5 ações efetivas que marcas podem tomar sem explorar tragédias

Reverter desastre em lucro não ajuda ninguém.

Kathlen Romeu, jovem de 25 anos que estava grávida de 14 semanas, faleceu ontem (8) após ser atingida durante um tiroteio na Zona Norte do Rio de Janeiro. A morte de Kathlen gerou muita revolta, pois é mais um resultado trágico das operações policiais violentas que acontecem dentro das favelas.

Reprodução

Nas redes sociais, pessoas começaram a pensar em formas de amparar os parentes da vítima neste momento. Foi aí que a Farm, marca de roupas dona da loja onde Kathlen trabalhava, fez este post anunciando que as comissões das vendas feitas através de um cupom promocional seriam revertidas para a família da jovem:

Depois, mudaram o discurso e editaram a publicação.

O envolvimento da Farm no caso da Kathlen lembra um pouco de como as empresas se posicionaram (ou não) no movimento Black Lives Matter. Muitas delas participaram da "Blackout Tuesday", aquele dia em que um monte de gente postou um quadrado preto no Instagram para protestar contra os assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor e Ahmaud Arbery.

Porém, qual é a efetividade destes gestos em situações como aquela? Empresas que lucram milhões e milhões realmente não podem fazer NADA além de um post no Instagram?

Pensando nisso, preparamos uma lista com 5 ações efetivas que as marcas podem adotar se quiserem oferecer ajuda e apoio sem explorar tragédias.

1. Começando pelo óbvio que ainda precisa ser dito: não aproveitar a situação para vender mais.

A Farm e outras marcas podem - e devem - amparar financeiramente as famílias de seus funcionários em casos como este. Porém, a empresa poderia simplesmente ter realizado uma doação diretamente para a família da Kathlen, sem envolver vendas e cupons promocionais que acabam por "terceirizar" as doações e ainda lucrar em cima disso tudo.

2. Além do apoio psicológico, ao oferecer dinheiro, um apoio financeiro REAL.

Em situações como esta o dinheiro acaba se tornando uma questão importante, mas não a única. Famílias que lidam com a perda de um membro precisam, sim, de amparo financeiro, mas elas também precisam de apoio psicológico. De nada adianta reverter comissões ou lucros sem se importar com o bem-estar daquelas pessoas que vão precisar lidar com este trauma pelo resto de suas vidas.

E, se reverter dinheiro, que ele faça de fato a diferença para que a família dela possa viver dias mais tranquilos.

Uma boa maneira de ajudar pode ser, sim, abrindo a carteira, mas de um modo efetivo.

3. Apoiar e divulgar ONGs que dão visibilidade a crimes deste tipo.

Infelizmente a morte da Kathlen não é um caso isolado, e diariamente muitas famílias que moram em favelas sofrem com a perda violenta de um dos seus. Por isso, é importante apoiar ONGs e instituições que existem para dar visibilidade a este tipo de crime. Se a marca não souber como agir, ela pode oferecer ajuda e suporte a quem sabe.

4. Realizar ações e protestos que coloquem o problema em evidência para além da bolha da internet.

Tomar uma posição também é ajudar. A Farm e outras tantas empresas possuem plataformas gigantescas que furam a bolha online e alcançam cada vez mais clientes. Numa situação como esta, não seria mais efetivo usar o alcance destas plataformas para realizar um protesto ou uma ação que ajude a jogar uma luz sobre o problema? Fazer uma paralização geral dos serviços por um único dia que seja ou cobrar publicamente os responsáveis não seria mais digno, respeitoso e impactante do que simplesmente lançar um cupom promocional?

5. Liderar campanhas de conscientização que envolvam a participação direta de outras marcas.

Não é a primeira vez que uma grande empresa vê um funcionário sendo vítima de um crime bárbaro que envolve questões sociais profundamente ligadas ao racismo. Sendo assim, estas empresas deveriam realizar ações em conjunto para ajudar a combater um problema que afeta diretamente grande parte dos seus empregados. Deixar a concorrência de lado para dar visibilidade a questões como esta pode fazer muito mais diferença do que realizar uma única ação "tapa buraco" que ficará bonita na mídia mas que será esquecida já na semana que vem.

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