Como este fotógrafo ser confundido com um ladrão mostra que o racismo é um crime perfeito

Porque apenas as vítimas enxergam o crime.

Na tarde da última segunda-feira, dia 9, o fotógrafo Emerson Castro, de 18 anos, teve a sua viagem rumo ao cinema interrompida brutalmente pelo racismo. Segundo ele, assim que entrou num ônibus na região central do Rio de Janeiro, onde mora, com destino à Botafogo, uma moça branca se assustou com a sua presença.

Mesmo assim, ele se sentou no banco de trás e seguiu viagem.

Quando o ônibus se aproximou do ponto em que iria descer, a mesma moça levantou e se dirigiu à porta. Assim que o ônibus parou, Emerson também se levantou para descer. Desconfiada, ela deu passagem para que ele descesse primeiro.

Quando ambos já estavam na Rua Visconde de Ouro Preto, cada um seguiu para um lado. Porém, Emerson logo percebeu que seria melhor mudar o seu caminho para utilizar a faixa de pedestre. Quando virou para trás, a moça olhou para ele e novamente se espantou.

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O fotógrafo também explicou que após chamar a moça de "lixo racista", ela fez questão de voltar para negar a acusação e que isso o deixou ainda mais nervoso. Sem provas e tendo apenas o vídeo em que está exaltado, Emerson se deu conta de que, mesmo sendo uma vítima, ninguém mais enxergaria o crime cometido contra ele.

Reprodução / Twitter / Via Twitter: @EmersonCcastro

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É por histórias como a de Emerson que o antropólogo Kabengele Munanga passou a chamar o racismo de um "crime perfeito".

“O racismo é um crime perfeito no Brasil porque quem o comete acha que a culpa está na própria vítima. Além do mais, destrói a consciência dos cidadãos brasileiros sobre a questão racial. Nesse sentido, é um crime perfeito”.

Emerson chegou a ir à 10ª Delegacia Policial de Botafogo para fazer um Boletim de Ocorrência, mas foi orientado a fazer o registro virtualmente. Depois, ele conversou com sua advogada, que disse ser muito difícil provar o que aconteceu. Por isso, o fotógrafo desistiu de denunciar o crime do qual foi vítima.

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O fotógrafo também temia por sua própria vida, pois poderia passar de vítima a criminoso.

"E se tivessem policiais naquela rua e eu fosse detido, como provaria minha inocência? E se pessoas que já foram assaltadas e estão traumatizadas estivessem ali e se unissem para me espancar?", questionou.

Por outro lado, segundo o porteiro do prédio, a moça que aparece no vídeo já foi assaltada três vezes naquela rua. Emerson entende o quanto a situação é delicada, mas mantém a sua opinião de que ela JAMAIS deveria fazer aquilo com ele. "Eu sou humano como ela".

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Quando ele postou o vídeo no Twitter, não imaginava que a história ganharia tanta repercussão. Criticado por desejar a morte da mulher, Emerson garante que se arrepende – e MUITO – do que disse.

"Eu não desejo a morte dessas pessoas porque são elas que precisam ver a revolução dos negros. Que precisam ver os negros crescendo e chegando onde elas nunca imaginaram que iriam chegar", concluiu Emerson.

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