"Ele já tentou suicídio", diz educadora sobre o outro brasileiro condenado à morte na Indonésia

Conversamos com Fabiana Mesquita e ela nos contou que o brasileiro que aguarda no corredor da morte na Indonésia é "doce e gentil". O surfista paranaense tentou entrar no país com 6 kg de cocaína e pode ser fuzilado no mês que vem.

A educomunicadora Fabiana Mesquita esteve na prisão com o paranaense Rodrigo Gularte, o outro brasileiro que aguarda no corredor da morte na Indonésia, disse que ele aparenta sofrer de distúrbios psicológicos e "tentou suicídio em meados de 2006".

Arquivo Pessoal

"Rodrigo é muito instável. Tem dias que está bem, na outra semana não fala uma palavra e na outra veste santinhos pelo corpo inteiro, como estivesse se benzendo. Claramente ele tem problemas psicológicos, ele não é um criminoso. Espero que ele seja salvo", disse Fabiana, em entrevista exclusiva ao BuzzFeed Brasil nesta segunda-feira.

Fabiana morou na Indonésia entre 2005 e 2007 e se voluntariou quando a Embaixada do Brasil em Jacarta começou a procurar um psicólogo brasileiro para prestar atendimento a Marco Archer e Rodrigo. Marco foi fuzilado no último sábado e Rodrigo está preso desde 2004 por tentar entrar no país com 6 kg de cocaína escondidos em oito pranchas de surfe.

"Eles começaram a procurar um psicólogo brasileiro porque Rodrigo tinha tentado se suicidar. Ele colocou fogo em uma cela e ficou parado lá dentro. Quase matou outros presos também, que queriam bater nele", disse Fabiana. Segundo ela, na época da tentativa de suicídio, "ele estava em depressão profunda e chegou a tomar remédios".

Rodrigo foi diagnosticado com esquizofrenia no ano passado. A doença pode fazer com que, ao menos temporariamente, sua execução seja suspensa. Segundo a Folha de S.Paulo, seu fuzilamento estaria marcado para o mês que vem.

g1.globo.com / Clarisse Gularte, mãe de Rodrigo

De acordo com as leis da Indonésia, doentes mentais não podem ser executados. A defesa de Rodrigo acredita que esta pode ser a salvação do brasileiro, já que o primeiro pedido de clemência pelos presos foi negado pelo presidente da Indonésia. Um novo pedido de clemência foi feito nesta segunda-feira, mas a família de Rodrigo ainda não obteve respostas.

Uma prima do paranaense viajou para o país no sábado com um laudo patrocinado pela Embaixada Brasileira na Indonésia, que provaria a condição mental de Rodrigo e evitaria, ao menos temporariamente, a morte por fuzilamento. Rodrigo seria internado em um hospital psiquiátrico. Segundo a Embaixada do Brasil, Rodrigo seria novamente examinado por psicólogos nesta segunda-feira.

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Fabiana conta que prestou "atendimento emocional" a Marco e Rodrigo durante um ano, uma vez por semana, no segundo presídio em que eles ficaram.

Beawiharta/Reuters, Renan Antunes de Oliveira/ veja.abril.com.br

Fabiana também conta que Marco Archer era "totalmente diferente de Rodrigo". "Marco batia no peito e falava que preferia ficar com os traficantes do que aceitar minha companhia, conversar comigo. Já o Rodrigo parecia não saber o que estava fazendo. É totalmente doce, todos os carcereiros adoravam ele. Ele é do tipo que cuidava dos gatos e dava a própria camisa para alguém se a pessoa elogiasse a roupa".

Além das informações de Fabiana, sabemos que:

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Rodrigo está na mesma cadeia que estava Marco. Os dois chegaram a dividir a cela na prisão anterior. O presídio em que Rodrigo está abriga terroristas e presos por corrupção.

Batizada de Pasir Putih, cujo significado é "areia branca", é considerada de segurança máxima, apelidada pela mídia de "Alcatraz da indonésia". Fica na ilha de Nusakambangan e abriga, além de traficantes, terroristas e envolvidos em escândalos de corrupção.

Rodrigo assumiu a culpa e limpou a barra de dois amigos.

Afp

Dois amigos dele também foram detidos na ocasião. Mas Rodrigo disse à polícia indonésia que toda a droga era sua e os amigos foram liberados. Rodrigo nunca mais falou sobre o episódio.

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Traficante greco-brasileiro chamado Dimitrius, conhecido como "Barão do Ecstasy", pode ter usado Rodrigo Gularte para traficar cocaína.

Em 2012, a polícia do Rio de Janeiro prendeu Dimitrius Papageorgiou em Niterói. Ele estava foragido desde 2005, quando foi condenado por tráfico internacional de drogas. Dimitrius foi condenado a quatro anos de prisão.

Tanto Marcos quanto Rodrigo podem ter sido usados por Dimitrius em esquema de tráfico no qual brasileiros levavam cocaína para o exterior e depois traziam ecstasy, skank e haxixe, segundo informações da polícia.

Rodrigo e Marco não acreditavam, ao menos no primeiro momento, que não seriam fuzilados. “Aqui é legal. É como se fosse uma pousada, só que jogaram a chave fora”, disse Rodrigo à IstoÉ em 2005.

Reuters / Marco Archer, na prisão de Tangerang

Em reportagem da IstoÉ, Rodrigo e Marco estavam na prisão de Tangerang (a 20 km da capital Jacarta) e são descritos como pessoas bastante despreocupadas com a sentença de fuzilamento. Ambos faziam planos pra quando fossem soltos e apostavam que a condenação poderia, de alguma forma, ser revertida.

'Por favor, brother, quando você for escrever, dê uma força, passe uma imagem positiva nossa. Bota aí que eu quero trabalhar dez anos para o governo, dando palestras para as crianças sobre a roubada que é se meter com o tráfico de drogas'', disse Rodrigo ao repórter da revista.

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Rodrigo tem um filho, de 21 anos, que é autista e mora com a mãe em Florianópolis (SC). Eles não têm contato desde quando Rodrigo foi preso.

A mãe é Maria do Rocio, 55, ex-professora do paranaense.

Segundo a mãe de Rodrigo, ele nunca foi de estudar. Mas "era um menino completamente normal e a alegria da casa".

Reprodução/G1 PR

"A gente ouve falar que a pessoa que se droga fica agressiva. Meu Deus, o Rodrigo nunca levantou a voz para mim! Eu me lembro dele me ajudando a carregar sacolas de compras, voltando alegre da escola. "Chegou a alegria da casa", a gente dizia", disse Clarisse Gularte à Veja, mãe de Rodrigo, durante entrevista em 2005.

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Aos 25 anos, Rodrigo começou a traficar drogas usando o restaurante de massas da mãe como ponto.

Efe

"Os amigos chegavam e chamavam o Rodrigo de lado. Não iam lá para comer. Chamavam, conversavam num canto e iam embora. Um dia, uma senhora que eu conhecia, mãe de um rapaz, também surfista, que teve problemas com drogas, disse: "Clarisse, você não está percebendo que isso está virando um ponto de drogas? Se você não fizer nada, eu vou chamar a polícia". Clarisse fechou o restaurante no dia seguinte.

Rodrigo escreveu uma carta em 2012 pedindo perdão à família.

Reprodução/ youtube.com

Depois de visitar o filho na prisão, Clarisse Gularte voltou com uma cara de Rodrigo na qual dizia perdão à família e aos amigos. O surfista queria "compensar o sofrimento de todos", e falava em voltar pra casa.

Segundo a mãe, Rodrigo se pegou muito à Deus e estava aprendendo a língua local, já que poucos falam inglês na prisão.

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