'Não leio comentários grosseiros', diz Monja Coen sobre ataques nas redes sociais

Em entrevista ao BuzzFeed, ela afirma não ver problema em parceria com marca de cerveja.

Monja Coen é a mais nova "embaixadora da moderação" da Ambev, empresa que domina 60% do mercado de cervejas do Brasil. Nas redes sociais, logo surgiram críticas pesadas à religiosa, que topou conceder uma entrevista exclusiva ao BuzzFeed.

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"Me convidaram para fazer uma campanha de moderação, de equilíbrio, de consciência de si mesmo, de autoconhecimento e eu achei maravilhoso", contou, sorridente, durante um papo por videochamada.

Aos 74 anos, Monja Coen é a principal referência do budismo no país. Em seu perfil do Instagram, que contabiliza 2.7 milhões de seguidores, ela postou um vídeo no dia 29 de julho anunciando a parceria com a empresa e usando a hashtag #publi. "A moderação é o caminho do meio. Sem excesso e sem falta. Você bebe de forma moderada? Você percebe o que é adequado para você? Você sabe quando parar?", questiona no vídeo.

Em nenhum momento ela incentiva seus seguidores a consumirem produtos da marca. Mas isso não foi o suficiente para livrá-la do ódio gratuito das redes sociais. "Monja socialista capitalista?", questionou um médico. "Buda deveria estar aqui para ver isso", comentou um sujeito que se diz faixa preta de jiu-jitsu.

O post acabou virando, também, um depósito de chorume bolsonarista. Muitos foram até lá somente para questionar o relacionamento da religiosa com o ex-presidente Lula – que ela conheceu pessoalmente em 2018, ao visitá-lo na prisão, em Curitiba.

Para ela, tudo bem discordarem de sua parceria com a empresa. "Mas sem hate, sem ódio", falou.

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"Eu não leio comentários grosseiros. Acho importante que a gente se manifeste a favor ou contra, mas com respeito, dignidade. Quando passamos a insultar o outro, eu não concordo", respondeu.

Coen explicou que a parceria com a Ambev consiste na publicação de conteúdos que não só recomendam a moderação, mas também a busca por um despertar da consciência. "Faço pequenos vídeos dizendo para as pessoas isso: sente-se, endireite a sua coluna vertebral, respire conscientemente, encontre o seu eixo de equilíbrio."

Ela cita Buda: "A coisa mais preciosa que um ser humano tem é a consciência". Em seguida, questiona o motivo que leva tantas pessoas a anestesiar a própria mente e os sentimentos com uma quantidade exagerada de álcool. "Disseram que na época da pandemia as pessoas passaram a beber mais."

É verdade. De acordo com a pesquisa "Uso de Álcool e Covid-19”, feita com mais de 12 mil pessoas da América Latina e do Caribe e publicada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), 35% dos entrevistados relataram aumento na frequência do consumo de bebida alcoólica ainda nos primeiros meses da pandemia.

A Pesquisa Nacional de Saúde 2019, que é a mais recente sobre o consumo no Brasil, também aponta alta: 26,4% dos entrevistados brasileiros ingeriram bebida alcoólica uma vez ou mais por semana – em 2013, o número era de 23,9%.

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"Até meditação em excesso não é bom."

Reprodução/YouTube

"O budismo fala que o caminho correto é o caminho do meio. Sem excesso e sem falta. Porque a gente excede", disse a religiosa, que não condena o uso social e comedido do álcool, mas também não incentiva. "A bebida não é remédio pra depressão, não é cura de coisa nenhuma. Não é uma coisa de 'Estou triste, vou beber'".

Se ela imaginou que essa parceria viraria um polêmica? Em nenhum momento. "Fiquei bem contente [com o convite]. A Ambev tem a capacidade de acessar muitas pessoas. Acho isso importante."

Antes de encerrar, Monja Coen conta que, se sua palavra chegar até qualquer pessoa que reconsiderar o uso excessivo de álcool, sua missão já foi cumprida. "Acho que já estamos contribuindo para menos crimes, menos assassinatos, conflitos e menos tristezas", finalizou.

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