Conheça a história da garota que teve a coragem de abandonar o sucesso no K-Pop

Katheryn Lee é uma americana que entrou no processo de treinamento com 14 anos, e deixou esse mundo pra trás.

O BuzzFeed News US entrevistou Katherine Lee, uma ex-participante da primeira temporada do reality show Produce 101. O programa junta mais de 100 candidatos pra treinarem e, no fim, formarem um grupo de K-Pop.

Produce 101

O programa começou a passar em 2016, e saiu do ar em 2019 depois de acusações de produtores do reality aceitarem suborno de produtoras de música. Os dois acusados foram presos em 2020.

No mundo do K-Pop, todos os Idols passam por um período de treinamento, podendo durar meses ou até anos. Na entrevista, Katherine contou sobre como foi sua entrada na indústria e esse período de treinamento.

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Katherine Lee

"Eu estava de férias com a minha família na Coréia do Sul e amava o grupo Exo na época. Eu pensei: 'já que estou aqui, vou me candidatar'. Eu não tinha experiência dançando ou cantando, foi mais pra me divertir. Isso foi antes do K-Pop ser uma coisa mundial, então o programa procurava por participantes internacionais. Meus pais falaram pra eu ir como uma experiência 'de verão', e acabei ficando e até cheguei a assinar um contrato.

Lembro que assim que cheguei, tive um choque cultural. Algumas pessoas achavam que eu estava sendo desrespeitosa pela forma que eu conversava, mas era só uma questão de ser americana. Eu errei bastante isso até aprender a forma certa de tratar as pessoas lá.

No começo do treinamento, as meninas já se conheciam, já tinham suas amigas, sabiam o que cada uma sabia ou não fazer. Então comecei treinando com os meninos. Nos primeiros meses, eu fiz um intensivão de coreano, e tinha aulas cinco horas por dia. Quando comecei a treinar com as meninas, consegui parar as aulas de coreano porque já estava fluente, e não tinha tempo pra fazer coisas fora do treinamento.

A cada mês, uma ou duas meninas eram eliminadas. Começamos com 20 meninas no nosso grupo e terminamos só com sete. Eu só comecei a participar das provas de eliminação mensais depois do terceiro mês, porque antes disso não seria nem justo pela minha falta de experiência."

"Os dias mais movimentados do treinamento foram uns dois meses antes do reality começar. Tinha uma regra que só podíamos sair do estúdio depois das 4h da manhã, e tínhamos que mandar mensagens no grupo de texto na hora que entrávamos e saíamos de lá. Eu conseguia começar o dia perto da hora do almoço, porque ainda estava de férias, mas quem estava na escola dormia durante as aulas.

Nessa época, eu tinha treinos vocais, aulas de rap, exercícios pra aumentar a estamina e aula de Pilates – acho que pra perder peso. Uma época, a companhia contratou um diretor pra nos ensinar a ficar em frente à câmera.

Era uma mentalidade de treinar, treinar, treinar. Eles pensavam que quanto mais tempo se passava no estúdio, maior era o esforço de cada um. Tinham câmeras lá, e lembro que muita gente dormia nos vestiários porque era o único lugar que não conseguiam nos ver descansando."

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Katherine também comentou na entrevista sobre a questão do corpo na indústria.

Katherine Lee

"Em alguns dias, todos se juntavam pra tirar as medidas de peso. Eu lembro de ficar só de top e shorts pra ter o menor peso possível. Teve uma época que não foi nada saudável, eu focava só no número de calorias e acabava comendo muito mal. Em certo ponto, me direcionaram pra um 'consultório de dietas', uma coisa que tem lá na Coréia. Me deram uma 'erva medicinal' pra tomar antes das refeições, que diminuía meu apetite e aumentava meu metabolismo, então o coração batia muito rápido. Na época, tinham me falado que era 'herbal', mas quando pesquisei sobre nos Estados Unidos, achei que eram pílulas dietéticas.

"Essa primeira dieta me fez perder muito peso, acho que o menor que alcancei foi 46, 47 quilos. Lembro que me sentia muito fraca, tanto que sentia tontura sempre que me curvava pra cumprimentar alguém. Parte do 'pacote' de emagrecimento do consultório eram procedimentos diretamente no corpo. Eu fiz um que injetavam gás com agulhas em partes específicas do corpo pra ajudar a quebrar a gordura, e conseguir perdê-la mais rápido. Teve outro que fiz algumas sessões que eram várias agulhinhas que davam pequenos choques, e diziam que isso ajudava a perder peso.

Eu não precisei ir ao hospital por alguns meses, porque depois de perder todo esse peso era só manter. Eu contava todas as calorias, então de manhã tomava um iogurte, no almoço comia pepino e alguns tomates-cereja e às vezes um ovo cozido, e de noite jantava um ovo cozido com batata doce. Eu tinha só 14 anos e estava tão determinada a me tornar uma Idol que topei passar por isso."

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Além da dieta, Katherine também ficou loira pra se apresentar no programa.

"Parte do meu contrato era que a companhia podia fazer minha imagem como quisesse. Então logo antes de 'Produce 101', me levaram a um salão e o cabeleireiro perguntou aos produtores o que devia fazer. Lembro de comentarem que queriam me fazer parecer mais com uma boneca americana, então tirei um cochilo enquanto faziam meu cabelo e acordei loira. Não era uma coisa que eu queria, mas fazia parte do pacote."

Depois do seu grupo ser eliminado no 5º episódio da série, Katherine contou que decidiu voltar aos Estados Unidos.

Katherine Lee

"Antes de começar o programa, eu conversei com a minha mãe sobre pelo menos terminar o Ensino Médio. Procurei escolas americanas na Coréia, mas nenhuma queria aceitar uma trainee, que dormiria na aula e mataria aulas. No processo, conversava com meus amigos de casa, e eles comentavam sobre coisas como aulas avançadas e os bailes de formatura, e comecei a sentir que estava perdendo tudo isso.

O meu maior problema era meu contrato, que era de sete anos. Minha mãe deu um jeito e foi até a Coréia com um tradutor pra resolver. No fim, falaram que eu poderia romper o contrato se quisesse, e não pagaria nenhuma multa desde que não entrasse em outra companhia."

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"A volta também foi difícil porque tive outro choque cultural. Eu era muito mais livre das formalidades. Eu me senti bem, sentia falta das aulas, fazia muito tempo que eu não lia, e acabei curtindo estudar naquele ano. Também podia comer o que bem entendesse, e ninguém ligava!

Teve uma época que uma ex-professora de canto da Coréia entrou em contato falando que uma companhia estava começando um grupo feminino, e estavam procurando talentos internacionais. Ela me perguntou se eu queria voltar, eu lembro de ter flashbacks e pensar tipo: 'Não, valeu!'".

No final, ela comentou como sua relação com K-Pop mudou.

Katherine Lee

"Antes, K-Pop era minha vida. Hoje, vejo só como um outro tipo de música. Eu gosto bastante de Mammamoo, mas só escuto porque gosto das músicas. Eu curtia o pacote completo: a personalidade, as músicas, as apresentações... Agora, se gosto ou não, tanto faz.

Apesar de sentir que era um ambiente tóxico que deixei pra trás, a experiência foi boa pra aprender a ser independente. Mas depois que saí, por outro lado, percebi que não penso mais em esconder quem sou."

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Você pode ler a matéria na íntegra em inglês aqui.

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