por ser quem eu sou", diz.

A postagem no Facebook foi a forma que ele encontrou de desabafar e nunca imaginou que a mensagem iria tão longe. "Venho sofrendo desde pequeno e tenho poucos amigos no meu bairro. O texto no Facebook foi só pra mostrar que aquilo é só mais uma coisa que acontece na minha vida."

Na tarde de ontem, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) compartilhou o texto de Ramom."Fiquei muito feliz, como ele tem uma visibilidade nacional muitas pessoas puderam ver e se inspirar. Gritei e fiquei com uma cara de bobo", conta.

      

Daqui pra frente Ramom pretende militar cada vez mais e levar para a vida o que já faz em suas redes sociais. "Como trabalhava o dia todo e ia para a faculdade a noite, só conseguia militar virtualmente, agora que estou mais calmo entrei no grupo "Volta Redonda Sem Homofobia" para realizar coisas na vida real", finaliza.

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Leia na integra a mensagem de Ramom:

Nunca fui de me abalar com o comentário das pessoas em relação a minha orientação sexual, eu cresci ouvindo e vivendo coisas das piores espécies que qualquer ser humano pode ouvir por simplesmente ser quem eu era.

Minha memória mais antiga é de quando eu tinha por volta de 8 anos e queria jogar queimada com as garotas e não futebol com os meninos, só que nesse dia estava faltando um garoto para completar o time do futebol dos machos da escola. Eu nunca gostei de brincar de bola, carrinho ou soltar pipa. Inclusive quem levantava minhas pipas era minha amiguinha que morava na casa lado porque ela fazia isso muito melhor que eu. Mas voltando ao acontecido da escola, estava faltando um garoto para completar o time, eu continuei a jogar queimada e o time deles acabou ficando desfalcado e não conseguiram jogar a partida que queriam.

Segui meu dia normalmente como bom aluno que era, sem me importar muito com ameaças e piadinhas que ouvia a todo instante e de todos os lados.

O sinal para ir pra casa bate, como eu morava e moro na mesma rua da escola que estudava, caminhava sozinho até minha casa todos os dias. Mas nesse dia eu não fui sozinho, aquele grupo de garotos me acompanhou, chegando próximo a um terreno vazio que ficava logo depois da escola, fui empurrado para dentro dele e então, bom, eu apanhei nesse dia porque eu não quis participar do futebol, porque segundo eles eu era menininha, eu era ''Ramona'' e não merecia ir pra casa sem passar por aquilo.

Mas qual é? Eu só estava sendo eu mesmo, eu simplesmente não sabia ser de outro jeito, EU ESTAVA SENDO O QUE EU ERA.

Minha mãe e meu pai sempre me criaram como um garoto, me davam bolas, carrinhos e skates, porém eu sempre me interessava mais pelas bonecas e sapatos da minha irmã, sempre foi natural isso pra mim. E por quê não seria? Por quê seria errado eu gostar daquilo que pra mim era muito mais legal? Bom, essas perguntas eu me fiz a vida inteira. Até não precisar mais fazê-las, até que eu me compreendi, me entendi, me aceitei, me amei e senti muito por aquelas pessoas sentirem tão pouco.

Eu nasci, cresci e vivo no mesmo bairro de sempre, dos insultos, das humilhações, da surra, das palavras ríspidas. Só que de tanto ouvi-las elas pararam de fazer sentido, não me afetam mais, não me magoam, simplesmente porque estou seguro de quem eu sou e do que eu acredito!

Quando a coisa é comigo, eu simplesmente ignoro e deixo pra lá, porém dessa vez foram além e expuseram toda minha família, família maravilhosa por sinal, que me respeita e me ama acima de qualquer coisa! Simplesmente sujaram, estragaram algo que meu pai trabalhou a vida inteira para conseguir. E pra que? Em nome de quem? Pra me ferir? Não conseguiram.

Sou uma bichona de marca maior e não me envergonho nem um pouco disso, nunca vou fingir ser algo que não sou para ser aceito e jamais vou parar de compartilhar e expor minhas idéias para que pessoas como essas pensem que ''está tudo bem, só não pode ser gay perto de mim''. SIM, NÓS EXISTIMOS E PERSISTIMOS! Não vou me calar em relação a isso e a nada mais. E a essas pessoas eu dou todo amor que tem dentro de mim e que faltam nelas.

O AMOR É LIVRE!!

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