Editorial: Ignorar protestos é desonestidade. Isenção é tiro no pé

Jornais e emissoras de TV foram criticados por não fazer ampla cobertura dos atos de sábado (29). Se posicionar é preciso.

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A ausência de cobertura decente das passeatas deste sábado (29) nos veículos mais tradicionais e importantes do Brasil não é sintomática, é apenas fato: a cínica neutralidade jornalística brasileira é parte fundamental do que nos trouxe até aqui.

Se há realmente isenção, é irresponsável. Se há intenção, é desonesta. Se há estratégia, é oportunista. Ou tudo isso junto e misturado. Já deveria estar entendido que nos tempos de hoje isenção é tiro no pé.

Nunca foi tão importante termos em quem confiar ao receber notícias, o bom jornalismo nunca foi tão necessário, mas o que fazer quando veículos de comunicação, portais de mídia, entregam-se ao negacionismo oportunista? 

As plataformas de mídias sociais ao alimentar algoritmicamente a rivalidade entre os extremos também têm seu papel grande nesse cenário que estamos. Não importa o fato, importa o número de likes e compartilhamentos. As hashtags à direita ou à esquerda são monetizadas.

O "BuzzFeed Brasil" é um veículo que trabalha com engajamento, com humor e com informação. Temos jornalistas entre nós, mas não somos um veículo essencialmente jornalístico. Por isso mesmo é talvez ainda mais importante estabelecer nossos parâmetros. 

Liberdade de expressão, que deve ser protegida a qualquer custo, é diferente de liberdade de agressão. Fato é preponderante à opinião. E a opinião, se há um direcionamento político, tem de ser sinalizada, e não disfarçada de informação. 

Podemos ser contraditórios ao abordar assuntos de entretenimento, ao comentar uma série, ao torcer para um ou outro candidato do "BBB" ou falar da mais nova polêmica, contudo, em questões de sociedades e políticas não há dúvidas: somos aliados da diversidade, da sustentabilidade do planeta e das relações, do respeito ao próximo e, sem desrespeitar qualquer outra fé, temos sim fé na ciência. Na política, somos afirmativamente contra todos que se opõem a isso.

Entendemos que no passado já houve a necessidade de se trabalhar pela neutralidade jornalística, mas em nosso tempo isenção é tiro no pé. Com toda transparência, responsabilidade com nossos leitores e coerência com o que acreditamos, podemos afirmar sem medo de errar: Fora Bolsonaro.

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