Há 40 anos o Brasil perdia Elis Regina, a maior

"A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar."

Há exatos 40 anos, a maior cantora da história da música brasileira, pegou um Trem Azul rumo à eternidade.

Dizer que Elis Regina morreu no dia 19 de janeiro de 1982 é apenas dizer que ela fez uma passagem. Com sua extensão vocal única, forte presença de palco e um rico repertório registrado em 30 discos e 23 compactos, ela continua viva, nas rádios, trilhas de novelas, serviços de streaming, relançamentos de sua obra remixados e remasterizados e, sobretudo, na memória de todos - mesmo daqueles que não a conheceram.

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Elis Regina Carvalho Costa, filha de Ercy, dona de casa, e Romeu Costa, funcionário de uma fábrica de vidros, nasceu numa família de classe média baixa no bairro dos Passo D'Areia, periferia de Porto Alegre em 17 de março de 1945. Do alto de seu 1.53 de altura, mas com uma voz e uma musicalidade muito maiores que seu próprio tamanho, fez (e ainda faz) o mundo inteiro se curvar ante ao seu talento, que ultrapassava o de simples cantora.

Sua voz foi ouvida em público no programa de calouros infantil da antiga Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, o "Clube do Guri", aos 12 anos de idade. Ali ela já começou a se destacar das demais e virou uma espécie de assistente do apresentador, Ari Rêgo. Seu "salário" eram apenas chocolates, brindes dados aos espectadores do programa. Até que em 1960, assinou seu primeiro contrato profissional como cantora da Rádio Gaúcha.

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Ainda em 1961 e 1962, Elis chegou a gravar dois LPs, que ela nem considerava como parte de sua discografia oficial. Lançada pela gravadora Continental para fazer frente à cantora Celly Campello (uma das pioneiras do rock no Brasil, dona de sucessos avassaladores como "Estúpido Cupido" e "Banho de Lua"), teve todo o seu repertório escolhido pelos executivos e não representava propriamente seu gosto.

Mas a voz limpa da cantora e sua afinação já chamavam atenção dos poucos que conheceram suas gravações na época.

Aos 20 anos, Elis já era a cantora mais bem paga do showbiz brasileiro. Contratada pela TV Record, comandou, ao lado de Jair Rodrigues, recebendo todos os nomes da recém-nascida MPB, o programa "Dois Na Bossa", líder absoluto de audiência.

Infelizmente, nenhum registro em vídeo sobrou do programa. Mas em 1995, o produtor musical Zuza Homem de Mello, na época diretor de áudio da TV Record, lançou uma caixa com 3 CDs de gravações feitas por ele em fita de alguns momentos do "Fino da Bossa". Aqui, ela canta o samba "Devagar Com a Louça", ao lado de Elza Soares e o Quinteto de Luiz Loy.

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Os anos 70 foram a sua década de ouro. Ela foi aprimorando sua técnica vocal e já de cara, assinou um contrato com a TV Globo para um programa mensal, "Elis Regina Especial", com roteiro de Miele e Bôscoli.

Entre os vários encontros e duetos feitos ao longo da curta duração do programa (menos de um ano), um deles é especialmente irresistível: ao lado de Marília Pêra, as duas cantam "Sucesso Aqui Vou Eu", de Rita Lee, que nunca foi gravada por ela.

Elis e Rita Lee, aliás, se tornaram grandes amigas. Em 77, grávida, a nossa rainha do rock foi presa por porte de maconha. E quem foi que apareceu na delegacia, de surpresa, rodando a baiana como Rita conta aqui e em retribuição, compôs para ela uma canção que não chegou a ser gravada, mas em registro num especial da Pimentinha para TV Bandeirantes as duas cantaram "Doce de Pimenta".

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Aqui, as últimas imagens de Elis no palco, na última apresentação de seu derradeiro show "O Trem Azul", registro feito em Super 8 por um espectador

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Elis nunca parou de tocar, sua voz nunca silenciou. Só depois de sua morte, ela teve nada menos que 18 músicas incluídas em trilhas sonoras de novelas. Quanto mais o tempo passa, melhor Elis canta. E se ainda resta alguma dúvida de que ela foi (e ainda é) a maior cantora do Brasil, escute este raro registro em que ela apenas vocaliza a melodia de "Bolero de Satã", gravada por ela com a participação de Cauby Peixoto em 1979.

Nesta gravação caseira, ela está mostrando a melodia da canção de Guinga para o cantor pela primeira vez. Imagine só ter Elis Regina como vizinha cantarolando assim no chuveiro.

A verdade é que nunca esteve tão presente, como nunca deixou de ser atual. Obrigado, Pimentinha!!

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