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Como uma simples vaquinha online mostrou o privilégio de youtubers brancos
Spartakus, youtuber negro que fala sobre racismo, pediu ajuda aos seus seguidores para consertar seu computador, mas foi alvo de críticas que youtubers brancos não receberam.

Aline Ramos
Há 5 anos
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Este é o Spartakus, um youtuber que explica de maneira didática várias questões relacionadas à raça e sexualidade.
Um conteúdo necessário, mas menos popular que tantos outros, por isso não gera tanto lucro como o de outros youtubers.
Acontece que o computador que ele usa para editar seus vídeos quebrou. Spartakus contou o problema para os seus seguidores no Instagram, que sugeriram uma vaquinha para que pudessem ajudar de alguma forma para o conserto.
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A vaquinha deu tão certo que arrecadou mais do que precisava. O Spartakus doou o dinheiro que sobrou para o projeto "Voz da Comunidade".
Obrigado a todos que me ajudaram a juntar dinheiro pra consertar meu computador! O valor arrecadado foi R$ 6.635,00. O conserto custa 3,600 como está na nota fiscal em anexo e os R$ 3.035,00 restantes foram doados para o @vozdacomunidade pra fazer uma ação no Morro do Alemão. 💖 https://t.co/HMnfwTHt6p
A história poderia ter terminado aí, mas o @bchartsbc, um fórum focado em cultura pop, fez um tuíte tratando o caso como se o Spartakus estivesse se aproveitando da militância para bancar seus luxos.
Youtuber Militante pede 4 mil reais para arrumar iMac para “não ficar atrás dos brancos” e gera discussão na internet. https://t.co/xmxvfVSNgV https://t.co/q4fdgCvY9d
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O @pandlernews, da mesma linha do BCharts, também fez o mesmo. E, além desse tuíte, fez vários outros tirando sarro do Spartakus.


Reprodução / Twitter
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O que ficou bem claro é que as algumas pessoas aproveitaram o momento para atacar o Spartakus por ser negro e falar de racismo. Outros youtubers já fizeram o mesmo e não receberam as mesmas críticas.
esse tweet da bcharts só abriu portas pra um monte de gente branca que tem ódio de militância atacar youtuber negro e vocês lgbts caíram no meio junto, um monte de youtuber faz vakinha pra ajudar o canal mas ninguém nunca fala nada pq será?
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Como o caso da @Sybylla_, que mantém um site sobre ficção científica e já fez uma vaquinha para manter o projeto sem ter sido criticada por isso.
O @spartakusvlog tá certíssimo na crítica que ele fez aos brancos e em fazer uma vaquinha pra continuar produzindo. Privilégio branco foi EU fazer uma vaquinha pra continuar produzindo na internet e ninguém me chamar de oportunista por isso.
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Muitos youtubers e produtores de conteúdo em geral pedem apoio financeiro aos seguidores por meio do Padrim, uma plataforma de financiamento recorrente. E o youtuber @bernardofala lembrou que essas pessoas também não são criticadas por essa atitude.
Eu to tentando entender a treta com o @spartakusvlog. Se ele fizesse um padrim, como uma porrada de youtuber faz, tá tudo bem. Mas pedir dinheiro pra consertar computador não pode porque militante só é militante de verdade se usa PC do show do milhão. Foda, viu?
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Outro youtuber negro, o @musaraujo, decidiu explicar de forma bem didática por que o Spartakus quis consertar o seu computador, que é um da Apple, "para não ficar atrás dos brancos".
Tô vendo algumas pessoas chamando o @spartakusvlog de "oportunista" por ter feito uma vaquinha pra consertar o macbook, pra não ficar "atrás dos brancos". Queria manifestar aqui o meu apoio ao Spartakus, porque não sei se as pessoas entendem o que isso significa. [Thread]
O Murilo contou toda a sua saga desde quando começou a participar de eventos do próprio YouTube e percebeu que a diferença de estrutura técnica entre youtubers negros e brancos era gritante.
Eu chego com a minha câmera, que já é profissional, mas ainda é básica, e tenho uma dificuldade enorme de produzir conteúdo pra vlogs, por exemplo, porque o meu equipamento não me atende tão bem pra isso. Raramente registro os eventos onde eu vou.
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Ele também lembrou do perrengue que passou quando precisou produzir conteúdo para uma marca. E falou como sente a desigualdade quando vê outros criadores de conteúdo que, além de equipamentos muito bons, possuem dinheiro para contratar uma equipe para editar os vídeos.
E aí quando você olha ao redor, vê os tais "top creators", todos brancos, usando as melhores câmeras, as melhores lentes, os melhores estabilizadores, com dinheiro sobrando pra pagar os seus editores contratados, que também farão vídeos usando os melhores equipamentos.
Por isso, quando o Spartakus fala sobre ficar atrás dos brancos, ele fala sobre uma questão real.
Dá pra fazer um bom trabalho com equipamentos de menor qualidade? Dá. Tem gente que edita no celular. A gente faz o que pode, até na base da gambiarra, e consegue entregar. Mas se eu tivesse a opção de não passar os perrengues que a gente passa, eu escolheria SEM A MENOR DÚVIDA.
Os youtubers negros passam por muitos perrengues, mas se pudessem, não escolheriam passar por isso.
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A @mslaryhill lembrou que a Nátaly Neri, outra youtuber negra, já contou que a mãe quase perdeu o apartamento por falta de pagamento do aluguel. E que muitos influenciadores negros, por mais que façam sucesso, passam por muitos problemas difíceis nos bastidores.
A Nátaly Neri já fez várias viagens pro exterior, mora num apê super bonitinho e mesmo assim contou num vídeo que a mãe quase perdeu o apartamento dela por atrasar o pagamento, ninguém sabe dos b.os que tão por trás da vida de um preto que "faz sucesso" e tem a família pra ajudar
O próprio Spartakus decidiu gravar um vídeo explicando por que fez a vaquinha, contando como conseguiu comprar um computador caro como um MacBook e como viajou para a Europa.

Ele deixou claro que realmente não tem dinheiro e que não é rico, mas que faz de tudo para economizar e investir no seu canal, que atualmente é seu meio de vida.
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Como acompanho o trabalho desses youtubers e já tive um blog para falar sobre raça e gênero, dei meu pitaco e expliquei por que não é fácil ser um youtuber negro:
ser um youtuber negro não é fácil por vários motivos: - o brasil é racista - falar de racismo afasta possíveis parcerias com marcas - marcas que só lembram dos negros quando é novembro - existem grupos organizados de haters para atacar qualquer youtuber negro que faz sucesso
Cansado por ter que passar por tudo isso justamente em novembro, um mês marcado pelo dia da Consciência Negra (20), o Spartakus fez um desabafo em seu Instagram falando como é ser um youtuber negro.
"Ser um youtuber negro é criticar o racismo, mas não demais, senão o opressor se incomoda e o criticado é você.
Ser um youtuber negro é ganhar visibilidade por colocar o dedo na ferida e não fechar contratos pelo mesmo motivo.
Ser um youtuber negro é, mesmo vivendo as consequências da escravidão, não ter o direito de pedir ajuda, afinal a empatia nesse país foi substituída pela meritocracia.
Ser um youtuber negro é não poder juntar dinheiro pra ter um equipamento de qualidade ou viajar pois esse é um luxo que só a casa grande pode ter.
Ser um youtuber negro é ver outros pretos darem mais credibilidade a páginas racistas do que a quem sempre esteve ao seu lado.
Ser um youtuber negro é ver seus irmãos se calarem diante da opressão com medo de virarem mais um alvo.
Ser um youtuber negro é ser obrigado a ser EXTREMAMENTE DIDÁTICO, porque se o outro não te entende você é automaticamente vitimista, mimimizento e oportunista.
Ser um youtuber negro é lutar sempre pela sua causa e mesmo assim ter sua militância questionada a todo momento.
Ser um youtuber negro é esperar acharem um motivo qualquer pra destilar o ódio e o racismo que sempre esteve guardado mas que é injustificado.
Ser um youtuber negro é ser alvo de outras minorias, dos racistas e da extrema direita, afinal nunca foi tão interessante descredibilizar a nossa luta.
Ser um youtuber negro é ir contra um país que tem orgulho de ser representado por gente racista.
Ser um youtuber negro é RESISTIR.
Orgulho de ser um youtuber negro.
#MêsDaConsciênciaNegra"
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