Feminismo radical e o seu ódio às travestis

Cada vez mais, integrantes do movimento usam a internet para atacar a população trans.

BuzzShe

Getty Images

Imagem de um protesto em apoio à comunidade trans em Nova York.

Legenda: parem de nos matar

Durante as últimas décadas, o empoderamento feminino se popularizou pelo Brasil construindo um imaginário hegemônico e um pensamento único a partir do conceito de feminismo. Uma pesquisa do DATAFOLHA identificou que mais da metade ou grande maioria das mulheres brasileiras não se consideram feministas e possuem uma visão emblemática diante da equidade de gênero por consequência de um grande desconhecimento sobre o assunto

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Poucas pessoas sabem que o pensamento feminista se divide em várias vertentes, com visões diferentes e plurais, sendo que algumas delas podem inclusive se opor a outras. É o caso do Feminismo Radical, que busca abolir a concepção de gênero e possui posições críticas e também excludentes em relação à mulheres trans ou travestis, as considerando biologicamente "homens privilegiados".

Foi então que, se recusando a legitimar identidades de gêneros plurais e indo de encontro a esses pensamentos do Feminismo Radical, a jornalista Patrícia Lélis compartilhou em suas redes sociais um caso isolado que ocorreu nos Estados Unidos onde um homem cis havia fingido ser uma mulher trans para mostrar o pênis em um spa. Isso abriu uma discussão ainda maior sobre travestis e mulheres trans serem potenciais estupradoras ou pedófilas.

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Este possível ataque à população trans e seu movimento não é nada novo. Basta analisarmos a história da comunidade LGBTQIA+ para percebemos como muitos grupos sociais sempre buscaram, por décadas, nos associar a anomalias, doenças e sobretudo ao abuso sexual de crianças. A deturpação de conceitos feministas, a não análise do caso que ocorreu em Los Angeles e a transfobia se somam à cultura punitivista da internet que, em vez de apontar soluções para um crime que ocorreu fora do país, prefere mascará-lo e alimentar o ódio às travestis.

Reprodução

Print da notícia sobre o homem que invadiu o spa.

Legenda: Mulheres se assustaram depois que um homem expôs seus genitais diante de garotas pequenas em um spa de Los Angeles.

O ativismo falho de Patrícia Lélis demonstra como boa parte das feministas que integram a esquerda tem se colocado do lado oposto da história, utilizando de narrativas abertamente transfóbicas para compartilhar em suas redes sociais ataques à população trans. Segundo a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), existe hoje uma intensa movimentação de grupos feministas radicais cissexistas que têm financiado campanhas antitrans, com alinhamento a grupos como a "alt right" e outros que, historicamente, se posicionam contra os direitos da população LGBTQIA+.

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É importante ressaltar, ainda, como soa um tanto quanto contraditório o envolvimento desses grupos feministas com ideais de extrema direita para criminalizar e estigmatizar mulheres trans. Afinal, não há qualquer embasamento teórico que afirme que a autodeclaração de gênero de trangêneros oferece riscos ou retrocessos sociais para as pessoas cis. Por isso, pessoas trans ou travestis jamais devem ser responsabilizadas por crimes cometidos por um homem cis que usa de nossas pautas para justificar seus abusos.

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