Empresários arquitetam golpe: deve haver investigação e boicote?

Sim ou com certeza?

Em um grupo de WhatsApp, empresários bolsonaristas defendem "golpe" e "ruptura" democrática no caso de o ex-presidente Lula (PT) vencer as eleições deste ano.

Montagem sobre foto: Ar Ducha Misfa'i/Getty Images

A revelação foi feita pelo site Metrópoles, que teve acesso às mensagens trocadas pelos apoiadores do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) no grupo "Empresários & Política", criado em 2021.

Antes de seguir, vamos dar nomes aos bois. Entre os nomes do grupo estão: Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; Luciano Hang, dono da Havan; Marco Aurélio Raymundo (Morongo), dono da marca Mormaii; José Isaac Peres, dono da administradora de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; e Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia.

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Não se trata aqui de ser de esquerda ou direita, mas sim de defender a democracia!

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Além de defenderem um golpe, os empresários ainda fazem ataques sistemáticos à imprensa, ao STF e seus ministros, e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Divulgação/CNJ

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Em 31 de julho, por exemplo, Ivan Wrobel (W3 Engenharia) disse sobre as manifestações de Sete de Setembro: “Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, escreveu. 

Reprodução/Metrópoles

Comentário semelhante foi feito pelo médico gaúcho Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo e dono da rede de lojas Mormaii: “O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”, escreveu.

Divulgação/Mormaii

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Na esteira de tais comentários, José Koury (shopping Barra World) foi direto, disse que preferia uma ruptura à volta do PT. Segundo ele, uma ditadura não impediria o país de receber investimentos externos.

Reprodução/Metrópoles

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, escreveu.

Ao responder à mensagem acima, Morongo escreveu:

Reprodução/Metrópoles

“Golpe foi soltar o presidiário!!! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”.

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O empresário Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu e eleitor público de Bolsonaro, também respondeu à mensagem de Koury, com a figurinha de um rapaz fazendo joinha.

Reprodução/Metrópoles

Antes disso, em 17 de maio, Morongo, da Mormaii, propôs ações extremas para defender Bolsonaro, citando casos como a Revolução Francesa e a Guerra Civil dos EUA.

Reprodução/Metrópoles

“Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘bonzinhos’ sempre foram dominados… É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem ‘na boa’. Queremos todos a paz, a harmonia e mãos dadas num mesmo objetivo… masssss [sic] quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho”, escreveu.

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O mesmo empresário também mostrou ponderação após José Koury sugerir, em dia 31 de maio, que os empresários pagassem bônus aos funcionários que votassem de acordo com os seus interesses.

Reprodução/Metrópoles

"Alguém aqui no grupo deu uma ótima ideia, mas temos que ver se não é proibido. Dar um bônus em dinheiro ou um prêmio legal pra todos os funcionários das nossas empresas”, disse Koury. "Acho que seria compra de votos… complicado”, respondeu Morongo.

Em mensagem sobre o futuro do Palácio do Planalto, Luciano Hang (Havan) disse que depois de reeleger Bolsonaro, o país deveria eleger o ex-ministro Tarcísio de Freitas (candidato ao governo de São Paulo) à Presidência, em 2026, e reelegê-lo em 2030. “Aí não terá mais espaço para os vagabundos”, completou.

Reprodução/Instagram

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As mensagens acima são apenas algumas das citadas pela reportagem. Elas mostram o que está sendo arquitetado e discutido por pessoas com influência e acesso a Bolsonaro, que reiteradas vezes já atacou a democracia, instituições e autoridades, além de fazer ameaças golpistas e contestar, por exemplo, a segurança do sistema eleitoral.

O Metrópoles procurou todos os empresários citados na reportagem.

José Koury afirmou que não defende um golpe, mas em seguida confirmou que “talvez preferiria” a ruptura a uma volta do PT.

Morongo, da Mormaii, que defendeu a importância simbólica de um desfile militar para mostrar de que lado as Forças Armadas estão, afirmou que não apoiará qualquer “ato ilegítimo, ilegal ou violento”.

Meyer Nigri, da Tecnisa, disse que pode “ter repassado algum WhatsApp” que recebeu. “Isso não significa que eu falei ou concorde”, afirmou. “Já estou deixando claro que não afirmei nada disso. Só repassei um WhatsApp que recebi”.

Afrânio Barreira, do Coco Bambu, afirmou desconhecer qual seria o teor do apoio ao golpe de Estado, expressa por ele com o envio de um gif com aplausos à ideia de ruptura apresentada por Koury. 

A assessoria de imprensa do grupo Multiplan enviou nota em que afirma que o empresário José Isaac Péres está viajando e, por essa razão, não responderia diretamente.

A assessoria de imprensa do Grupo Sierra informou que o empresário André Tissot também está viajando e, por essa razão, não responderia imediatamente.

Os empresários Carlos Molina, Ivan Wroble, Luciano Hang e Vitor Odisio não retornaram o contato.

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