Com o álbum "Selva", cantor e compositor Fabríccio ressignifica sua carreira

Artista apresenta versão amadurecida de sua obra, onde toca todos os instrumentos e assina a produção de 14 faixas.

O cantor, compositor e multi-instrumentista capixaba Fabríccio acaba de lançar o álbum "Selva" através da Zeferina Produções.

Capa do álbum Selva, do artista plástico Pegge. 

A obra traz releituras do extinto disco "Jungle" (2017), além das faixas bônus “Me Abraça”, com participação da Tuyo e já apresentada para o público, e a inédita “Teu Pretim Remix”, com participação de Drik Barbosa e produção de Rafa Dias (RDD, ÀTTØØXXÁ). O projeto ainda conta com Tássia Reis, em “Preta”.

“Depois de um processo de entendimento e resgate pelo meu eu, a melhor definição de SELVA em relação ao álbum é sobre essa sensação de ambiente hostil em todos os contextos, para além daquela noção de ‘selva de pedra’ e ‘selva’ em seu literal. Estar num ecossistema altamente hostil em que minha presença ofende, ameaça, intimida e torna muitas outras experiências, que no dia a dia são muito mais complexas dependendo do contexto, perigosas”, desabafa Fabríccio.

Ele se refere a um período conturbado de sua carreira que resultou no encerramento do ciclo de "Jungle", seu álbum de estreia. O disco hoje está extinto, em comum acordo com a antiga gravadora. Deixar morrer para renascer, ressignificando sua vida e obra. Novas leituras para um artista que ressurge em um ambiente que já não o assusta mais.

“SELVA é a forma de estar no meio disso, com as ferramentas que a vivência de outras pessoas iguais a mim, que passaram por épocas, contextos e dificuldades, que também deixaram de herança, não só a música, mas sobre como o tempo vai configurando a história dos relacionamentos, das famílias... Eu dei sorte, a música é meu jeito de estar no mundo, é minha forma de espelhar a forma que a vida se mostra pra mim, uma forma de retribuir não só a ‘beleza’ da música ou da letra, mas retribuir por ter aprendido a ter isso como tecnologia para me comunicar e também me descobrir”, Fabríccio completa.

Para não deixar os fãs órfãos e se empoderar de sua própria história, todas as canções estão de volta. Mais amadurecidas. Ressignificadas.

Reprodução

“Teu Pretim” abre SELVA falando sobre afeto e fazendo uma fusão de funk americano com ritmos brasileiros no estilo Black Rio, Farofa Carioca e Djavan. “Amor e Som” vem em seguida, como um mantra pessoal sobre a alegria de poder fazer música. “O Poder do Machado de Xangô” é inspirada no documentário de Pierre Verger e conta a história de Balbino, um baiano que sonha em ir para a África conhecer os cultos originais de seus ancestrais. A quarta faixa é “Foge Comigo” que, como o nome sugere, é um convite para ir para outro lugar. “Dia de Ver o Meu Bem” é sobre arrumar um tempo para encontrar quem faz o tempo parar. Em seguida vem “Bossa Velha”, canção que Fabríccio ganhou de presente de Thais Uchôa. “Orfeu” é uma homenagem ao filme "Orfeu Negro", de Marcel Camus. “Preta” tem participação de Tássia Reis e é uma declaração de amor. “Beira Mar” é a primeira música que o artista escreveu na vida e é uma homenagem à Avenida Beira Mar em Vitória (ES), sua cidade natal. “Sorte das Marés” fala sobre despedidas e a falta de controle que temos da vida. “O Negro Quando Canta” é uma saudação a todas as pessoas pretas que sabem a vivência da pele que habitam e que, muitas vezes, não foram reconhecidas como mereciam. “Aonde o Sol se Esconde” fala sobre preservar a força dentro de si, mesmo quando o mundo não permite por causa da sua cor da pele. “SP” conta sobre o caos que é a percepção de quem acabou de se mudar para São Paulo. “Me Abraça”, com participação da Tuyo, é uma canção sobre acolhimento e respeito ao tempo. E, fechando o álbum, “Teu Pretim Remix”. Com produção de Rafa Dias (RDD, ÀTTØØXXÁ) e participação de Drik Barbosa, é um presente para quem já gosta do hit do artista.

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E assim renasce Fabríccio. Artista genuinamente brasileiro que representa o que se pode chamar de Nova MPB.

Foto de Camila Tuon e direção criativa de ce.ge + Mooc +Noyze 01

“Cada faixa reúne as escolas musicais que a vida me trouxe, desde os instrumentos clássicos de banda de rock até o impacto dos mesmo instrumentos sendo tocados no reggae, dos softwares de música que deram um loop eterno nessa vontade de criar música e misturar todas essas vivências. Tem muito dessa vontade doida e irresistível de criar o meu jeito de tocar cada um, misturar tudo isso com histórias que eu vivi, o mais sincero que eu podia, contando histórias com as letras, com os samples, instrumentos”, explica. “Literalmente Música Popular Brasileira, celebrando, sobrevivendo e buscando. Me expressar por inteiro, como ser, não só pela via dos estereótipos e das violências físicas, psicológicas e sexuais que a selva me impõe. É sobre se recriar todo dia, pra sobrar alguma ternura no dia seguinte para compor, cantar, amar e continuar vivo”.

Como multi-instrumentista, Fabríccio assina a produção musical e composições presentes nas 15 faixas. Exceto o remix ‘’Teu Pretim’’, com participação de Drik Barbosa, produção de Rafa Dias (RDD, ÀTTØØXXÁ) e o guitarrista Bill Saramiolo (Soul Connection). Mixagem e masterização de Jone BL.

Esse renascimento aconteceu com a gestão de carreira realizada pela Zeferina Produções, potente duo formado por Ciça Pereira e Tainá Ramos. Camila Tuon e Gabiru, da CeGê, assinam a direção criativa ao lado de Louis Rodrigues e Vinicius Texeira, da MOOC, e da produtora de audiovisual NOYSE. A capa do álbum é uma obra de arte do artista plástico Pegge.

Para além da ressignificação da carreira do artista, SELVA reforça o significado das experiências pessoais de um homem preto e formas de ver o mundo, com extensão e identificação a tantos semelhantes que sonham ou sonharam em se relacionar com a arte. Pelo entendimento de que masculinidade preta vai além de estereótipos.

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