Como os diálogos de Romero Jucá viraram a 1ª crise do governo Temer
Entenda em 2 minutos como as conversas reveladas pela "Folha de S.Paulo" sobre pacto entre novo governo e STF para barrar a Lava Jato, o que aconteceu até agora e quais são os próximos passos.
O jornal "Folha de S.Paulo" revelou nesta segunda-feira (23) que o ministro Romero Jucá (Planejamento) sugeriu um pacto, entre o novo governo de Michel Temer, com o STF (Supremo Tribunal Federal) para deter o avanço das investigações da Lava Jato. A conversa ocorreu semanas antes do impeachment com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Reprodução Folha de S.Paulo
Jornal trouxe trechos da conversa mantida entre Romero Jucá e Sérgio Machado.
Os dois tratam do avanço da Lava Jato:
Jucá: "Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria".
[...]
Machado: "Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
Jucá: "Só o Renan [Calheiros] que está contra esta porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado: "É um acordo, botar Michel, num grande acordo nacional".
Jucá: "Com o Supremo, com tudo".
Machado: "Com tudo, aí parava tudo".
Jucá: "É. Delimitava onde está pronto".
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Romero Jucá foi um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, substituiu Michel Temer na presidência do PMDB e, hoje, ocupa um ministério estratégico no ajuste que o presidente interino quer fazer nas contas públicas. Na Lava Jato, ele é suspeito de ter recebido recursos de propina de empreiteiras com contratos na Petrobras e também no sistema elétrico, como Belo Monte.
Adriano Machado / Reuters
Romero Jucá em entrevista coletiva em Brasília nesta segunda (23): ele nega que tenha dito que pretendia parar a Lava Jato.
Em entrevista coletiva, Romero Jucá diz que suas falas foram descontextualizadas e disse não ver razão para deixar o cargo.
Esta é a primeira crise no núcleo duro do governo Temer. O presidente interino ainda não tomou a decisão se mantém ou afasta Jucá do cargo.
Ueslei Marcelino / Reuters
Pela proximidade com o presidente interino e a força dentro do governo, Romero Jucá virou o pivô da primeira crise grave do governo Michel Temer, empossado há apenas 11 dias.
No seu discurso de posse, Temer prometeu não deixar ninguém agir para "enfraquecer a Lava Jato".
UPDATE: Romero Jucá anunciou no final da tarde desta segunda (23) sua licença do Ministério do Planejamento.
A promessa de Jucá de ficar no governo durou apenas cinco horas.
O motivo da conversa ter sido gravada pelo próprio Sérgio Machado é um possível acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República. A informação ainda não confirmada. O temor entre caciques do PMDB em Brasília é que novas gravações surjam.
Agência Petrobras / Via Fotos Públicas
O ex-presidente da Transpetro Sergio Machado procurou Jucá em Brasília e gravou, ele mesmo, a conversa.
Quem é: Sérgio Machado foi deputado federal (1991-1995) e senador (1995-2002) pelo PSDB. Filiado ao PMDB em 2002, disputou o governo do Ceará e perdeu. Depois foi nomeado por Lula na presidência da Transpetro por indicação do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que recebeu R$ 500 mil de Sergio Machado. Anotações de Costa, o primeiro grande delator da Lava Jato, trazem referências à Transpetro e a Sergio Machado. Segundo investigadores da Lava Jato, Machado pode ter operado na subsidiária de transporte da Petrobras um esquema de corrupção similar ao petrolão.
O caso incendiou as redes sociais. Num raro momento de concórdia: blogueiros de direita e esquerda pediram a cabeça de Romero Jucá.
O PDT vai ingressar terça-feira (24) com uma representação no Conselho de Ética do Senado pedindo a cassação do senador Romero Jucá. Ele se licenciou no mandato para assumir o Planejamento.
Já o PSOL vai requerer à Procuradoria-Geral da República que peça a prisão do senador por obstrução da Justiça.