Dediquei uma semana inteira a diferentes atitudes para aceitar melhor o meu corpo

E é por isso que você deveria tentar também.

Promovido por NaturaBR e Paula Mascarenhas

"O corpo nunca está completo, nunca está satisfeito e vive em estado de mudança ainda que seja para permanecer como sempre foi."

Li essa frase recentemente em um estudo e se tivesse sido em outro momento talvez não fizesse o menor sentido para mim. Perceber que nós mulheres (principalmente) tratamos o corpo apenas como um veículo moldável para nossa existência veio como uma epifania em uma semana que tive tantos outros estímulos sobre este mesmo assunto. Foram mensagens encorajadoras de ativistas em diferentes redes sociais, um vídeo do próprio BuzzFeed que me levou às lágrimas e até um almoço com uma grande amiga que devia ser "almoço feliz"... até ela ceder às suas próprias lágrimas por inseguranças em relação ao seu corpo. Procurei palavras cuidadosas pensando nas que me confortariam caso o desabafo fosse meu. Mas a verdade é que eu só encontrei perguntas. Afinal, vi o sofrimento e vulnerabilidade dela como se olhasse para um espelho.

Será que realmente é o corpo que nunca está satisfeito ou a nossa mente que não está está satisfeita com o que ele é?

E por que a mente manda no corpo e cria expectativas sobre ele se os dois deviam andar de mãos dadas, como unidade? Uma unidade que define o EU de cada um?

Por que eu tenho a necessidade constante de me prometer um "Projeto Verão DoisMileBolinha" com a finalidade de mudar o meu corpo se o meu corpo é uma extensão física do que eu sou naquele momento?

Aí um dia me chamaram de "raquítica". 

Pelo menos até onde me lembro sempre foi assim. Quando criança eu não comia absolutamente nada. O único cardápio possível para as minhas frescuras era um que incluía ovo mexido, arroz branco, macarrão cabelinho de anjo ~na manteiga~, pão PURO e, claro, docinhos. Eu era feliz mesmo com uma dieta tão reduzida, ria à toa e voltava para casa de canela roxa de tanto brincar com meus amigos.

Aí um dia me chamaram de "raquítica".

Eu tinha cerca de uns 9 ou 10 anos e devolvi com um "você também" sem nem saber o que aquilo significava. Mas ficou na minha cabeça até eu finalmente perguntar para um adulto, com voz doce e sorriso no rosto: "Tia Aninha, o que é raquítica?" A resposta veio como um tapa no estômago: "Raquítica é uma pessoa tão magra, mas tão magra, que parece até doente." Descobri que era o que as pessoas, sobretudo adultos, pensavam de mim. Viam minhas olheiras e ossos pontudos no ombro e achavam que eu era doente, frágil, que nunca "cresceria". Eu espremia meu braço contra meu corpo em fotos para que ficasse mais "largo" e desse a ilusão de algo mais "saudável".

Mas, quando completei 16 anos, parece que todas aquelas colheradas daquele tônico que estimulava o "crescimento" começaram a fazer efeito. Comecei a experimentar (e gostar!) de tudo. E dá-lhe um baita de um espichão. Fui de "criança raquítica" para "mulherão", "ossos largos" e até "gostosa". E de quebra ainda passava as minhas tardes inteiras treinando vôlei, basquete e futebol, que contribuíam para uma perna "sarada" e um abdômen "trincado". Eram 50 abdominais toda vez que eu perdia um gol — e perdi muitos. Foi uma rápida fase de aceitação do meu corpo em que o calor soteropolitano me fazia usar biquíni com a maior neutralidade do mundo. Aí veio São Paulo.

Meu corpo mudou nessa transição de capitais? Com certeza. Mas a mudança mais radical foi, na verdade, o meu olhar sobre ele.

Não era mais o meu corpo. Eram as partes do meu corpo. Pequenos fragmentos que podiam "melhorar" de acordo com os padrões que encontrei nessa selva de pedra. Na verdade O padrão, né? O padrão da magreza. Meus braços nunca foram muito finos, mesmo com 6 anos de vôlei, e agora pareciam ainda maiores e mais flácidos. Minha bunda e pernas eram grandes demais enquanto meus seios eram grandes de "menos". Minha cintura começou a me parecer muito reta, minha papada aparecia nas fotos, minhas celulites saltavam no meu contato com a cadeira e até a minha pele, desidratada, revelou manchas brancas que não eram ignoradas por aqui.

Quem me olha de fora pode até falar que "ué, mas você parece estar no padrão".   Essa pessoa não me enxerga em frente ao espelho puxando e repuxando esses fragmentos "errados" do meu corpo. 

Foi me comparando às outras pessoas de São Paulo que me encaixei na grande porcentagem de mulheres (em 2010, 47% das mulheres que participaram da Pesquisa Mulheres e Gênero no Espaço Público e Privado no Brasil da Fundação Perseu Abramo) que estão "insatisfeitas em algum grau" com seus corpos. E quais são as grandes personas non gratas dessas insatisfações? Cabelos brancos, estrias, celulite, gordura e pelos. O que é possível tirar, tira-se, o que não é possível, esconde-se.

Quem me olha de fora, com roupa, maquiada, sorrindo e rindo pode até falar que "ué, mas você parece estar no padrão". Essa pessoa não me enxerga em frente ao espelho puxando e repuxando esses fragmentos "errados" do meu corpo, trocando de roupa três vezes quando o quadril parece acentuado demais, fazendo 10 flexões toda manhã na tentativa de afinar o braço "para o verão". Meu olhar acentua os defeitos do meu corpo e, com medo e hesitação, resolvi desafiá-lo e voltar a conhecer meu corpo a fundo. Afinal, quanto menos se está à vontade com o próprio corpo, mais difícil é lidar e falar sobre ele. E chegou a hora de falar sobre ele. Por mim e por todas as outras pessoas que agora vivem na imagem do corpo, e não no corpo em si.

Mas só para ficar claro, esse não é um post de blogueira fitness. Tá?

O desafio estava lançado: ficaria uma semana inteira dando total atenção para o meu corpo, quer ele estivesse preparado para isso ou não. Li muito sobre o assunto para descobrir o que estava ao meu alcance para entender mais sobre meu corpo e como ficar mais à vontade nele. Amar soa utópico. Aceitar é um passo gigante e suficiente nesse momento. Ou quem sabe até agradecer por tudo que ele fez por mim ao longo de 26 anos?

Depois de ver muitos conteúdos sobre o assunto, comecei a entender um pouco sobre esse processo de aceitação. Foi aí que tracei um plano de uma semana do que funcionaria para mim com desafios diferentes a cada dia e um desafio que seria desenvolvido de pouquinho em pouquinho, todos os dias: fazer um detox das redes sociais (isso mesmo — uma semana sem Instagram e Facebook e olha que eu trabalho no BuzzFeed).

Vamos com medo mas vamos, né?

O primeiro desafio parecia ser light... mas acabou despertando sentimentos que foram além do esperado. 

O plano que tracei para o primeiro dia me parecia ser light… mas acabou despertando sentimentos que foram além do esperado. O primeiro desafio do dia era escrever uma carta ao meu corpo. Ela ocupou três páginas do meu caderno e me fez engasgar enquanto escrevia o trecho:

"Descobri que um dia sem comer não deixa a minha barriga chapada como antigamente mas um dia comendo tudo que eu quero faz a minha calça de cintura alta parecer sufocante. Talvez um pouquinho disso tudo já estivesse escondido nas minhas curvas de 16 anos. Você estava pronto para ser assim. Eu que não fui preparada o suficiente. E será que é possível se preparar suficientemente para se comparar? Por isso não te peço nada a não ser desculpa. ... Desculpa por te puxar e repuxar na frente do espelho e desculpa por te comparar com quem não viveu a sua história — a NOSSA história."

Depois reli. Aquela engasgada de novo. Fico pensando se ao final dessa semana vou reler com um outro olhar. E querer reescrever também.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Uma singela cartinha de três páginas.

Já a segunda parte do desafio era acionar pessoas próximas e pedir que me falassem três características que admiravam em mim. Mas sem pensar muito: aquelas top três que vêm à cabeça de cara. Parece bobo, mas é realmente fascinante ver que as coisas que mais chamam atenção dos outros sobre você são bem mais interessantes do que aspectos físicos. Faz um bem danado. Você se descobre. Foram esses os pontos de admiração que descobri:

Namorado, amiga de infância, irmã, amiga do trabalho e amigo da faculdade: cada um com seu ponto de vista sobre mim.

Depois dessas palavras, refleti sobre como o corpo é a expressão da individualidade e da singularidade. É através dele que eu SOU e as pessoas enxergam coisas maravilhosas em mim. Ele é junção de outros corpos, de outras histórias, de outras memórias. O corpo traz heranças familiares visíveis ou simbólicas. Nesse "exercício" vi que todo meu corpo é só meu mas também é pedaço do outro, já que as características que as pessoas traziam eram reflexos da minha experiência ao lado delas. E por que resistimos TANTO em aceitar que ele é bem melhor exatamente por isso?

Se Alexandrismo fosse uma religião, eu já estaria distribuindo panfleto pelas ruas.

Alexandra Gurgel é uma das maiores ativistas do YouTube e das redes sociais que fala em prol da aceitação e amor ao corpo. Para entrar logo de cabeça nessa experiência como um todo, combinei um bate-papo bem casual com ela. Coincidentemente ela havia acabado de lançar seu livro Pare De Se Odiar e ainda ganhei uma cópia assinada.

Todo mundo já passou por algum momento e algum sofrimento referente a este assunto independente da silhueta. 

Quase três horas de conversa e duas cervejas me fizeram perceber o quanto é importante falar sobre este assunto com alguém que já é craque. Alguém que através de sua história de vida e 26 anos de muitas dificuldades e incertezas, consegue, hoje, trazer tanta informação e inspiração para outras mentes e corpos angustiados. Em seu canal ela fala sobre sua experiência e os constantes altos e baixos da relação do "eu" com o "corpo". Todo mundo já passou por algum momento e algum sofrimento referente a este assunto independente da silhueta que tenha.

Ouvi atentamente enquanto ela falava e esbanjava seus trejeitos e, naquela pessoa que conheci há pouquíssimo tempo, vi um refúgio tão caloroso. Me abri, ela também se abriu com comentários ~em off~ e achamos sintonia em tantos questionamentos e opiniões. Acho que o momento que mais me marcou foi quando falei sobre minha neura com meu braço (entre outras) e sobre as (re)flexões matinais para afiná-lo. Ela me perguntou:

"Mas você faz isso por você ou pelo que os outros vão pensar? Tipo, se você estivesse numa bolha agora, sem ninguém por perto, você ainda faria as flexões?"

"Cara… não sei."

E realmente: eu não faço a menor ideia. A verdade é que ninguém nunca comentou sobre meu braço ser "largo". Inclusive, quando EU comento isso com as pessoas elas viram os olhos e falam: "Paula, pelo amor de Deus!". Eu criei uma realidade que as pessoas vão sim enxergar isso em mim e vão pensar coisas. De novo: eu estabeleci essa verdade com base na minha admiração e comparação com braços mais finos. Mas eu não ouvi diretamente de ninguém e, de alguma forma inusitada, entrou na minha cabeça.

Pelo menos Xanda aliviou um pouco minha cabeça angustiada: "Responder 'não sei' é bom. O importante é você não ter a resposta ou algo já enraizado na sua cabeça. A partir do 'não sei', você começa a questionar tudo. E foi questionando tudo que eu comecei a me entender."

Que comecem os questionamentos da semana.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil, Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Xanda, eu e a tatuagem fodástica dela que precisei registrar.

Hoje foi meu dia de princesa e, logo, dia de rainha do meu corpo. Mimei ele de todos os jeitos que pude e, por mais que seja inviável repetir dias inteiros dessas atividades, valeu a pena demais me permitir isso por um dia, pelo menos. Primeiro deixei meu corpo acordar sozinho, sem interferência de NADA e às 9h20 ele falou bom dia para o mundo. Não foi tão mais tarde do que o horário que eu normalmente acordo durante a semana para ir trabalhar, mas a ausência do alarme resultou em uma disposição fora do comum.

Troquei de roupa e fui escolher um lugar gostoso para tomar café. Qual era a premissa para minhas refeições? Comidas deliciosas que fossem também nutritivas e saudáveis. Acabei focando minha busca em restaurantes orgânicos que voltassem à simplicidade de ingerir alimentos menos processados e mais focados em nutrientes isolados. Para a manhã, escolhi um vegano que fala sobre a importância da aproximação com a natureza, com harmonia e respeito.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil, Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Açaí orgânico batido com banana, cacau e sweet granola, pão de mandioquinha na chapa com geleia de maracujá e, claro, Alexandra Gurgel.

Aproveitei o começo da manhã para fazer aquilo que todo mundo sempre fala horrores: liberar endorfinas. Dizem que exercícios aeróbicos pela manhã dão disposição pro dia inteiro e, por mais que eu não seja uma "pessoa matinal", pode ser que meu corpo seja, né. Caminhei 1km do restaurante até em casa e depois corri mais 4km. QUATRO KM. Em outros momentos (leia-se, duas vezes na vida) eu consegui um ou dois quilômetros e olhe lá. Depois de 4km fiquei derretida e só conseguia pensar no quanto eu tenho inveja das minhas amigas que saem do Muay Thai com a franja sequinha no lugar. Eu estava ENSEBADA depois dessa atividadezinha que me levou mais longe do que eu acreditava. Mas a sensação era boa demais.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil, Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Endorfinas: CHECK horrores. E isso no meu cabelo é suor sim.

Optei por um banho friozinho (que é ótimo para pele!) e passei bastante hidratante — escolhi o Hidratante Corporal Sobert Lima e Flor de Laranjeira da Natura pra hidratar e refrescar já que ele fica na geladeira e hoje estava quente demais! Depois coloquei o Spray Corporal com a mesma essência da Natura e segui para mais um almoço cheio de cor. Estava desejando uma proteína depois de tanta atividade física e acabei descobrindo uma jambalaya de camarão sem glúten e com biomassa de banana verde que era um sonho concretizado. Comeria todos os dias SEM PENSAR — e não só para pronunciar esse nome muito doido em voz alta.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil, Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Eu muito feliz com minha maravilhosa jambalaya de camarão e suquinho verde enérgico.

Olha, se meu dia acabasse por aí já estaria bom demais. O que são sei lá quantos quilos me puxando para baixo quando eu me sinto leve como uma pena? Mas conseguiu ficar melhor. Marquei uma massagem em um spa TOP DAS GALÁXIAS (não dá nem pra ficar mal acostumada) e depois de um ritual preparatório onde tomei um chá branco com maracujá delicioso e escolhi um aroma que por si só já era muito relaxante, entrei em um transe de uma hora e vinte minutos que só pode ser descrito como orgástico. Mas não de um jeito sexual. Mesmo. Ainda bem, né, porque enquanto a Sandra me acordava no fim dessa experiência, eu limpava a baba que estava pendurada da minha boca. Depois ainda pude relaxar por diversos ambientes da casa — que queria que fosse minha.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil, Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil, Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Uma tarde muito delicinha com direito a cama de massagem e ambientes relaxantes (e chiques demais pra mim!).

Poderia ter encerrado com mais um jantar incrível? Poderia. Mas eu estava tão em paz que não quis guerra nem com comida. Me rendi ao sono e soube que, naquele momento, meu corpo inteiro estava sorrindo.

(Mas não exatamente...)

Quando pesquisei diferentes exercícios e atividades que ajudassem a mulher a reconhecer o "poder" e a força de seu corpo, vi indicações de aulas como yoga, artes marciais e até bambolê. Mas o que mais me chamou atenção foi o pole dancing porque algumas colegas de trabalho fazem há algum tempo e percebi uma grande evolução na experiência delas. Sim, elas conseguem fazer bem mais movimentos e sequências do que antes, mas vai muito além disso. Enquanto que nas primeiras aulas elas se cobriam com legging e camiseta, hoje elas abraçam os tops e "hot pants". Me pareceu um verdadeiro processo de aceitação do corpo.

É sobre o que seu corpo consegue fazer,  não o que seu corpo é ou deve ser esteticamente. 

Fui mais a fundo e pelo que li e conversei com outras pessoas, esses são cinco motivos pelos quais o pole dancing é realmente empoderador:

  1. Faz com que a força feminina seja algo legal, apesar de termos ouvido desde cedo que mulheres não devem ser "fortes".

  2. Sororidade <3

  3. Ao mesmo tempo que é um trabalho de dança e não PRECISA ser sensual, você também tem a opção de se conectar ainda mais com seu corpo e libertar a sua sensualidade através dos movimentos e permitir que isso transborde para a sua vida pessoal. Em outras palavras: você encontra a sua sensualidade e consegue expressá-la do jeito que fizer você sentir-se mais confortável.

  4. Você passa a julgar menos, tanto em relação a estética quanto em relação a "comportamento". O pole dancing hospeda todas as silhuetas e personalidades possíveis. E todo mundo é igual na hora de se pendurar na barra.

  5. E finalmente e mais importante: é sobre o que seu corpo CONSEGUE fazer, não o que seu corpo É ou DEVE SER esteticamente.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Se que nem eu você não imaginava como era um salto de 20 cm, aqui está!

Fiz a aula com um professor chamado Wes, que calçava um salto de 20cm na hora que entrei na sala, e uma menina chamada Duda, que parecia bem mais novinha do que eu. Ela já tinha feito algumas aulas e Wes era um expert, então já bateu aquele friozinho na barriga de saber que eu poderia "ficar para trás". Mas não foi assim mesmo. O desafio existiu, mas a paciência e o incentivo das pessoas que estavam na aula fazia tudo parecer mais fácil. Não teve espacate no ar, mas teve uma perna cruzada em cima da outra e várias piruetas completadas que despertaram aquele sentimento de "CONSEGUI? CONSEGUI!".

Tive a boa ideia de filmar uma parte da sequência que fizemos ao final e entendi tudo que havia lido antes da experiência. Ver o vídeo fez eu perceber meu corpo como o corpo "ideal" que criei na minha cabeça? Nem tanto. Mas ao fazer diferentes movimentos eu pude observar o trabalho dos meus músculos e a forma que saltavam quando eu estava na ponta do pé ou pendurada no ar fazendo força nos braços.

Meu corpo faz TUDO ISSO por mim diariamente e, raramente, eu paro e aprecio de verdade.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Eu realmente não sabia da existência da saliência desse músculo da minha panturrilha na menor pontinha de pé.

A meta do quinto dia era de repensar o meu armário de acordo com uma perspectiva de aceitação do meu corpo e a valorização dele. Óbvio que, para isso acontecer, minha primeira missão foi tirar tudo aquilo de sei lá quantos anos atrás que eu guardava na esperança de "voltar a usar caso eu emagrecesse". A verdade é que é possível emagrecer, engordar e mudar o corpo no geral, mas ele provavelmente nunca vai ser o mesmo corpo que já foi um dia — e isso não necessariamente é ruim. Doeu um pouco ver roupas que já amei tanto passando desta para melhor, mas foi reconfortante pensar que elas dariam espaço para outras que tivessem mais a ver comigo agora. E meu eu de agora, a combinação do físico e mental, é completamente diferente do meu eu de 10 anos atrás.

A verdade é que é possível emagrecer, engordar e mudar o corpo no geral, mas ele provavelmente nunca vai ser o mesmo corpo que já foi um dia — e isso não necessariamente é ruim. 

Depois veio a parte boa. Chamei um "consultor de imagem e estilo" (muito chique!), o Victor Yuuki, para analisar minha silhueta, meu estilo e meu guarda-roupa e pensar em novas combinações que funcionassem para mim e que me tirassem da zona de conforto e dos looks automáticos do dia a dia.

Paula Mascarenhas / BuzzFeed Brasil

Ouvi dizer que bagunça é sinônimo de gente brilhante.

Incrível ver ele ir tão certeiro em peças chave que eu NUNCA pensaria em combinar, mas que fazem todo o sentido. Mix de estampas, mix de texturas e até ganhei chokers novas a partir de cintos que nunca tinham saído da gaveta. Três horas depois tínhamos dez looks "novos" para mim. Alguns com peças que eu não usava há anos, outros com peças que eu usava TODO DIA mas jamais daquele jeito, e todos perfeitos para o meu "eu" atual.

Daniel Arashiro / BuzzFeed Brasil

Dez looks novos a partir de um armário velho e eu toda modela.

Com esses looks montados e MUITA fome, fomos atrás do último look: algo novo que ele escolhesse para mim a partir de tendências, do meu estilo e, claro, da minha silhueta. Algo que o Yuuki sentiu muita falta no meu armário foi de uma calça realmente alta, já que esse modelo destaca minha cintura e faz o meu quadril ficar show. Eis o look final:

Daniel Arashiro / BuzzFeed Brasil

Look quase 100% novo (sapato e colar de outras épocas!).

Crianças, tentem SIM isso em casa. Um look novidade faz toda a diferença para a auto estima. E um look novidade pode estar perdido no meio das suas roupas velhas também.

Daniel Arashiro / BuzzFeed Brasil

Eu muito feliz com 'brusinha' nova.

O intuito era despadronizar o padrão atual. 

Penúltimo dia da experiência de uma semana significava voltar às redes sociais e encontrar novos estímulos para fazer com que minha experiência conectada fosse mais positiva. A Gurgel me falou que leu em uma pesquisa que apenas 30 minutinhos de redes sociais são suficientes para fazer você se sentir mal por um dia inteiro (quem sabe até mais?).

Apesar de não ser seguidora ativa de celebridades e muito menos "blogueiras fitness", vi que existiam algumas pessoas principais que desencadeavam o questionamento sobre meu corpo e a comparação aos mínimos detalhes. Já que eram pessoas conhecidas e não figuras públicas, optei por "esconder" as publicações delas e inundei meu Instagram com pessoas de silhuetas diferentes e perfis com mensagens mais positivas no geral.

O intuito era "despadronizar" o "padrão" atual.

Agora eu estaria sendo impactada, diariamente, por corpos diferentes e variados que representam o que o mundo realmente é — e não só o que ele tenta disciplinar para que seja.

Alguns dos perfis de mensagens positivas e aceitação que comecei a seguir.

E sem dúvidas o mais difícil.

Dizem que quando você se abre para as coisas elas também se abrem para você. E foi quando eu estava pensando nos meus sete desafios e como encerraria a experiência que a @mariaribeiro_photo me adicionou no Instagram e mandou uma mensagem explicando o seu trabalho. Ela trabalha com fotografia de mulheres, criando imagens que trazem uma nova visão das narrativas dos nossos corpos e pensadas com sensibilidade, beleza e poesia.

As poses não eram poses. Eram falas do meu corpo. 

De acordo com Nana Queiroz, "A Maria não é uma fotógrafa, ela é uma artista completa. A forma como ela capta o espírito de cada mulher e conduz um ritual de encontro de nós mesmas com o nosso corpo é de uma beleza indizível. E ela consegue registrar isso na forma de imagens tão sensíveis que me emociono toda vez que vejo."

Depois da minha vivência com ela, endosso todas essas palavras.

Marcamos nossa sessão em um dia de garoa paulistana que não tirou o aconchego do momento. Ribeiro me convidou a estar em contato total com meu corpo através de técnicas de respiração, aromaterapia e lindas palavras. Deitada no escuro, fui estimulada a perceber o meu corpo, a senti-lo, a apreciá-lo, a pensar em tudo que ele significou para mim em 26 anos de vida. Depois desta meditação cuja intensidade me causou até um pouco de vertigem, as fotos começaram.

As poses não eram poses. Eram falas do meu corpo. Ele se expressava e se comunicava através de movimentos sutis que a Maria captava sem pensar. Sem piscar, também, porque se piscasse o momento poderia passar. Ela não dirigia, conversava. Trazia à tona meu eu que havia começado com um pouco de timidez e se soltava a partir das pequenas identificações. Foi fora do quarto, no jardim da casa e em contato com a água da chuva e a terra no chão, que ela sentiu emoção ao ver a minha transição.

Foi lá que percebi que eu estava em casa e minha alma estava na pele, sentindo-se livre em contato com o mundo externo.

Maria Ribeiro

Ali meu corpo era inteiro. Meu corpo era eu. Eu era ele. Cada pequena imperfeição compôs essa série de fotos que fazem eu me arrepiar e me movem com tamanha essência, verdade e sensibilidade.

Maria Ribeiro

Eu que nunca me considerei fotogênica e sempre comemorei as fotos que saí "bem", olhei para este "ensaio" e só enxerguei beleza.

Afinal, a beleza de verdade está em se olhar e realmente se enxergar.

Obrigada, Maria.

A semana e o desafio chegaram, oficialmente, ao fim, mas sei que tudo que foi plantado nesses dias só poderá ser colhido daqui a algum tempo. Afinal, entender o corpo e aceitá-lo como uma extensão do seu eu e não apenas como um veículo para seu "eu" existir, é um trabalho que requer atenção, cuidado e frequência. É um trabalho em eterno progresso. É sujeitar seu "eu" a estar em eterna evolução. Aprendi que o mais importante é não estabelecer verdades e sim levantar perguntas para tudo que nos cerca e tudo que nos envolve.

É questionar o mundo à sua volta e o contexto em que você vive para começar a entender o que se passa dentro de você. E, a partir disso, passar a externalizar a sua verdadeira essência.

Aprendi que o mais importante é não estabelecer verdades e sim levantar perguntas para tudo que nos cerca.

Nas palavras da Maria durante a minha vivência:

"Colocar a mulher contra o seu próprio corpo é uma forma cruel e misógina de enfraquecê-la. Estabelecer padrões de beleza inatingíveis e irreais é fazer com que a mulher tenha, permanentemente, um sentimento de que ela não é boa o suficiente, que não se esforça o bastante, que está sempre aquém do desejado (...) E quem dita o espaço que ocupamos na vida? Quem dita o tamanho de nossas almas? O tamanho de nossas lutas, de nossas história, de nossas conquistas? A sociedade está muito acostumada a nos julgar. O tempo todo. O tempo inteiro. Nunca tá bom. Nada tá bom. Nunca. O sistema tem medo da mulher que se ama."

Se eu posso deixar algumas palavras finais é que realmente não existe certo ou errado nessa grande luta pela sua própria aceitação. Hoje eu acordei e não fiz as minhas flexões para o "verão". Pode ser que amanhã eu faça, 10 ou 20. O que importa é que a partir de toda esta conversa com meu corpo, minha cabeça vai estar a mil, inundada por estas palavras também de Maria, artista:

"Minha alma é grande, meu corpo pode ser maior. Que o mundo crie espaços que acolham todos os corpos, todos os tamanhos, todas as curvas, todas as paixões."

E que "acima do peso", "abaixo", com gordura localizada no culote, braço flácido, barriguinha estufada ou até dentro do "padrãozinho", eu possa transbordar o que eu sou, vestindo a minha pele, vivendo o meu corpo.


Inspirada no texto "Querida Garota do Maiô Verde", a Natura pensou na linha Tododia que convida as mulheres a participarem do movimento #VivoMeuCorpo e começarem a acreditar que todo corpo já é perfeito apenas por existir e sempre vai estar pronto para viver o verão.

Design por Raquel Vitorelo

Fotos por Paula Mascarenhas, Daniel Arashiro e Maria Ribeiro

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