Como Hillary Clinton dominou o primeiro debate presidencial nos EUA

A candidata democrata estava preparada. O republicano só estava improvisando.

Até agora, esse é resumo da ópera: Hillary Clinton é uma excelente oradora e ela resolveu mostrar isso. Donald Trump foi o centro das atenções em boa parte dos debates entre os pré-candidatos do Partido Republicano, mas foi Hillary quem ditou o ritmo e o tom do evento desta segunda (26).

Trump adotou uma postura mais defensiva — e frequentemente caiu na armadilha armada por Hillary, que explorou bastante o histórico do seu adversário.

A frase que talvez melhor represente o debate foi quando Hillary resolveu promover seu site e Trump a interrompeu dizendo: "E deem uma olhada no meu também". (Outra que chegou perto: quando Hillary disse para Trump "entrar na discussão e falar mais coisas sem sentido")

Hillary se beneficiou muito da cobertura pré-debate, cujo foco principal foi se Trump apareceria ou não de calças. Ela não tropeçou ao subir no palco. Ela comprovou que não está morta, acabando com os boatos de que sua saúde estaria comprometida (e que minha mãe ouviu de uma colega um dia desses).

Mas esse é o ponto central da candidatura de Hillary. O nível da oposição parece ser muito baixo.

De fato, Hillary tem se mostrado uma candidata fraca — que não conseguiu trazer para o seu lado, até agora, todas as pessoas que achamos que votariam nela (pessoas que votaram em Barack Obama e pessoas perplexas com a candidatura de Trump). A primeira candidata do Partido Democrata não conseguiu utilizar a profunda desigualdade de gênero em sua campanha.

No entanto, Hillary Clinton já participou de 35 debates presidenciais — 26 em 2007 e 2008, 9 em 2015 e 2016. Ela tem evitado coletivas de imprensa, porém já concedeu diversas entrevistas a jornalistas com um perfil similar ao de Lester Holt (o moderador do último debate) — Charlie Rose, David Muir, Matt Lauer etc. Ela passou a vida inteira trabalhando com política no governo federal e tem um profundo conhecimento sobre o assunto.

Donald Trump, por outro lado, foi tão bem quanto era de se esperar para alguém que estava apenas improvisando. Ele levantou alguns bons pontos, sobre o Nafta e os aeroportos, por exemplo. Mas, na maioria das vezes, apenas reagiu, gastando a maior parte de seu tempo respondendo aos ataques de Hillary.

Esse contraste talvez não tenha ditado a vitória de Hillary no debate desta segunda. Na verdade, está cada vez menos claro quem "venceu". Na maior parte da minha carreira como repórter, isso foi decidido na sala de imprensa. No entanto, a partir de 2012, o Twitter substituiu a sala de imprensa e dentro de uma hora já era possível declarar um vencedor.

No entanto, em um país cada vez mais dividido e com uma imprensa cujas decisões parecem menos relevantes, talvez tenhamos de aguardar até que os milhões de espectadores que acompanharam o debate tomem uma decisão.

Ainda assim, se Hillary despencar nas pesquisas — e se conseguir não cair mais do palanque —, ao menos terá o consolo de que o debate foi o melhor possível para ela.

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