O cuscuz mudou a vida de Irina Cordeiro, e agora ela quer que ele mude a sua também
A cozinheira e ex-"MasterChef" abriu recentemente seu primeiro restaurante na capital paulista, o Cuscuz da Irina.
A cozinheira Irina Cordeiro é direta ao falar sobre a importância que o cuscuz teve ao longo de seus 34 anos, boa parte deles vividos em Natal (RN), e outra parte, desde 2017, em São Paulo, para onde se mudou para participar do programa "MasterChef Profissionais": "Eu sou uma pessoa que viveu grandes dificuldades de vida, desde fome a processos de violência. E o cuscuz era o alimento que poderia estar presente na minha mesa. Era uma comida de sobrevivência mesmo", conta.


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O amor da cozinheira pelo prato ícone do Nordeste é tanto que, no início de julho, ela abriu um restaurante que é uma verdadeira ode ao alimento feito com flocão de milho: o Cuscuz da Irina, em São Paulo.


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"Eu quis colocar no cardápio um pouco das lembranças da minha vida. Os pratos do cardápio contam um pouco da minha história", conta.
O restaurante fica em uma casa simpática – daquelas cada vez mais raras – na Vila Madalena e é apenas a primeira unidade de uma rede que Irina pretende espalhar pelo país. "Ele também será um símbolo de resistência", diz a potiguar.


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"O desejo de abrir o restaurante vem do desejo de resinificar e valorar o cuscuz", conta, antes de dizer que o prato é muito associado à cultura preta e africana, e por vezes "visto como comida de pobre" e que não merece estar nos cardápios de restaurantes.
Mesmo o milho, base para o cuscuz, sendo um alimento cultivado por todo Brasil, o prato não recebe em outras regiões a mesma atenção que tem no Nordeste, onde pode ser encontrado no café da manhã, almoço e jantar. Apresentar o cuscuz para quem não conhece é um dos desafios de Irina. E ela sabe disso.


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"Muita gente nunca comeu o cuscuz nordestino ou imagina que ele tem uma identidade única, e quando vem aqui diz 'em tal lugar é diferente'. E isso é uma característica que eu adoro endossar, sobre o quanto o nordestino é plural", destaca.
Quando pergunto se os clientes perguntam muito sobre se a casa serve cuscuz paulista, a cozinheira solta uma risada e diz: "Assunto polêmico!".


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"As pessoas não conhecem o cuscuz nordestino. Então, a primeira pergunta é se é o cuscuz marroquino e a segunda é se tem o cuscuz paulista. Não, aqui só tem cuscuz soltinho, cuscuz potiguar", brinca.
E para quem não conhece o prato, Irina logo trata de descrever: "É tudo é bom! O cuscuz é uma das comidas mais fáceis e saborosas que temos. É uma base muito gostosa e que combina com tudo. Para quem não conhece, eu só digo 'vem timbora' que vai ser uma experiência inesquecível", diz.


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E é assim que Irina quer transformar a vida das pessoas. Seja a da equipe que trabalha com ela ("somos em 13 pessoas. Temos pessoas LGBTQIAP+ e a maior parte da equipe é preta"), dos fornecedores ("toda a minha base vem do Nordeste, da agricultura familiar"), ou de quem ocupa de segunda a sábado um dos 70 lugares disponíveis no restaurante.


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"O cuscuz transformou a minha vida. Eu saí da fome e tive que alimentar outras pessoas através dele. Isso é uma grande mudança. Por isso o Cuscuz da Irina tem pilares muito fortes, tanto em relação à agricultura familiar, diversidade de equipe, sustentabilidade, e 100% de controle de todo o nosso lixo, por exemplo.
Comida é política, então, quando eu decidi colocar o restaurante no mundo, eu entendi ele como uma ferramenta de transformação social. Mas também de mudar a caracterização relacionada ao povo nordestino, trazer um Nordeste moderno, que tem grandes pesquisadores e artistas, e que aqui no Sudeste as pessoas não têm muito acesso.
É toda essa corrente de renovação e mudança que eu quero trazer com um simples prato de cuscuz", fala.
E como ninguém é de ferro, essa transformação toda também vem acompanhada de uma boa dose de cachaça.


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