Jovem acusa Feliciano de tentativa de estupro; assessor é suspeito de coação

Patrícia Lélis, 22, relatou ameaça de chefe de gabinete do deputado para silenciar. Chefe de gabinete do congressista foi detido, mas polícia desistiu de prisão após testemunha afirmar que jovem recebeu R$ 20 mil para isentar Feliciano.

Isso é o que sabemos até agora sobre o caso:

  • Na primeira quinzena de junho, a jornalista Patrícia Lélis, 22 anos, esteve no apartamento funcional de Marco Feliciano em Brasília.
  • Na versão dela, o deputado teria oferecido um cargo em troca de um caso com a jovem. Como ela se recusou, Feliciano teria tentado levantar sua saia e, com a resistência, a agredido com um soco.
  • Ela se reuniu algumas vezes com o chefe de gabinete de Feliciano.
  • Na última terça (2), a coluna Esplanada, do Uol, publicou que a jornalista fora vítima de um ataque sexual.
  • No mesmo dia, surgiram dois vídeos em que Patrícia negava a tentativa de estupro e defendia Feliciano de uma armação da "esquerda".
  • Nesta sexta, Patrícia foi à Polícia Civil para contar que gravara os vídeos sob ameaça do chefe de gabinete de Feliciano. Ela confirmou a denúncia da tentativa de estupro.
  • O assessor Talma Bauer foi detido sob suspeita de sequestro –por tê-la mantido em cárcere sob ameaça–, mas a polícia descartou pedir a prisão dele.
  • Uma testemunha informou que a jornalista recebeu R$ 20 mil para mudar a versão e calar sobre a tentativa de estupro. O dinheiro foi apreendido.
  • O chefe de gabinete do deputado será investigado por coação mediante pagamento. Feliciano não se pronunciou sobre denúncia.

Nilson Bastian/ Câmara dos Deputados

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A jornalista Patrícia Lélis, 22, procurou a a Polícia Civil de São Paulo nesta sexta (5) para relatar que foi ameaçada pelo chefe de gabinete do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), Talma Bauer, para silenciar sobre uma tentativa de estupro pelo congressista.

O chefe de gabinete de Feliciano foi detido na 3ª Delegacia da capital. Primeiro, com base na versão da vítima, o delegado Luis Roberto Hellmeister disse que iria pedir a prisão provisória de Bauer por causa de risco à jornalista.

Primeiro, Talma Bauer foi detido sob suspeita de sequestro qualificado –de ter mantido a jornalista em cárcere privado. Patrícia Lélis disse que foi abordada por Bauer após chegar a São Paulo no último sábado. Segundo ela, ele disse que estava armado e a fez entrar num carro.

“A vítima está apavorada”, disse Hellmeister ao BuzzFeed Brasil na noite desta sexta.

Mas na madrugada deste sábado (6), após uma testemunha ter dito ao delegado que a jornalista recebeu R$ 20 mil para gravar dois vídeos no início da semana para isentar Feliciano da acusação de estupro, o delegado Hellmeister disse que não pediria a prisão temporária do chefe de gabinete de Feliciano por entender que ele não representava mais risco à vida da jornalista.

Os R$ 20 mil, segundo a polícia, foram apreendidos. O chefe de gabinete de Feliciano é investigador aposentado da Polícia Civil e nega que tenha ameaçado.

Mesmo com a suspeita do sequestro tendo sido descartada pela polícia, o assessor Talma Bauer será investigado sob suspeita de ter coagido Patrícia Lélis a mudar a versão e isentar Feliciano da acusação de tentar estuprá-la.

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Antes do caso da tentativa de estupro vir à tona, a jovem jornalista ganhou notoriedade por usar redes sociais para defender a criminalização do aborto e pregar sobre religião e política.

Evangélica, ela é militante do PSC, o partido de Feliciano. Os dois teriam se aproximado não só pela religião, mas pela política, já que Patrícia foi atuante na criação da CPI que investigará a União Nacional dos Estudantes (UNE) na Câmara.

Patrícia Lélis contou que foi atacada pelo deputado na primeira quinzena de junho. Ela disse que ele a atraiu ao seu apartamento funcional em Brasília. Primeiro, Feliciano teria oferecido um cargo em troca de um relacionamento com a jovem. Ela disse não.

No apartamento funcional em Brasília, o deputado teria tentado agarrar à força a jornalista e, em seguida, a agredido com um soco na boca.

No vídeo abaixo, o delegado detalha a versão da vítima:

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  • Feliciano atraiu a jovem para seu apartamento funcional.
  • Ele ofereceu cargo para ela ser sua amante.
  • Ela recusou e então o deputado partiu para cima, levantando a saia dela.
  • Como ela resistiu, o deputado desferiu um golpe contra a boca.

Nesta sexta, Patrícia Lélis disse que foi coagida pelo chefe de gabinete de Feliciano a gravar os dois vídeos defendendo que o deputado estava sendo vítima de uma armação da "esquerda".

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A versão foi uma reviravolta. O caso foi revelado na última terça (2) a coluna Esplanada, publicada pelo portal Uol, revelou que Patrícia havia sido atacada pelo deputado.

No mesmo dia, a jovem gravou dois vídeos isentando o deputado Marco Feliciano. Em um deles, ela acusava a "esquerda" de ter tramado a mentira da tentativa de estupro para desgastar o pastor-deputado.

"Põe uma pedra em cima disso."

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Uma das conversas que teve com o chefe de gabinete de Feliciano (foto acima), em um restaurante de Brasília, foi registrada em áudio aparentemente pela própria jornalista. Bauer nega a autenticidade da gravação. Ouça aqui.

Em um áudio de 28 minutos que também foi publicado pela Coluna Esplanada, Patrícia Lélis conversou com o chefe de gabinete de Feliciano sobre o ataque.

Ela contou que chegou ao apartamento de Feliciano convidada para uma reunião sobre a CPI da UNE, quando o deputado, nas palavras registradas na gravação, a teria levado "a fazer coisas a força".

O emissário de Feliciano diz que está reunido com a jornalista para ouvi-la e apoiá-la. Num dos trechos da gravação, a voz atribuída ao assessor de Feliciano menciona a palavra "perdão", Patrícia Lélis cortou abruptamente: "Perdão pode haver, mas é crime".

No início da conversa, a mulher diz não querer nada para manter o silêncio porque o que Feliciano fez foi "impagável". No final da conversa, porém, ela diz que tem sido marginalizada pela executiva jovem do PSC.

A voz atribuída ao assessor promete deixar a situação dela no partido melhor do que era antes. A jovem indica que não quer um escândalo para não afetar o movimento evangélico [do qual Feliciano é um dos grandes expoentes na política].

Ele arremata com uma promessa: "Você não está fazendo um favor, você está fazendo um bem. De você perdoar. E posso pedir para você, neste quesito, põe uma pedra em cima? Eu vou te assessorar. No partido, vai continuar tudo igual para você. Pelo contrário, vai ser melhor".

"O deputado é a vítima", diz assessor, que nega ameaça.

Ouvido pelo BuzzFeed Brasil, o chefe de gabinete e policial aposentado Talma Bauer negou que tenha ameaçado Patrícia.

"Ela tem falado isso faz dias. É claro que eu não ameacei. Tenho idade para ser pai dela", disse.

O assessor ter conversado com a jornalistas algumas vezes, mas nega que seja sua a voz gravada em áudio. "Eu conversei com ela, mas essa gravação é uma montagem. Eu sempre falei com ela na presença de amigas dela."

O chefe de gabinete de Feliciano disse que a última conversa que teve com a Patrícia Lélis foi quando ela avisou que faria o vídeo (inocentando Feliciano). "Ela falou que ia fazer o vídeo. Ela fez o vídeo. Depois arrependeu, não sei".

Bauer disse que, a princípio, o deputado não vai se pronunciar.

"O pastor é vítima. Vítima de uma calúnia." Em suas redes sociais, Feliciano não toca no assunto, mas escolhe passagens bíblicas que falam de calúnias e perseguições.

No início da noite, circulou nas redes sociais a informação de que Bauer havia sido preso. O BuzzFeed Brasil entrou em contato com ele, pelo celular, às 18h42.

O policial reformado disse que estava em casa: "Preso fala pelo celular?", ironizou Bauer.

Na verdade, ele havia sido detido –mas sem um mandado de prisão– à tarde em um hotel do centro de São Paulo. Ele estava na 3ª Delegacia.

Às 19h30, ele já estava sendo ouvido preliminarmente na condição de suspeito.

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