Fui indicada ao Troféu Mulher Imprensa (e você bem que podia votar em mim, hein?)
Hoje resolvi pedir o seu voto para o Troféu Mulher Imprensa 2021 e partilhar parte da minha história.
Desde muito nova enfrentei muitos dilemas para entender quem eu realmente era.
Reprodução | Arquivo pessoal
Foi diante do espelho que tive os meus maiores momentos de dúvida, insegurança, dor e vazio. Na infância não me reconhecia enquanto indivíduo, apesar de nunca ter me incomodado com meu corpo e o meu reflexo até me agradava, porém o problema era outro.
Havia algo que internamente eu precisava de resolver comigo mesma, e anos mais tarde descobri que se tratava da minha identidade. Entender-me e assumir que sou uma travesti foi um processo complexo, pois não queria ser alvo da violência, ser minoria, viver desempregada, sem afeto ou acolhimento.
Por isso, eu acabei adiando esse processo durante a minha adolescência e me dediquei intensamente aos estudos, assim eu pensava em mudar a realidade que estava posta para pessoas transexuais no Brasil.
Que engano meu, pensar que precisei me anular por medo do que os outros iam pensar e que teria poucas oportunidades no futuro. Porém, mesmo assim continuei me negando e seguindo a minha formação tecnóloga como comunicadora, ao mesmo tempo que estudava também para o ENEM. Surpreendentemente descobri que fui aprovada no curso de História com uma bolsa integral em uma das mais prestigiadas universidades privadas do país e logo nos meus primeiros períodos decidi que iria ser eu mesma.
Comecei pouco a pouco a me montar e me envolver com a arte drag, usava as roupas que me agradavam, pintava as unhas e fazia performances nos intervalos de uma aula ou outra.
Reprodução | Arquivo pessoal
Assim fiquei conhecida na universidade como Aláfia e por muito tempo usei esse codinome de origem iorubá para explorar a feminilidade que sempre me foi negada.
Até que prestes a iniciar o 3º período do curso de História deixei a justificativa drag de lado, assumi para toda turma que era uma pessoa trans e a partir daquele momento desejava ser respeitada como tal.
Reprodução | Arquivo pessoal
Assim, todas as pessoas que conviviam comigo precisavam também de iniciar um processo de transição, para entender minhas mudanças físicas, mentais e até espirituais.
Não foi um processo fácil, pois logo que me assumi travesti várias portas se fecharam, muitas pessoas desacreditaram do meu potencial, sobretudo eu mesma, que pensava que independente do diploma, capacitações e formações que possuía, não iria progredir profissionalmente.
Reprodução | Arquivo pessoal
Essa é a 15ª edição da premiação que busca homenagear as principais pensadoras, jornalistas e mulheres do último ano.
Sou a única travesti e ou pessoa trans indicada ao troféu e sei que não é sobre representar, mas sim ser base para gerar proporcionalidade e ser uma em meio a tantos outras que estão por vir. Agora que a votação está se encerrando, peço seu voto e agradeço desde já por acreditar em mim, sei que já venci por ter ao meu redor pessoas que me impulsionam como você que me lê aqui.
BuzzFeed vocês são fodas!