Documentário sobre Elize Matsunaga acerta ao problematizar machismo, mas erra ao celebrizá-la

Entender as razões é importante, mas não apaga o crime bárbaro.

Cercada de expectativa desde que foi anunciada pela Netflix, a série documental sobre Elize Matsunaga estreou despertando as mais diferentes reações de quem assistiu.

Divulgação/Netflix

Para quem não se lembra, em 2012, a ex-enfermeira confessou ter matado e esquartejado o marido, Marcos Matsunaga, herdeiro de fábrica de alimentos. Para se livrar do corpo, colocou os pedaços em uma mala e jogou no mato.

Reprodução/Internet

A motivação foi a descoberta de um caso extraconjugal e, segundo ela, as constantes humilhações que sofria. Além disso, Marcos parecia prestes a acabar com o casamento e repetir a mesma história que viveu com Elize, mas com outra acompanhante de luxo.

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A abordagem deixa claro que Elize foi alvo de machismo durante seu julgamento e também por boa parte da mídia. O fato de ter sido garota de programa serviu como combustível para moralistas.

Reprodução/Internet

A todo o momento, amigos e família de Marcos dão a entender que ela estaria interessada no dinheiro dele e calculou tudo.

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Elize foi condenada a 19 anos de prisão. E, numa das saídas permitidas pela Justiça, concedeu entrevista para a Netflix.

De maneira bem sucedida, o documentário narra os abusos que ela sofreu, mostra o estilo de vida extravagante do casal, a investigação e o julgamento.

Está ainda repleto de personagens curiosos - para dizer o mínimo -, como o legista que fala que mortos são bonitos por dentro ou um dos amigos do milionário, que, trajando um figurino com direito a luvas, fala sobre o ex-casal de maneira ácida.

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Apesar de interessante, o documentário perde a mão ao contrabalancear o crime com suas motivações.

Não faltam, por exemplo, belas imagens acompanhando Elize olhando vitrines em um passeio no shopping ou contemplando a estrada, por exemplo. A estética, apesar de bela, se mostra completamente equivocada ao glamourizar alguém condenada por assassinato.

Divulgação/Netflix

Sim,, Elize foi vítima de uma relação tóxica e alvo de machismo durante a condução do caso. E todos esses temas precisam mesmo ser discutidos. Nenhum deles, no entanto, apaga o fato de que, depois de matar, ela esquartejou o marido.

Nem por isso o tratamento de suas cenas ilustrativas deve ser o de celebrizá-la.

Assim como todo preso, Elize tem pleno direito de ser ressocializada e sua história merece ser melhor entendida. E é nesse momento em que a série perde o equilíbrio, ao esquecer que, ainda que possivelmente no desespero, um crime bárbaro foi cometido.

Não é de hoje que crimes famosos são tratados como entretenimento, mas há um limite claro nestas abordagens.

Na própria Netflix, por exemplo, alguns documentários sobre serial killers têm dado mais voz às vítimas que aos assassinos, de maneira a não celebrizar criminosos. É importante entender a gênese de um crime, mas ele não pode ser apagado.

A discussão precisa acontecer, mas neste seriado alguns pontos importantes foram deixados de lado, como as consequências para a família e a filha de Marcos, abordadas sem a mesma profundidade.

Ainda assim, é uma boa iniciativa da plataforma de streaming.

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